Chinatown: um caso complicado explicado num roteiro primoroso
Chinatown: filme dirigido por Roman Polansky
MAIS DO QUE UM FILME, JÁ VIROU PATRIMÔNIO CULTURAL
Roman Polanski, empunha um estilete e faz cara de mau para interpretar um bandido abjeto – mas elegante em sua estampa europeia. Impiedoso, corta o nariz de Jack Nicholson, ou melhor, de JJ Gittes, o detetive autoconfiante que se comporta como quem já viu de tudo nessa vida, mas que está prestes a fazer uma descoberta estarrecedora. Essa cena de Chinatown, dirigido em 1974 por Roman Polanski, vem como um alerta para o próprio espectador: não meta o nariz onde não é chamado. Mas já é tarde! Desde as primeiras cenas desse neo-noir envolvente, já fomos fisgados pelo carisma do protagonista e pelo clima de mistério dessa história complexa e surpreendente.Chinatown foi o filme que consagrou Jack Nicholson e o colocou entre os melhores atores de Hollywood. Foi também a última produção que Polanski realizou nos Estados Unidos, antes de retornar definitivamente para a Europa. Também rendeu uma das melhores interpretações de Faye Dunaway e trouxe no elenco um John Huston respeitado como monstro sagrado do cinema. E para completar, teve seu roteiro – escrito pelo lendário Robert Towne – premiado com um Óscar e depois considerado um dos melhores já escritos. Há muito o que falar sobre esse filme emblemático.
A história de Chinatown nasceu na cabeça de Robert Towne, para ser o primeiro filme de uma trilogia sobre a corrupção que envolveu a fundação de Los Angeles, sua cidade natal. Por trás do glamour e da agitação que a cidade inspira, se esconde a evidência de um crime sórdido: o roubo dos direitos sobre o uso da água, que outrora irrigava as fazendas ao seu redor. O tema gerou uma série de disputas judiciais e viabilizou o nascimento e o desenvolvimento da grande metrópole. Nos filmes seguintes, Towne falaria sobre a corrupção no setor do petróleo e sobre a disputa por terras. Mas antes de continuar, é melhor examinarmos uma sinopse do filme.
Nos anos 1930, Los Angeles é o palco da guerra da água, travada nos tribunais para fazer prevalecer os interesses da cidade, em detrimento dos fazendeiros do Vale Owens. JJ Gittes (Jack Nicholson), detetive especializado em casos de... traições matrimoniais, é contratado por Evelyn Mulwray para investigar seu marido Hollis (Darrel Zwerling), que vem a ser o chefe da Companhia de Água e Energia. Mas Gittes descobre que foi vítima de uma armação: a verdadeira Evelyn Mulwray (Faye Dunaway) aparece para processá-lo. Para complicar, o corpo de Hollis Mulwray é encontrado numa represa. Agora Gittes tem que descobrir quem o enganou, e por quais motivos. O fio do novelo que puxa desenrola uma trama complicada, que revela a corrupção do estado no fornecimento de água, disputas de terras e até mesmo segredos inconfessáveis sobre o pai de Evelyn.
O roteiro de Robert Towne para o filme Chinatown é uma peça desenvolvida à exaustão. Famoso por seu talento e habilidade no trato com as linhas de diálogo, ele conta uma história inventada, mas inserida num pano de fundo real, que segue com fluidez e simplicidade. Há incontáveis oportunidades dramáticas para que Jack Nicholson pudesse exercer seu ofício – o papel foi escrito especialmente para ele, que procurava por um bom projeto para rodar com seu amigo Roman Polanski. Mas há também um complexo de metáforas que se desenrola a partir da trama sobre a guerra da água e desemboca em uma subtrama surpreendente. Isso fisgou Polanski e o animou a pôr novamente os pés nos Estados Unidos, depois da tragédia pessoal que viveu.
