Busca Implacável: o ator Liam Neeson faz a diferença num filme de ação

Cena do filme Busca Implacável
Busca Implacável: filme dirigido por Pierre Morel

UM PRODUTO HONESTO, QUE CUMPRE A PROMESSA DE BOM ENTRETENIMENTO

O que há de cativante no filme Busca Implacável? Ele foi dirigido por Pierre Morel em 2008 e contabilizou enorme sucesso comercial. A história de um pai feroz, lutando para resgatar a filha das mãos de traficantes de mulheres, oferece oportunidades para construir várias cenas de ação e suspense. Luc Besson e Robert Mark Kamen souberam aproveitá-las: escreveram um roteiro objetivo, simples e eficiente. Porém, o grande trunfo tornou-se o ator Liam Nesson, que emprestou seu nome e reputação, em troca do ingresso num nicho de mercado bastante lucrativo.
       Perseguições a pé e de carro, socos e pontapés, tiros, facadas, explosões, mortes… Muitas mortes! Não há surpresas em Busca Implacável e talvez seja essa a razão para que ele resulte tão cativante. O espectador prepara seu balde de pipoca, abre a garrafa de refrigerante, aperta o play e por uma hora e meia se deixa conduzir sem esboçar qualquer resistência. Tudo transcorre como o esperado e termina como era de se desejar: com um final feliz, óbvio e ululante.
        O ponto central de Busca Implacável, que ancora o seu sucesso de público, está na invencibilidade do personagem. Bryan Mills (
Liam Neeson), um ex-agente da CIA, se mete em todas as confusões possíveis e vence todos os obstáculos. Nada nem ninguém é páreo para ele. Um a um, os miseráveis desalmados – indignos de serem chamados de humanos – são destruídos. O mocinho não sofre uma única derrota e deixa para o espectador apenas uma preocupação: a de tentar adivinhar de que forma o mal será derrotado na próxima cena.
        Nesse caldo de autoestima elevada, há um outro ingrediente que faz o carisma do filme: a atmosfera sofisticada e cosmopolita de Paris. Ah, Paris! Que cenário perfeito para essa patuscada americana, que invade o velho mundo sem pedir licença. E ainda tem a presença de beldades esguias do leste europeu e criminosos tatuados, com sotaque eslavo. Liam Neeson confere ao seu personagem mais desenvoltura e domínio territorial do que teriam os próprios franceses.
        O ator Liam Neeson, aliás, à época do lançamento do filme Busca Implacável, aparecia para o público com o brilho conquistado em A Lista de Schindler. Isso despertou atenção: por que um consagrado ator dramático apostaria seu nome e reputação para estrelar um filminho de ação? Ora, porque isso fez um bem danado, para ele e para o filme! Seus olhares e microexpressões foram usados com sabedoria para conferir densidade dramática nas pausas estratégicas entre as cenas de ação. Um ator que sabe atuar trouxe credibilidade para um personagem inverossímil.
        Roman Polanski tentou fazer o mesmo em Busca Frenética, de 1988, valendo-se do histórico de Harrison Ford com os filmes de ação. Também usou o submundo parisiense como cenário para uma trama improvável, mas seu roteiro engatou aqui e ali, num emaranhado de complexidades. Além do mais, seu personagem não era invencível, mas um cidadão comum, confrontado com situações extraordinárias. O filme resultou não muito palatável para o grande público – embora tenha qualidades inquestionáveis.
        Antes disso, Arnold Schwarzenegger também precisou se desdobrar para resgatar a filha dos vilões desalmados no fraco Comandos para Matar, de 1986. Curiosamente, o herói não foi guerrear na Europa. Preferiu saltar do avião em plena decolagem para que a ação se passasse em algum país mais exótico e menos sofisticado da América Latina. Ah! E o saldo de mortos que deixou, provavelmente, foi muito maior do que o alcançado em Busca Implacável.
        Filmes como esses me trazem uma certeza: entre um cineasta e seu público, fica estabelecido um diálogo intenso, de falas subentendidas e impronunciadas, que selam um acordo, uma promessa:
        – Vou contar uma história, com todos os elementos que você espera encontrar. Mas ela trará alguns lances que vão te surpreender – diz o diretor, caprichando no tom enigmático.
        – Certo! Vou prestar atenção, desde que você mostre tudo o que eu quero ver. As surpresas serão bônus – retruca o sujeito na poltrona, agarrado ao seu balde de pipoca.
        No final das contas, é o bônus que faz a diferença! Os bons filmes de ação cumprem a promessa à risca, enquanto aqueles considerados ruins ficam capengas. Ou não oferecem bônus. Mostram mais do mesmo e  esquecem de mostrar aquilo que motivou o espectador a apertar o play. Felizmente, não é esse o caso de Busca Implacável.
        O fato é que essa promessa que ousei descrever não vale só para os filmes de ação. É inerente a qualquer filme, de qualquer gênero. O que muda é o repertório do espectador. Os mais exigentes demandam maior capacidade dos realizadores, no domínio das técnicas narrativas, na criatividade e na sensibilidade artística.

