Jojo Rabbit: drama temperado com doses de humor
Jojo Rabbit: filme dirigido por Taika Waititi
O DESCABIDO AMIGO IMAGINÁRIO DÁ PERSONALIDADE AO FILME
Outro dia, Ludy e eu decidimos assistir ao filme Jojo Rabbit, dirigido em 2019 por Taika Waititi. Minha mulher não tinha opinião formada – não fora contaminada pelo falatório em torno desse vencedor do Óscar de melhor roteiro original. Quanto a mim, bombardeado pelos palpites dos cinéfilos nas redes sociais, acreditava que assistiria a uma comédia animada, engajada nas causas antinacionalistas e feita para destilar ironia ácida sobre o nazismo atroz e ultramilitarizante, que robotizou a juventude alemã durante a Segunda Guerra Mundial. Estava enganado. Descobri que o filme não é propriamente uma comédia, mas um drama sensível e criativo, bem temperado com doses generosas de humor - uma comédia dramática, afinal! A história que nos conta é consistente e focada em personagens cativantes.
Depois do filme me perguntei:
– Mas por que raios continuo me empanturrando nesse banquete de críticas e resenhas especializadas que infestam os sites de cinema? – Às vezes, parece que só servem para incutir pré-julgamentos e pontos de vista parciais, sempre politicamente engajados, sobre temas externos ao filme. Quando fui dormir, fiz uma promessa: daqui em diante, antes de assistir a qualquer filme, só vou me deter na ficha técnica e na sinopse. As críticas especializadas vão ficar para depois, quando já tiver fruído a obra e conseguir me distanciar dos posicionamentos ideológicos e preferências estéticas.
Se ainda não conhecesse os detalhes do filme, provavelmente não teria terminado com a sensação de ter sido enganado. Não ousaria classificar Jojo Rabbit como uma comédia – assim como reluto até hoje em rotular A Vida é Bela como expoente do gênero. Não quero parecer intolerante, mas aquilo que o mercado costuma classificar como comédia possui vários subgêneros – paródia, sátira, pastelão, humor negro, sitcom… Não consigo inserir esse filme em nenhum deles. Para mim, o que saltou aos olhos foi o drama, e pronto!
Jojo é um personagem criativo e encantador – vivido com propriedade por Roman Griffin Davis, um garoto com o qual é muito fácil se identificar. Sua mãe, encarnada em Scarlett Johansson, transborda carência e afetividade. O garotinho rechonchudo, que se revela seu verdadeiro melhor amigo, tem tanto carisma – com aqueles óculos e rosto redondos – que rouba todas as cenas em que aparece. A judia oculta na casa de Jojo é viva, inteligente e fraternal. O amigo imaginário de Jojo é… Hitler!
É claro que Adolf Hitler, como amigo imaginário de um garoto de dez anos, soa repugnante, mas desperta interesse e funciona bem como motor da narrativa. Aliás, é o elemento que dá personalidade ao filme. Façamos um exercício de cinema: vamos tirar Taika Waitti da jogada e pensar como seria Jojo Rabbit sem o neozelandês na direção e sem um amigo imaginário que abra as portas para o universo interno do garotinho ingênuo e criativo. Vamos pegar a mesma história, os mesmos atores, as mesmas locações e figurinos... E o resultado seria um filme muito diferente. Talvez mais amargo e grave. Certamente não tão bem-humorado.
A ideia de Taika Waititi é ótima. Ao usar um Hitler infantilizado como gancho narrativo, apropriou-se do direito de ser irônico sem correr o risco de acabar mal interpretado. Por tabela, infantilizou o nazismo e todos os personagens anestesiados por ele, Escarneceu da histeria coletiva que hoje nos parece tão absurda quanto inconcebível. Logo na cena de abertura, isso fica muito claro – não vou me aprofundar aqui, porque um spoiler estragaria a surpresa para os que ainda não assistiram ao filme.
Gostei que em Jojo Rabbit o diretor Taika Waititi resistiu à tentação de ser panfletário. Ao invés disso, pegou o caminho mais difícil: fez apenas um filme sobre um garotinho e seu universo. Acertou o foco das suas lentes em Jojo e deixou que o espectador acompanhasse sua trajetória de amadurecimento. O menino de dez anos, ingênuo e tristemente vulnerável às atrocidades da guerra, no final das contas, não precisa de amigos imaginários. Já pode se virar muito bem com os que conquistou ao longo do filme.
