Dois Papas: realidade dramatizada e ficção plausível
Dois Papas: filme dirigido por Fernando Meirelles
PERSONAGENS MIDIÁTICOS E GENTE DE CARNE E OSSO
O filme Dois Papas, dirigido em 2019 por Fernando Meirelles, traz uma cena que se tornou, para mim, inesquecível: é quando os dois protagonistas dividem, em pé, numa salinha do Vaticano, uma deliciosa pizza marguerita! Provavelmente veio direto de alguma pizzaria no entorno da Praça São Pedro. Veio acondicionada numa caixa quadrada. Certamente foi preparada com massa de fermentação lenta, com aquele saboroso molho pomodoro, folhas de basílico fresco...
É claro que exagero! Há muito cinema de qualidade em Dois Papas. Devo dizer que Fernando Meirelles nos brindou com um filme envolvente, salpicado por cenas que aparentam banalidade, mas que só fizeram ressaltar o quão extraordinários são seus personagens: dois homens à frente do catolicismo, que reinam no centro do mundo, mas se esforçam para comunicar simplicidade. Um prefere Fanta Laranja, o outro precisa de ajuda para usar o Wi-Fi. Um gravou peças musicais no mesmo estúdio dos Beatles, o outro enche a boca quando fala de futebol. Um era teólogo combativo do marxismo na Igreja, o outro veio contaminado de progressismos. Um se sentiu tão pressionado por denúncias que decidiu renunciar, o outro segurou a batata quente e tomou gosto pelo pontificado.
De volta à cena da pizza, quero usá-la para mostrar como a trivialidade se tornou o elemento motor do filme. Ela é usada como recurso narrativo, para fisgar o espectador e trazer a sensação de que espiamos a intimidade de celebridades que se expõem em carne e osso, feito gente comum. Nesse processo, o ótimo trabalho dos atores foi decisivo. Com a naturalidade de quem participa de um reality shows de eliminação, eles se envolvem em diálogos longos e muito bem construídos, ambientados num Vaticano deslumbrante – a Capela Sistina, iluminada como nenhum turista jamais viu, é deslumbrante! Mas antes de continuar, precisamos conhecer a sinopse do filme:
É claro que exagero! Há muito cinema de qualidade em Dois Papas. Devo dizer que Fernando Meirelles nos brindou com um filme envolvente, salpicado por cenas que aparentam banalidade, mas que só fizeram ressaltar o quão extraordinários são seus personagens: dois homens à frente do catolicismo, que reinam no centro do mundo, mas se esforçam para comunicar simplicidade. Um prefere Fanta Laranja, o outro precisa de ajuda para usar o Wi-Fi. Um gravou peças musicais no mesmo estúdio dos Beatles, o outro enche a boca quando fala de futebol. Um era teólogo combativo do marxismo na Igreja, o outro veio contaminado de progressismos. Um se sentiu tão pressionado por denúncias que decidiu renunciar, o outro segurou a batata quente e tomou gosto pelo pontificado.
De volta à cena da pizza, quero usá-la para mostrar como a trivialidade se tornou o elemento motor do filme. Ela é usada como recurso narrativo, para fisgar o espectador e trazer a sensação de que espiamos a intimidade de celebridades que se expõem em carne e osso, feito gente comum. Nesse processo, o ótimo trabalho dos atores foi decisivo. Com a naturalidade de quem participa de um reality shows de eliminação, eles se envolvem em diálogos longos e muito bem construídos, ambientados num Vaticano deslumbrante – a Capela Sistina, iluminada como nenhum turista jamais viu, é deslumbrante! Mas antes de continuar, precisamos conhecer a sinopse do filme:
Dois Papas abre em 2005, quando o então arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio (Jonathan Pryce), vai ao Vaticano para a eleição do novo Papa. Joseph Ratzinger (Anthony Hopkins) é aclamado Papa Bento XVI, mas sete anos depois está no centro dos escândalos financeiros que assolam a Igreja Católica. Bergoglio decide retornar a Roma, dessa vez para apresentar sua renúncia. Os dois se encontram no Palácio de Castel Gandolfo e trocam confidências pessoais. Aproveitam também para debater sobre a vida religiosa. Ratzinger, porém, rejeita a renúncia de Bergoglio – ela poderia fragilizar ainda mais a imagem da instituição. Ambos se encontram no dia seguinte, agora na Capela Sistina, onde Ratzinger revela que tem intenção de renunciar. Pede a Bergoglio que se prepare para a responsabilidade de se tornar o novo líder da Igreja Católica. Um ano depois, Bento XVI renuncia e Bergoglio é eleito seu sucessor.