Resenha crítica do filme Busca Implacável

Ano de produção: 2008
Direção: Pierre Morel
Roteiro: Luc Besson e Robert Mark Kamen
Elenco: Liam Neeson, Maggie Grace, Leland Orser, Jon Gries, David Warshofsky, Katie Cassidy, Holly Valance e Famke Janssen

Comentários

  1. Então Fábio, lembro bem deste filme, um dos poucos antigos que ainda lembro. Na minha visão romântica do filme o que me interessava era exatamente o final "felizes em casa "! Deixando escapar detalhes que vcs homens, até se colocando no lugar do protagonista vivenciam como o próprio pai herói, obstinado em resgatar a filha custe o que custar. No final todos nós ficamos plenamente realizados !!!!

    ResponderExcluir
  2. Essa é a ideia de um bom filme de ação, não é mesmo? Deixar o espectador na maior autoestima, depois de bons minutos de diversão. O filme é de 2008 e, de repente, estamos nós aqui considerando que ele é "antigo". Que coisa!!!!

    ResponderExcluir
  3. Filmes de ação não são exatamente os meus favoritos, mas não há quem resista a um "pai herói"! Parabéns pela crônica!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ah, Celi Duarte, muito obrigado pelo comentário! Valeu. Também gosto de filmes de ação e esse soube lidar bem os clichês, mantendo o interesse do espectador do começo ao fim.

      Excluir
  4. Filmes de ação não são exatamente os meus favoritos, mas não há quem resista a um "pai herói"! Parabéns pela crônica!

    ResponderExcluir
  5. Esse filme é chocante, lembro que fiquei impactado pela tema e o tráfico de mulheres, no Brasil um filme com a mesma temática de mulheres escravizadas sexualmente que não lembro o nome, deve inspiração para o filme "busca implacável " a questão das meninas virgens foi referência no filme brasileiro, quem lembrar do título do filme brasileiro, escreve para que possamos rever esse filme, agora Liam Neeson é um ator admirável comparo ao Marlon Brando um ator com uma carga dramática mesmo em filme de ação, balas e claro com muitos clichês ele consegue traaformar todo o sofrimento e desespero do personagem em sua busca pela filha, contracenando com atores com sotaques e caras de bandido, esperamos a hora em que Lian Neeson apareça e possamos sofrer com ele.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ah, Bené César Saboia, Lian Neeson é mesmo um grande ator. Quanto ao filme brasileiro que você cita, não consegui identificar. Vou pesquisar! Um abtraço!

      Excluir

Postar um comentário

Confira também:

Menina de Ouro: a história de Maggie Fitzgerald é real?

Tempestade Infinita: drama real de resiliência e superação

Siga a Crônica de Cinema