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Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes

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Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes: direção de Guy Ritchie AÇÃO INTELIGENTE, COM MUITO CHARME E ESTILO Esbarrei em Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes , filme dirigido em 1998 por Guy Ritchie, há dois anos; o título entrou na grade da TV por assinatura, justo num horário em que decidi me estatelar no sofá e zapear sem rumo. Não tenho o hábito de pescar (muito menos a habilidade necessária), mas me senti como se tivesse apanhado um peixão. O filme já tinha mais de 20 anos e ainda exalava muito frescor; misturava ação, comédia, violência e gângsteres ingleses, numa história inusitada, com narrativa ágil, repleta de diálogos inteligentes e uma linguagem audiovisual bem elaborada. Ah, e como esbanjava estilo!           Uso os verbos no passado na tentativa de expressar meu entusiasmo enquanto aproveitava, no conforto do sofá, aqueles momentos mágicos para qualquer cinéfilo; o filme continua exalando frescor e ainda carrega motivos de sobra entusiasmar....

Conclave: suspense papal voltado para os não católicos

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Conclave: direção de Edward Berger NARRATIVA MANIPULADORA, PERSONAGENS CARICATOS Esta crônica contém spoilers . Um tal alerta logo de início não é comum aqui na Crônica de Cinema; por regra, evito revelar detalhes cruciais, para não estragar a surpresa dos cinéfilos. No entanto, Conclave , filme de 2024 dirigido por Edward Berger, pisa num terreno tão escorregadio que decidi fazer uma exceção. Caso você ainda não tenha assistido a esse filme, sugiro que o faça antes de continuar a leitura; mas peço que tenha em mente alguns pontos importantes: o filme descarta o conteúdo religioso, para se concentrar nos meandros da disputa eleitoral de um novo papado; esboça os embates políticos de forma caricata e desenha personagens estereotipados; escancara um viés progressista, com uma narrativa manipuladora em favor de mudanças na Igreja; desconsidera a fé como princípio vital que há dois mil anos rege o catolicismo – ao contrário, enaltece a dúvida!           Se você...

Lee: era modelo, virou correspondente de guerra

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Lee: dirigido por Ellen Kuras TESTEMUNHA OCULAR DOS HORRORES DA GUERRA Para muitos cinéfilos, a grife Kate Winslet virou selo de qualidade. A face da atriz estampada nos cartazes promocionais de qualquer produção, tornou-se um estímulo para apertar o play. Foi o que fiz ao me deparar no serviço de streaming com o filme Lee , dirigido em 2023 por Ellen Kuras. Nos primeiros minutos, porém, um calafrio percorreu minha espinha: percebi que poderia ser submetido a uma desgastante ladainha feminista! Mas, não! Cheguei aos créditos finais satisfeito com o cinema bem realizado.           Minha preocupação se justifica, porque se trata de uma cinebiografia da modelo e fotógrafa Lee Miller, que durante a Segunda Guerra Mundial atuou como correspondente da edição britânica da revista Vogue; foi uma das primeiras a entrar nos campos de concentração e fotografar os horrores do Holocausto. Encarou situações difíceis no front e passou por tragédias pessoais, enquanto carr...

A Paixão de Cristo: respeitoso, honesto e intenso

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A Paixão de Cristo: direção de Mel Gibson CINEMA OFERENCENDO UMA EXPERIÊNCIA RELIGIOSA INTENSA As palavras sempre me fascinaram. Quando criança, costumava me entreter com uma brincadeira singela: escolhia uma palavra qualquer – por exemplo, “banana” – e a repetia mentalmente milhares de vezes. Depois de um certo tempo, as sílabas deixavam de fazer sentido e a palavra perdia qualquer vínculo com a imagem que representava; virava uma massa pastosa, capaz de assumir outra forma qualquer – por exemplo, a de um carro vistoso que acabara de passar na rua. Chamar um carro de banana, agora era perfeitamente possível. Vejam só! Ainda que tivessem vida própria, as palavras estavam sujeitas aos meus desmandos.           Em escala global, isso também aconteceu com a palavra “paixão”. Vinda do latim “passione”, significava o ato de suportar um sofrimento; de sofrer por causa de algum mal, seja no corpo, seja na alma. Foi o que Jesus Cristo experimentou durante a crucifi...

Cabrini: cinebiografia da padroeira dos imigrantes

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Cabrini: dirigido por Alejandro Monteverde HISTÓRIA INSPIRADORA, CINEMA CONSISTENTE Ao se deparar nos serviços de streaming com o filme Cabrini , dirigido em 2024 por Alejandro Monteverde, alguns cinéfilos talvez se ponham de sobreaviso. Primeiro, porque aparenta se tratar apenas de uma obra religiosa. Segundo, porque o diretor e o roteirista são os mesmos que assinaram Som da Liberdade , filme que dividiu opiniões por toda a mídia. Terceiro, porque é uma realização da Angel Studios, a produtora especializada em temas cristãos, responsável pelas bem-sucedidas campanhas de crowdfunding que viabilizaram sucessos estrondosos, como a série The Chosen .           Se você é apegado aos valores conservadores, é claro que esses pontos que listei já são motivos sobrados para apertar o play. Minha crônica, entretanto, está voltada para os cinéfilos interessados em cinema de qualidade. Cabrini é uma obra consistente, com sólidos atributos cinematográficos, narrativa...

Reagan: uma cinebiografia bem realizada

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Reagan: filme de Sean McNamara A LUTA SEM TRÉGUAS CONTRA O COMUNISMO Bem, caro leitor, devo começar esta crônica com um alerta: Reagan , dirigido em 2024 por Sean McNamara, é o pior filme daquele ano; na opinião da imprensa que cobre a cena de Hollywood, bem entendido! Segundo os sites agregadores de resenhas, 82% dos críticos odiaram o filme. Já o público, gostou! 98% dos que assistiram dão notas altas e o recomendam. Este cronista está com o público, assisti dia desses e adorei!           É claro que Reagan fala mais diretamente aos admiradores do 40º presidente dos Estados Unidos e aos que defendem sua cruzada contra o comunismo. Junto com Margareth Thatcher e o Papa João Paulo II, ele compôs o triunvirato que derreteu a cortina de ferro e pôs fim ao pesadelo da Guerra Fria. Já os progressistas de plantão, talvez prefiram assistir às produções mais alinhadas aos seus apetites ideológicos – Marighellas, Bacurais e outros tais... É do jogo!    ...

O Troco: thriller catártico e divertido

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O Troco: direção de Brian Helgeland SÓ NOS RESTA TORCER PELO ANTI-HERÓI Jamais assisti a O Troco numa sala de cinema. Dirigido em 1999 por Brian Helgeland, o filme não despertou meu interesse na época; imaginei que contasse uma daquelas histórias rasas de vingança. Tempos depois, tropecei com o título na grade de programação da TV por assinatura e constatei que é isso mesmo. Mas o longa irradia tanto charme que se torna divertido e envolvente. Adorei! Claro que o vingativo protagonista não tem a profundidade de um Hamlet, que vê seu mundo corroído por causa de um desejo de vingança cultivado com afinco. Porém, tem o carisma de um Mel Gibson implacável, determinado a recuperar o que lhe roubaram.           Se citei Hamlet , foi apenas para lembrar que histórias de vingança não são necessariamente rasas; para além da explosão emocional, os autores sempre encontram densidade para alicerçar o desejo de desforra: a necessidade de obter reparação pelos danos; de...

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