A Origem: uma jornada pelo mundo dos sonhos

Cena do filme A Origem
A Origem: direção de Christopher Nolan

HISTÓRIA INTRINCADA, ROTEIRO PRECISO

Uma ideia original e um roteiro trabalhado à exaustão. Tratamento visual apurado e trilha sonora emocionante. Ação bem orquestrada e elenco carismático.... Com tantos atributos positivos, A Origem, realizado em 2010 por Christopher Nolan, já seria um grande filme. Mas então nos deparamos com um protagonista bem construído, revelado em sua profundidade psicológica e que descreve um arco dramático comovente. Isso eleva a qualidade do filme e o destaca dentro do gênero ficção científica. Não foi à toa que amealhou fãs de todas as faixas etárias.
        A Origem consumiu um orçamento milionário, com o qual poucos realizadores conseguem... sonhar. Mas nesse caso, dinheiro não foi tudo! A habilidade de Christopher Nolan para contar com agilidade uma história tão intrincada, foi crucial. Aqui ele aborda um tema com densidade incomum para um filme de ação e nos leva a percorrer, literalmente, os labirintos da psique humana. No caminho, trombamos com conceitos que rendem muita discussão filosófica, além de provocações que atiçam nossa imaginação e um final que deixa todos com a pulga atrás da orelha!
        O filme conta a história de Dom Cobb (Leonardo DiCaprio), uma espécie de espião especializado em roubar segredos industriais guardados na mente dos empresários. Para tanto, ele se vale de um truque inusitado: invade o sonho da vítima, enquanto usa uma tecnologia que lhe permite sonhar o mesmo sonho. Ele permanece consciente e focado na sua missão, enquanto a vítima, desavisada, revela seus segredos. Mas agora Cobb foi contratado para uma tarefa ainda mais complicada. Terá que implantar uma ideia na mente do herdeiro de um grande império industrial. Precisa contar com o apoio de toda uma equipe: o assistente Arthur (Joseph Gordon-Levitt), a arquiteta de sonhos Ariadne (Ellen Page, hoje Elliot Page), o falsificador Eanes (Tom Hardy), o contratante Saito (Ken Watanabe) e o químico Yusuf (Dileep Rao). Todos conectados entre si e sonhando o mesmo sonho de Robert Fischer (Cillian Murphy), a vítima. Mas quando a personagem sombria Mal Cobb (Marion Cotillard) aparece para atrapalhar, as complicações em série acontecem e colocam a vida de todos em perigo iminente.
        Em A Origem o território da narrativa é o mundo dos sonhos, com seus símbolos elaborados e sua lógica peculiar. Livres de propriedades gravitacionais, o tempo se descompassa e o espaço transcorre em direções inesperadas. O inconsciente do invadido se entrelaça com os dos invasores, num emaranhado de significados tão misteriosos quanto perigosos. Ninguém pode brincar com a mente e sair impune. O risco é de demência, de perda da lucidez, de alienação mental. Mas o diretor não facilita para o espectador. Nada disso! Seu roteiro segue por ousadias de tirar o fôlego. A vítima, que sonhava, agora começa a sonhar que estava sonhando e depois continua até uma terceira camada de sonhos. Além disso, uma boa parte da narrativa se estende para o mundo real, o que impõe um sentido de urgência e confere verossimilhança à trama.
        Christopher Nolan dedicou muito tempo à escrita do roteiro, em grande parte para organizar as cenas expositivas e assim permitir que o espectador acompanhe os desdobramentos da ação, sem se perder pelo caminho. Porém, seu maior mérito foi o de ter dado prioridade para a jornada emocional do protagonista. É Dom Cobb que nos conduz pela trama intrincada de A Origem e é para conhecer o seu destino que fazemos questão de ir até o fim. É claro que a atuação de Leonardo DiCaprio merece ser destacada. Além de carisma, o astro mostrou talento na hora de expressar diferentes camadas do seu personagem. Aliás, o elenco todo traz contribuições decisivas.
        Além das idas e vindas do roteiro, um outro elemento arrebatador no filme é o tratamento visual que recebeu. Os recursos digitais foram bem usados, para materializar os sonhos mais espetaculosos do diretor. Não foi por menos que saiu da festa do Óscar com as estatuetas de melhor fotografia, melhores efeitos visuais, melhor edição de som e melhor mixagem de som. Felizmente, Christopher Nolan não se rendeu à tentação de transformar A Origem em um daqueles espetáculos tecnológicos, que ficam obsoletos na próxima temporada de lançamentos. Buscou densidade dramática e trabalhou com imagens mais simples e significativas, que levamos conosco ao sair da sala de cinema. Como aquele simbólico plano fechado no pião, que gira insistente só para elevar o nível de tensão e suspense. Se ele parar de girar, o protagonista não está num sonho. Está de vigília no mundo real. Mas se continuar girando...
        O final de A Origem continua a causar polêmicas entre os fãs. Em entrevistas, o próprio diretor fez questão de alimentá-las, evitando dar seu veredito. Será que o protagonista despertou para a realidade? Ou será que se perdeu no labirinto confuso do mundo dos sonhos? Cada espectador terá que tirar suas próprias conclusões.


Resenha crítica do filme A Origem

Título original: Inception
Ano de produção: 2010
Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan
Elenco: Leonardo DiCaprio, Ken Watanabe, Joseph Gordon-Levitt, Marion Cotillard, Ellen Page, Tom Hardy, Tom Berenger, Michael Caine, Cillian Murphy, Dileep Rao, Pete Postlethwaite e Lukas Haas

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