Jadotville: a história real do ataque à tropa de paz da ONU

Cena do filme Jadotville
Jadotville: fime com roteiro de Kevin Brodbin

TROPA DE PAZ MUNIDA SOBRETUDO DE CORAGEM

A história da humanidade é a história das nossas guerras. Tal afirmação pode ferir a sensibilidade dos menos beligerantes – aqueles que preferem defender o “amor” e pregar a “paz universal” como estilo de vida, para insinuar que o desarmamento seria a solução para nossos conflitos. Porém, mesmos estes têm que admitir que são justamente os conflitos que impulsionam a nossas aulas de história. Basta abrir um livro didático do ensino médio e constatar: ele estará organizado de acordo com a expansão dos impérios, conquistas de territórios, revoluções, lutas por independência...
        É claro que guerras podem ser evitadas, ao menos os seus efeitos trágicos sobre a população civil, mas isso não acontece por meio do desarmamento. Ao contrário, é resultado do equilíbrio de forças, não só militares, mas também diplomáticas. Além disso, como diz o velho provérbio romano, atribuído ao escritor do quinto século Flávio Vegécio: si vis pacem, para bellum. Em bom português: se quer paz, prepare-se para a guerra! Ele nos lembra que uma nação militarmente preparada está menos vulnerável a ataques e pronta para desestimular seus inimigos.
        As guerras estruturam a história que aprendemos nos bancos escolares, mas também são fontes inesgotáveis de... boas histórias! Refiro-me aos dramas pessoais vividos durante as guerras, que sempre forneceram conteúdo para a literatura e depois para o cinema, onde o gênero se desdobrou em subgêneros. Engloba desde os filmes que se detém especificamente nos combates, até aqueles onde a guerra vira apenas pano de fundo. Encontramos produções grandiosas e elaboradas, mas também tropeçamos em filmes B, onde o que manda é a ação, pura e simples.
        O filme Jadotville, dirigido em 2016 pelo irlandês Richie Smyth, não é daquelas produções endinheiradas, mas surpreende. Foge ao padrão de Hollywood e está longe de ser um filme B. Há muitos tiros, explosões e correrias por todo o campo de batalha, mas o ótimo roteiro assinado por Kevin Brodbin e o ponto de vista aguçado imposto pelo diretor transformam esse filme de guerra em um drama de sobrevivência. E o melhor de tudo, aqui a batalha também é travada no campo dos valores!
        Jadotville conta a história real de uma unidade do exército irlandês, com 150 soldados liderados pelo comandante Patrick Quinlan (Jamie Dornan). Sem qualquer experiência em batalhas, eles foram enviados em 1961 para o Congo, como parte da força de paz da ONU. A missão era defender a cidade de Jadotville. Porém, o improvável acontece: foram atacados por militares rebeldes em superioridade numérica, que contavam com o reforço de mercenários a soldo de interesses escusos. As ondas de ataques se sucederam ao logo de cinco dias e os irlandeses resistiram incrivelmente, contra todas as probabilidades. Ao final, para ocultar seus próprios erros e culpas, a ONU omitiu o feito heroico dos irlandeses. Os soldados voltaram para casa e foram recebidos como covardes. O episódio caiu no esquecimento.
        O filme é baseado no livro de Declan Power, The Siege at Jadotville: The Irish Army's Forgotten Battle. Agora, na sua adaptação para as telas, podemos ter um vislumbre mais realista do que aconteceu no Congo, para além da abordagem documental. O projeto foi abraçado com empolgação pelo diretor Richie Smyth, que fez de Jadotville seu filme de estreia. Ocorre que Smyth vem de uma longa carreira na publicidade. Já realizou comerciais para grandes marcas, como Nike, Macy's, Pepsi e Guinness. Também assinou videoclipes de sucesso para a banda U2 e outras estrelas da música pop. Essa bagagem trouxe um tempero especial a esse filme de guerra!
        As cenas de ação apresentadas no filme foram coreografadas com base nos depoimentos e informações fornecidos por Leo Quinlan, que vem a ser filho do comandante Patrick Quinlan. Isso trouxe uma visão clara de todo o teatro de operações. A preocupação dos realizadores, porém, não foi a de alcançar a precisão factual. Estavam mais interessados na dramatização. Preferiram explorar o embate dos personagens enquanto estavam munidos com seus valores e princípios.
        É isso que faz de Jadotville um filme de guerra acima da média. Intenso e comovente, possui todos os elementos que o gênero exige: intrigas internacionais, dramas pessoais, tensão política e ótimas cenas de ação. Já me decepcionei com alguns filmes de guerra. Aqueles que exageram nas cenas de ação e tratam seus “heróis” com tosca superficialidade são os mais comuns nos serviços de streaming. Mas fiquei feliz com essa produção irlandesa. Vale a pena conferir!
Assista ao vídeo no YouTube

Resenha crítica do filme Jadotville

Ano de produção: 2016
Direção: Richie Smyth
Roteiro: Kevin Brodbin
Elenco: Jamie Dornan, Mark Strong, Mikael Persbrandt, Jason O'Mara, Danny Sapani, Michael McElhatton e Guillaume Canet

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