Depois do filme me perguntei:
– Mas por que raios continuo me empanturrando nesse banquete de críticas e resenhas especializadas que infestam os sites de cinema? – Às vezes, parece que só servem para incutir pré-julgamentos e pontos de vista parciais, sempre politicamente engajados, sobre temas externos ao filme. Quando fui dormir, fiz uma promessa: daqui em diante, antes de assistir a qualquer filme, só vou me deter na ficha técnica e na sinopse. As críticas especializadas vão ficar para depois, quando já tiver fruído a obra e conseguir me distanciar dos posicionamentos ideológicos e preferências estéticas.
Se ainda não conhecesse os detalhes do filme, provavelmente não teria terminado com a sensação de ter sido enganado. Não ousaria classificar Jojo Rabbit como uma comédia – assim como reluto até hoje em rotular A Vida é Bela como expoente do gênero. Não quero parecer intolerante, mas aquilo que o mercado costuma classificar como comédia possui vários subgêneros – paródia, sátira, pastelão, humor negro, sitcom… Não consigo inserir esse filme em nenhum deles. Para mim, o que saltou aos olhos foi o drama, e pronto!
Jojo é um personagem criativo e encantador – vivido com propriedade por Roman Griffin Davis, um garoto com o qual é muito fácil se identificar. Sua mãe, encarnada em Scarlett Johansson, transborda carência e afetividade. O garotinho rechonchudo, que se revela seu verdadeiro melhor amigo, tem tanto carisma – com aqueles óculos e rosto redondos – que rouba todas as cenas em que aparece. A judia oculta na casa de Jojo é viva, inteligente e fraternal. O amigo imaginário de Jojo é… Hitler!
É claro que Adolf Hitler, como amigo imaginário de um garoto de dez anos, soa repugnante, mas desperta interesse e funciona bem como motor da narrativa. Aliás, é o elemento que dá personalidade ao filme. Façamos um exercício de cinema: vamos tirar Taika Waitti da jogada e pensar como seria Jojo Rabbit sem o neozelandês na direção e sem um amigo imaginário que abra as portas para o universo interno do garotinho ingênuo e criativo. Vamos pegar a mesma história, os mesmos atores, as mesmas locações e figurinos... E o resultado seria um filme muito diferente. Talvez mais amargo e grave. Certamente não tão bem-humorado.
A ideia de Taika Waititi é ótima. Ao usar um Hitler infantilizado como gancho narrativo, apropriou-se do direito de ser irônico sem correr o risco de acabar mal interpretado. Por tabela, infantilizou o nazismo e todos os personagens anestesiados por ele, Escarneceu da histeria coletiva que hoje nos parece tão absurda quanto inconcebível. Logo na cena de abertura, isso fica muito claro – não vou me aprofundar aqui, porque um spoiler estragaria a surpresa para os que ainda não assistiram ao filme.
Gostei que em Jojo Rabbit o diretor Taika Waititi resistiu à tentação de ser panfletário. Ao invés disso, pegou o caminho mais difícil: fez apenas um filme sobre um garotinho e seu universo. Acertou o foco das suas lentes em Jojo e deixou que o espectador acompanhasse sua trajetória de amadurecimento. O menino de dez anos, ingênuo e tristemente vulnerável às atrocidades da guerra, no final das contas, não precisa de amigos imaginários. Já pode se virar muito bem com os que conquistou ao longo do filme.
Resenha crítica do filme Jojo Rabbit
Ano de produção: 2019
Direção: Taika Waititi
Roteiro: Taika Waititi
Elenco: Roman Griffin Davis, Thomasin McKenzie, Taika Waititi, Rebel Wilson, Stephen Merchant, Alfie Allen, Sam Rockwell e Scarlett Johansson
Muito bom Fábio! , mas eu ainda o classificaria como comédia
ResponderExcluirAh, entendo seu ponto. Há muitos elementos de comédia no filme e a abordagem irreal e jocosa em torno de Hitler é, de fato, uma boa tirada. Mas o que sobra de drama foi suficiente para me emocionar e canalizar minha atenção. É uma questão pessoal que acabei desenvolvendo com esse filme.
ExcluirMuito bom Fábio! , mas eu ainda o classificaria como comédia
ResponderExcluirHá tanto sofrimento no filme que é impossível classifica-lo como comédia
ResponderExcluirExcelente crônica de um filme bem interessante e dramático com doses generosas de humor negro...
ResponderExcluirSim, as tiradas de humor ajudam a aliviar a tensão do enorme sofrimento que pesa sobre os personagens.
ExcluirEu gosto de ver o filme e depois ler as críticas.
ResponderExcluirObrigado!
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