O roteirista Anthony McCarten, que também escreveu o roteiro de A Teoria de Tudo e de Bohemian Rhapsody, soube dosar os atributos de cada personagem: carisma de um lado e agudeza intelectual do outro. Também soube transformar a mídia num dos personagens de maior importância no filme, aqui utilizada como recurso para costurar uma narrativa ágil e verossímil. Na direção, Fernando Meirelles parece ter se deliciado com as mágicas digitais. Mesclou cenas reais com encenações sobre telas verdes, a ponto de não nos deixar distingui-las. Usou a câmera de forma gestual e se valeu de diferentes formatos de tela para situar o espectador ao longo de toda a narrativa.
Em Dois Papas, o domínio da linguagem do cinema é brilhante! Mesmo ciente de como a história vai terminar, o espectador é conduzido com segurança e não se sente perdido na sucessão de cenas em flashback, que narram as trajetórias dos dois protagonistas. Segue encantado até o final do filme. As cenas que gostaria de ver estão todas lá, apresentadas com respeito e bom humor – a que mostra como Bergoglio abraçou a fé católica, a que revela como reagiu quando descobriu que poderia ser o novo Papa, a que escancara como o clero assimilou seu estilo diferente de liderar e suas identificações com as causas progressistas...
Os católicos se reconhecem no filme. Os não católicos não precisam armar o espírito para o embate teológico. Os de direita não precisam erguer bandeiras. Os de esquerda não precisam bradar reivindicações. Ninguém precisa questionar crenças e convicções para apreciar o filme Dois Papas. É uma produção divertida, que nos captura com facilidade e entretém por praticamente duas horas, enquanto examina visões pessoais sobre fé, religiosidade, Deus, as pressões da vida mundana...
Qual é o problema desse filme? Bem... Ele surge assim que começam os créditos finais: dá uma vontade de comer a tal pizza quadrada, com aquele molho de tomate delicioso e aquela massa italiana, que deve ser de fermentação lenta... Alguém sabe dizer onde encontro uma pizza dessas?
Qual é o problema desse filme? Bem... Ele surge assim que começam os créditos finais: dá uma vontade de comer a tal pizza quadrada, com aquele molho de tomate delicioso e aquela massa italiana, que deve ser de fermentação lenta... Alguém sabe dizer onde encontro uma pizza dessas?
Resenha crítica do filme Dois Papas
Ano de produção: 2019
Direção: Fernando Meirelles
Roteiro: Anthony McCarten
Elenco: Anthony Hopkins, Jonathan Pryce, Juan Minujín, Sidney Cole, Lisandro Fiks, Thomas D. Williams e Maria Ucedo
Humm! Pizza italiana! Molho, mussarela (da boa) e manjericão! Não precisa de mais nada... Aqui em São Paulo você encontra umas assim, só vai faltar a Capela Sistina. Rsrs
ResponderExcluirAí já é pedir demais!!!!!
ResponderExcluirHummm... em SP, tem pizza muito boa, mesmo! Concordo com a Julia... rsrsrs...
ResponderExcluirAssistimos o filme e, realmente, o Meirelles conseguiu deixar o filme bem humano, mostrando que, independente da função de Papado, existe a pessoa humana ali, administrando os contraditórios, vivendo a mundaneidade e a evolução de seus próprios conceitos e paradigmas. Excelentes comentários, Fábio!
Legal, Vanilza! Elogiar filmes bons é fácil!!!!
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