Mas era um roteiro longo e é claro que Roman Polanski interferiu nele! O diretor passou o estilete em diversas subtramas escritas por Robert Towne e reduziu a narrativa ao seu essencial. Focalizou no protagonista e tomou uma decisão crucial: colocou o espectador no lugar de JJ Gittes e o fez ligar os pontos da trama, até resolver o mistério. Não há explicações preliminares. Tateamos nas descobertas junto com o detetive, como acontece nos melhores filmes noir. Polanski também bateu o pé em relação ao final do filme. Enquanto Towne defendia uma final feliz e mais sentimental, o diretor queria um desfecho mais sombrio, que colocasse o espectador numa posição menos confortável.
Roman Polanski exerceu a direção de Chinatown com o poder criativo nas mãos. Fez valer seu estilo simples e direto e tomou uma série de decisões narrativas acertadas. Quando começaram as filmagens, o roteiro ainda não estava completo. Faltava o final! Ficou por conta da sua visão oportunista e em sintonia com os anseios do público. Robert Towne tentou boicotar a produção, mas no final, quem venceu fomos nós, os espectadores, que agora podemos ver e rever uma das obras mais relevantes da sétima arte.
Ah, Robert Towne seguiu em frente com seu projeto da trilogia. Escreveu o roteiro para A Chave do Enigma, filme de 1990 dirigido pelo próprio Jack Nicholson, lançado como sequência da saga do detetive JJ Gittes. Mas ficou longe de alcançar o mesmo reconhecimento que Chinatown conquistou junto ao grande público.
O roteiro de Robert Towne para o filme Chinatown é uma peça desenvolvida à exaustão. Famoso por seu talento e habilidade no trato com as linhas de diálogo, ele conta uma história inventada, mas inserida num pano de fundo real, que segue com fluidez e simplicidade. Há incontáveis oportunidades dramáticas para que Jack Nicholson pudesse exercer seu ofício – o papel foi escrito especialmente para ele, que procurava por um bom projeto para rodar com seu amigo Roman Polanski. Mas há também um complexo de metáforas que se desenrola a partir da trama sobre a guerra da água e desemboca em uma subtrama surpreendente. Isso fisgou Polanski e o animou a pôr novamente os pés nos Estados Unidos, depois da tragédia pessoal que viveu.
Mas era um roteiro longo e é claro que Roman Polanski interferiu nele! O diretor passou o estilete em diversas subtramas escritas por Robert Towne e reduziu a narrativa ao seu essencial. Focalizou no protagonista e tomou uma decisão crucial: colocou o espectador no lugar de JJ Gittes e o fez ligar os pontos da trama, até resolver o mistério. Não há explicações preliminares. Tateamos nas descobertas junto com o detetive, como acontece nos melhores filmes noir. Polanski também bateu o pé em relação ao final do filme. Enquanto Towne defendia uma final feliz e mais sentimental, o diretor queria um desfecho mais sombrio, que colocasse o espectador numa posição menos confortável.
Roman Polanski exerceu a direção de Chinatown com o poder criativo nas mãos. Fez valer seu estilo simples e direto e tomou uma série de decisões narrativas acertadas. Quando começaram as filmagens, o roteiro ainda não estava completo. Faltava o final! Ficou por conta da sua visão oportunista e em sintonia com os anseios do público. Robert Towne tentou boicotar a produção, mas no final, quem venceu fomos nós, os espectadores, que agora podemos ver e rever uma das obras mais relevantes da sétima arte.
Ah, Robert Towne seguiu em frente com seu projeto da trilogia. Escreveu o roteiro para A Chave do Enigma, filme de 1990 dirigido pelo próprio Jack Nicholson, lançado como sequência da saga do detetive JJ Gittes. Mas ficou longe de alcançar o mesmo reconhecimento que Chinatown conquistou junto ao grande público.
Resenha crítica do filme Chinatown
Ano de produção: 1974Direção: Roman Polanski
Roteiro: Robert Towne
Elenco principal: Jack Nicholson, Faye Dunaway, John Huston, Perry Lopez, John Hillerman, Darrell Zwerling, Diane Ladd, Richard Bakalyan, Burt Young, James Hong, Bruce Glover, Joe Mantell, Roman Polanski, Roy Jenson, Nandu Hinds e Belinda Palmer
Bela análise.
ResponderExcluirComo sempre, suas crônicas são impecáveis. Assisti há muitos anos, está na hora de revê -lo. Bom domingo.
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