Todo o Dinheiro do Mundo: a história real do homem mais rico do mundo

Cena do filme Todo o Dinheiro do Mundo
Todo o Dinheiro do Mundo: filme dirigido por Ridley Scott

A MÍDIA TRABALHA COM FATOS, MAS O CINEMA É TERRITÓRIO PARA O DRAMA!

Certa vez li uma entrevista com um grande diretor – não lembro qual – onde perguntaram sobre em que pé estava seu próximo filme. – Está pronto – respondeu, para depois emendar: – Agora só falta filmar! Ao ler essa frase de efeito, compreendi que os filmes são construções mentais, que nascem, crescem, amadurecem e despontam para a vida nas cabeças dos seus realizadores. E por tabela, descobri também porquê os cineastas são chamados de realizadores – incluindo na categoria os produtores, que viabilizam os filmes! Lembrei-me dessa história quando parti para pesquisar sobre Todo o Dinheiro do Mundo, produção de 2017 dirigida por Ridley Scott. O diretor é um realizador irrequieto, que salta de projeto em projeto com grande avidez, para felicidade dos cinéfilos de plantão. Porém, ao contrário do que faz na maioria dos seus filmes, nesse ele não se envolveu durante a fase de escrita. Pôs as mãos no roteiro de David Scarpa, adorou suas passagens envolventes e seus ótimos personagens e arregaçou as mangas. Rodou o filme inteiro na cabeça. Mas daí a conseguir materializá-lo, correu um rio caudaloso por debaixo dessa ponte!
        Todo o Dinheiro do Mundo conta a história real do sequestro do neto de John Paul Guetty, ocorrido em 1973. Na época o velho era o homem mais rico do mundo, mas de tão avarento, recusou-se a pagar o valor do resgate. Foi um escândalo, do qual a mídia mundial se ocupou por semanas. Ridley Scott ficou empolgado em contar essa história complicada, mas esbarrou num percalço incontornável durante as filmagens: Kevin Spacey, o ator escalado para viver o protagonista, envolveu-se no maior escândalo sexual de Hollywood e passou a ser odiado, tanto pela mídia como pelo público. O filme já estava praticamente rodado, quando a indústria e os exibidores começaram a impor um boicote, por causa da presença do ator execrado. Para complicar, Danny Boyle estava rodando uma minissérie para a TV americana intitulada Trust, sobre a mesma história real que o diretor estava contando nesse filme. O que fez? Agiu rápido! Conseguiu aporte de recursos, convocou o ator Christopher Plummer e refez todas as cenas em que Spacey aparecia. Plummer já havia sido uma das escolhas para o papel, mas fora rejeitado em favor de Spacey, porque esse último vinha de um estrondoso sucesso com sua participação em House of Cards. O “valor da celebridade” contou na hora de compor o elenco de Todo o Dinheiro do Mundo, mas por ironia, acabou sendo uma enorme dor de cabeça.
        Quem conhece a famosa história do sequestro de John Paul Getty III vai compreender seu potencial explosivo. Para quem não conhece, aí vai uma sinopse: em 1973, John Paul Guetty III (Charlie Plummer) tem 16 anos e é neto do magnata John Paul Guetty (Christopher Plummer), que acumulou sua imensa fortuna no mercado do petróleo. O rapaz está em Roma, quando é sequestrado por um grupo de mafiosos. O valor do resgate é a bagatela de U$ 17 milhões! A mãe do garoto, Gail Harris (Michelle Williams) não tem a mínima condição de pagar, pois rejeitou qualquer participação na fortuna da família, quando se divorciou de John Paul Getty Jr.(Andrew Buchan), o filho do magnata que se enveredou pelo abismo das drogas. A única saída da mãe desesperada é implorar ajuda do velho avarento, mas não consegue convencê-lo a pagar o resgate. Tudo o que o magnata aceita fazer é contratar Fletcher Chace (Mark Wahlberg), um empregado da sua companhia de petróleo, que também foi agente da CIA, para trazer seu neto de volta. A mídia divulga a história, que rapidamente vira assunto no mundo inteiro. Quando o bilionário se recusa a pagar o resgate, a opinião púbica se divide: avareza ou habilidade negocial? Imprensa, detetives particulares, policiais... Muita gente se envolve nas operações para ajudar a mãe desesperada a salvar o pobre neto do velho abastado.
        O roteirista David Scarpa, que também escreveu A Última Fortaleza – e agora está envolvido com o roteiro do filme Napoleão, que Ridley Scott está rodando atualmente – baseou-se na biografia completa de J. Paul Getty escrita pelo romancista inglês John Pearson. Scarpa se deteve no capítulo 5 do livro, que narra o sequestro do garoto, mas encontrou um excelente rumo para tornar a história mais atraente para as telas. Focalizou na personagem da mãe desesperada, que precisou lidar com a máfia, com a imprensa, com o velho avarento... Exagerou aqui e ali, dramatizou, impôs um clima de suspense, mas garantiu muita verossimilhança para o enredo.
        Era garoto quando acompanhei pelas revistas e jornais esse drama com jeitão de telenovela. Também naquela época, a histórias que nos chegavam contadas pela mídia se agarravam aos fatos, na tentativa de passar credibilidade. Porém, dramatizar uma história real ao longo de um filme exige mais do que investigar os fatos e apresentá-los da forma como aconteceram. É preciso capturar o que ficou impresso no imaginário do público, reforçar os contornos mais importantes e surpreender nas minúcias e nos detalhes. Ridley Scott fez tudo isso em Todo o Dinheiro do Mundo, e ainda teve que lidar com os bastidores agitados da sua produção.

Resenha crítica do filme Todo o Dinheiro do Mundo

Ano de produção: 2017
Direção: Ridley Scott
Roteiro: David Scarpa
Elenco: Michelle Williams, Christopher Plummer, Mark Wahlberg, Romain Duris, Timothy Hutton, Charlie Plummer, Charlie Shotwell, Andrew Buchan, Marco Leonardi, Giuseppe Bonifati e Nicolas Vaporidis

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