Bingo: O Rei Das Manhãs: a história real do palhaço Bozo
Bingo: O Rei das Manhãs: filme dirigido por Daniel Rezende
O padrão hollywoodiano de fazer filmes continua se impondo: combina investimentos com trabalho em equipe, dedicação e profissionalismo. Mas a fórmula só garante a qualidade técnica das produções. O que faz um bom filme é o talento daqueles que ousam contar boas histórias. Primeiro, vem a ideia para o enredo. Ela normalmente nasce quando um autor desenvolve um personagem expressivo, envolvido com feitos extraordinários ou surpreendentes. A ideia amadurece e se torna comercialmente viável. Ganha adesão de produtores, do roteirista, do diretor... Depois vem o trabalho duro: achar o formato certo para contar a história, encaixá-la no gênero certo, tomar decisões narrativas... Quando o filme já está pronto na cabeça, começa uma nova via-sacra: obter financiamento, planejar a produção, escolher o elenco, filmar, pós-produzir, editar...
No Brasil, temos a felicidade de ver nascer alguns filmes de alta qualidade técnica, que seguiram esse périplo e se tornam produtos comerciais competitivos, por causa de realizadores imersos na indústria do cinema. Bingo: O Rei das Manhãs, dirigido em 2017 por Daniel Rezende, é um deles. Trata-se da cinebiografia de Arlindo Barreto, o ator oculto sob a fantasia do palhaço Bozo, que marcou a cultura pop no Brasil dos anos 1980. O filme resgata a surpreendente façanha desse lobo em pele de cordeiro, que entrava cotidianamente nas casas das nossas famílias pela TV e se apoderava dos corações e mentes das... crianças! Enquanto travava uma guerra imprudente pelos maiores índices de audiência, ultrapassava todos os limites morais que a sociedade tentava impor. Terminou causando uma verdadeira revolução nos costumes.
Para contar essa história, os realizadores de Bingo: O Rei das Manhãs sabiamente mantiveram os pés firmes na arte da dramatização. Cravaram as lentes no protagonista e o acompanharam de perto ao longo da sua jornada tresloucada. Mas, para evitar encrencas com processos, trocaram todos os nomes dos personagens e das emissoras de TV envolvidas. Arlindo Barreto virou Augusto Mendes, a Rede Globo virou Rede Mundial, o SBT virou TVP, o palhaço Bozo virou Bingo... Nada disso causou confusão no roteiro, nem impediu que nos entregassem um filme criativo, envolvente e emocionante.
Antes de seguir, vamos conferir a sinopse de Bingo: O Rei das Manhãs: Augusto Mendes (Vladimir Brichta) é um ator obstinado, em busca de sucesso. Desprezado pela TV Mundial, acaba na fila de testes para incorporar o tal palhaço americano, cuja franquia a TVP está assumindo no Brasil. Descobre-se talhado para o papel e agarra a oportunidade com unhas e dentes. Envolve-se emocionalmente com Lúcia (Leandra Leal), a produtora do programa. E faz amizade com Vasconcelos (Augusto Madeira), o operador de câmera que o conduz pelo submundo dos bastidores da televisão. Aos poucos, passa a subverter os valores criados para o personagem original e impõe uma nova forma de fazer programas para crianças. O sucesso, é claro, sobe à cabeça do ator anônimo. Mas ele haverá de se dar conta de que, sem a fantasia do palhaço Bingo, é um reles zé-ninguém. Sua trajetória balística de encontro às drogas e ao alcoolismo rende momentos de tensão e fortes emoções.
Além das ótimas atuações de Vladimir Brichta e Leandra Leal, o que vai se destacando no filme é o roteiro do experiente Luiz Bolognesi – ele já roteirizou filmes como Bicho de Sete Cabeças e Ellis. A direção é do estreante Daniel Rezende, mas referir-se a ele como estreante acaba sendo uma grande injustiça! Bingo: O Rei das Manhãs é seu primeiro longa, mas como montador já trabalhou em títulos como Cidade de Deus, Diários de Motocicleta, Tropa de Elite, Ensaio Sobre a Cegueira, A Árvore da Vida, Robocop... Esbanja segurança e criatividade!
O ponto alto da intervenção de Daniel Rezende como diretor está na realização de um vistoso plano-sequência, que marca a queda do protagonista até o fundo do poço e seu posterior encontro com a própria consciência. Mais do que um feito técnico, é um feito narrativo. Foi inserido com pertinência no fluxo da história e trouxe um efeito dramático intenso e verossímil – não quero me aprofundar aqui, para evitar spoilers.
Para concluir, ouso afirmar que esse filme pode ser listado entre as melhores produções brasileiras já realizadas. Bingo: O Rei das Manhãs elevou o nível do cinema brasileiro e merece ser visto e revisto com atenção aos detalhes. Ah! E não é um filme para crianças!
Direção: Daniel Rezende
Roteiro: Luiz Bolognesi
Elenco: Vladimir Brichta, Leandra Leal, Emanuelle Araújo, Tainá Müller, Domingos Montagner, Ana Lúcia Torre, Augusto Madeira, Pedro Bial e Felipe Riquelme
UMA DAS MELHORES REALIZAÇÕES DO CINEMA BRASILEIRO!
