Eu Sou a Lenda: remake de a Última Esperança da Terra
Eu Sou a Lenda: filme dirigido por Francis Lawrence
RUAS DESERTAS, SILÊNCIO PERTURBADOR, O VENTO SOPRANDO... ACHO QUE JÁ VI ESSE FILME!
Ah, o verbo alienar! Como ele é cruel quando usado para rotular os cinéfilos. Nos faz parecer fúteis, desligados do mundo, hipnotizados por uma espécie de feitiço audiovisual, lançado por uma tal indústria da alienação. Foi assim que me senti quando recebi a ligação de um amigo, que tentava lembrar o título de um filme:
– Você, que passa o tempo todo vendo filmes, como é mesmo o nome daquele ator... que fez aquele filme... junto com aquela atriz... – disparou meu amigo, emendando uma sinopse. Logo deduzi se tratar de Eu Sou a Lenda, dirigido em 2007 por Francis Lawrence, um filme de ficção científica do qual muitos devem ter lembrado naquele começo de pandemia.
É claro que nas perguntas do meu amigo, percebi subentendida a palavra alienação, empregada para insinuar que não tenho consciência da realidade política e social ao meu redor. Bobagem! Não dei a mínima e fui respondendo com paciência. O problema é que tenho péssima memória para nomes de atores, atrizes e diretores – lembro apenas dos essenciais. Felizmente, já não preciso ostentar conhecimento enciclopédico: agora tenho uma internet à disposição, para esclarecer as miudezas.
Em poucos cliques encontrei o nome do personagem interpretado por Will Smith no filme Eu Sou a Lenda. Trata-se do virologista Robert Neville. No mesmo instante me lembrei dele caminhando sozinho por uma cidade fantasma, habitada apenas por caças ligeiras e feras selvagens. Que imagem poderosa naquelas primeiras semanas de pandemia! Traduziu à perfeição o que senti no dia em que precisei por os pés fora de casa, com a missão de abastecer a geladeira. Encontrei meu bairro deserto! Nada de carros circulando, só o silêncio aterrorizante.
Estou exagerando? É claro que sim! Mas consegui o efeito que desejava: mostrei o tamanho da angústia que senti ao ver as ruas do meu bairro vazias e abandonadas. Minha apreensão na hora de dobrar as esquinas. Minha ansiedade para chegar logo ao supermercado e descobrir se ainda haveria mercadorias nas prateleiras. Quem assistiu ao filme fez nessas poucas linhas a mesma caminhada. Pegou carona na minha analogia e viajou pelas ruas vazias do próprio bairro. Chegou a ouvir a trilha sonora pulsando, sincronizada com seu batimento cardíaco. Por isso, agora pode dizer com segurança:
– Sim... Eu sei como você deve ter se sentido!
Esse é o poder do cinema! Ele nos dá a oportunidade de encarar experiências emocionais intensas, de vivenciar situações inusitadas, de confrontar realidades com as quais não nos deparamos no dia-a-dia. Aprendemos com o cinema e trazemos seus ensinamentos na nossa bagagem de vida. E o mais importante: usamos o cinema como referência para nos comunicar. Para compartilhar emoções. Para nos fazer entender.
Imerso em um filme, não me sinto alienado. Ao contrário, sinto minha consciência operando em alto nível. Não vejo filmes para me afastar do mundo, mas para me enfronhar nele. Mesmo os filmes que servem apenas para distrair me puxam para a realidade ao meu redor. Esse tipo de relação intensa, mantenho não só com o cinema, mas também com a literatura, com as histórias em quadrinhos... Com todas as artes narrativas.
Mas voltando ao filme Eu Sou a Lenda, vamos recordar a sinopse: Robert Neville (Will Smith) se torna o único sobrevivente em Nova Iorque, depois que um vírus letal – desenvolvido para ser a grande cura do câncer – sai de controle e dizima a população. A pandemia também transforma alguns poucos em zumbis vampirescos, condenados a viver nos escombros da cidade, escondidos da luz solar. Por sorte, Neville é um virologista e continua suas experiências na tentativa de encontrar a cura para essa nova doença. Por sorte, ele não está sozinho, outros gatos pingados aparecem para ajudá-lo, como a brasileira Anna (Alice Braga). Por azar, os violentos zumbis continuam se proliferando e saem à noite para tentar acabar com os últimos vestígios de humanidade.
O roteiro de Eu Sou a Lenda foi assinado por um time, comandado por Akiva Goldsman. À frente de um incontável número de produções hollywoodianas – a desse filme, inclusive – ele é o tipo de profissional que está o tempo todo nos sets de filmagem, envolvendo-se em cada cena. É no calor das filmagens que ele toma as decisões que vão definir a narrativa e impactar no resultado final da obra.
Vale lembrar que esta é a terceira adaptação do livro homônimo de Richard Matheson, publicado em 1954. A primeira foi Mortos Que Matam, de 1964, dirigido pela dupla Sidney Salkow e Ubaldo B. Ragona e estrelado por Vincent Price. Depois veio A Última Esperança da Terra, de 1971, dirigido por Boris Sagal e estrelado por Charlton Heston.
Entre os cinéfilos, o debate sobre qual é a melhor versão é inevitável. Porém, lembremos que uma adaptação literal do conciso romance original seria um produto cinematográfico limitado. Desenvolvimentos e acréscimos são inevitáveis e sempre desagradam os puristas. Não importa! Pelo menos temos três versões para apreciar, analisar, criticar e saborear, acomodados no sofá com o controle remoto na mão!
Resenha crítica do filme Eu Sou a Lenda
Ano de produção: 2007Direção: Francis Lawrence
Roteiro: Mark Protosevich, Akiva Goldsman, John William Corrington e Joyce Hooper Corrington
Elenco principal: Will Smith, Alice Braga, Dash Mihok, Charlie Tahan, Salli Richardson-Whitfield, Willow Smith, Darrell Foster, Emma Thompson, April Grace e Joanna Numata
Excelente crônica. Também penso assim, aliás Arte é esse instrumento de reconhecimento do mundo e no mundo.
ResponderExcluirObrigado, Angela. Concordo com você, e para ser ainda mais filosófico, falaria em mundos: o mundo interno e o externo.
ResponderExcluirÓtima crônica. Gosto mais da versão de 75.
ResponderExcluirAh, Douglas, também gosto mais do filme com o Charlton Heston. Lembro que assisti quando garoto e fiquei impressionado!
ExcluirÓtima crônica. Gosto mais da versão de 75.
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