A mesma tecnologia digital que criou as proezas da computação gráfica, ajudou a baratear os custos de produção e permitiu uma expansão da indústria do cinema. Países que jamais ousavam rivalizar com os grandes centros de produção, hoje encontram plateias ávidas por novidades nas plataformas de streaming. Zapear por elas é como navegar em águas internacionais, sempre sujeitas a tempestades e ao tráfego intenso. O problema é que, vez ou outra, embarcamos em algumas canoas furadas – isso mostra que fazer cinema pode parecer uma aventura, mas não é para aventureiros!O padrão hollywoodiano de fazer filmes continua se impondo: combina investimentos com trabalho em equipe, dedicação e profissionalismo. Mas a fórmula só garante a qualidade técnica das produções. O que faz um bom filme é o talento daqueles que ousam contar boas histórias. Primeiro, vem a ideia para o enredo. Ela normalmente nasce quando um autor desenvolve um personagem expressivo, envolvido com feitos extraordinários ou surpreendentes. A ideia amadurece e se torna comercialmente viável. Ganha adesão de produtores, do roteirista, do diretor... Depois vem o trabalho duro: achar o formato certo para contar a história, encaixá-la no gênero certo, tomar decisões narrativas... Quando o filme já está pronto na cabeça, começa uma nova via-sacra: obter financiamento, planejar a produção, escolher o elenco, filmar, pós-produzir, editar...
No Brasil, temos a felicidade de ver nascer alguns filmes de alta qualidade técnica, que seguiram esse périplo e se tornam produtos comerciais competitivos, por causa de realizadores imersos na indústria do cinema. Bingo: O Rei das Manhãs, dirigido em 2017 por Daniel Rezende, é um deles. Trata-se da cinebiografia de Arlindo Barreto, o ator oculto sob a fantasia do palhaço Bozo, que marcou a cultura pop no Brasil dos anos 1980. O filme resgata a surpreendente façanha desse lobo em pele de cordeiro, que entrava cotidianamente nas casas das nossas famílias pela TV e se apoderava dos corações e mentes das... crianças! Enquanto travava uma guerra imprudente pelos maiores índices de audiência, ultrapassava todos os limites morais que a sociedade tentava impor. Terminou causando uma verdadeira revolução nos costumes.
Para contar essa história, os realizadores de Bingo: O Rei das Manhãs sabiamente mantiveram os pés firmes na arte da dramatização. Cravaram as lentes no protagonista e o acompanharam de perto ao longo da sua jornada tresloucada. Mas, para evitar encrencas com processos, trocaram todos os nomes dos personagens e das emissoras de TV envolvidas. Arlindo Barreto virou Augusto Mendes, a Rede Globo virou Rede Mundial, o SBT virou TVP, o palhaço Bozo virou Bingo... Nada disso causou confusão no roteiro, nem impediu que nos entregassem um filme criativo, envolvente e emocionante.
Antes de seguir, vamos conferir a sinopse de Bingo: O Rei das Manhãs: Augusto Mendes (Vladimir Brichta) é um ator obstinado, em busca de sucesso. Desprezado pela TV Mundial, acaba na fila de testes para incorporar o tal palhaço americano, cuja franquia a TVP está assumindo no Brasil. Descobre-se talhado para o papel e agarra a oportunidade com unhas e dentes. Envolve-se emocionalmente com Lúcia (Leandra Leal), a produtora do programa. E faz amizade com Vasconcelos (Augusto Madeira), o operador de câmera que o conduz pelo submundo dos bastidores da televisão. Aos poucos, passa a subverter os valores criados para o personagem original e impõe uma nova forma de fazer programas para crianças. O sucesso, é claro, sobe à cabeça do ator anônimo. Mas ele haverá de se dar conta de que, sem a fantasia do palhaço Bingo, é um reles zé-ninguém. Sua trajetória balística de encontro às drogas e ao alcoolismo rende momentos de tensão e fortes emoções.
Além das ótimas atuações de Vladimir Brichta e Leandra Leal, o que vai se destacando no filme é o roteiro do experiente Luiz Bolognesi – ele já roteirizou filmes como Bicho de Sete Cabeças e Ellis. A direção é do estreante Daniel Rezende, mas referir-se a ele como estreante acaba sendo uma grande injustiça! Bingo: O Rei das Manhãs é seu primeiro longa, mas como montador já trabalhou em títulos como Cidade de Deus, Diários de Motocicleta, Tropa de Elite, Ensaio Sobre a Cegueira, A Árvore da Vida, Robocop... Esbanja segurança e criatividade!
O ponto alto da intervenção de Daniel Rezende como diretor está na realização de um vistoso plano-sequência, que marca a queda do protagonista até o fundo do poço e seu posterior encontro com a própria consciência. Mais do que um feito técnico, é um feito narrativo. Foi inserido com pertinência no fluxo da história e trouxe um efeito dramático intenso e verossímil – não quero me aprofundar aqui, para evitar spoilers.
Para concluir, ouso afirmar que esse filme pode ser listado entre as melhores produções brasileiras já realizadas. Bingo: O Rei das Manhãs elevou o nível do cinema brasileiro e merece ser visto e revisto com atenção aos detalhes. Ah! E não é um filme para crianças!
Resenha crítica do filme Bingo: O Rei das Manhãs
Ano de produção: 2017Direção: Daniel Rezende
Roteiro: Luiz Bolognesi
Elenco: Vladimir Brichta, Leandra Leal, Emanuelle Araújo, Tainá Müller, Domingos Montagner, Ana Lúcia Torre, Augusto Madeira, Pedro Bial e Felipe Riquelme
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