Koyaanisqatsi: uma obra de arte audiovisual

Cena do filme Koyaanisqatsi
Koyaanisqatsi: filme dirigido por Godfrey Reggio 

UMA ESTÉTICA REPETIDA À EXAUSTÃO, QUE AINDA ASSIM CONTINUA MODERNA

Belíssimas imagens em movimento, sincronizadas com uma música minimalista e hipnótica. Essa receita virou estrogonofe cinematográfico: é requintada, lida com uma certa complexidade de sabores e exige atenção no preparo, mas há muito deixou de ser prato principal em cardápios com pretensões sofisticadas. Quando foi inventada, no entanto, irradiava inovação e originalidade. A primeira vez em que pudemos degustá-la foi em 1982, quando o diretor americano Godfrey Reggio lançou Koyaanisqatsi: Life Out of Balance.
        Mesmo quem ainda não assistiu a essa obra instigante, conhece seu legado estético. Hoje, até os diretores de comerciais de bebida se atrevem a lançar mão do cacoete moderno que o filme consagrou, abusando das imagens urbanas capturadas à noite em time lapse – cenas filmadas quadro a quadro em longos intervalos de tempo, de modo a parecerem aceleradas quando vistas na velocidade normal de exibição.
        Koyaanisqatsi é uma obra de arte audiovisual. Escrever sobre ela é um exercício de tradução e dos mais complexos, pois se é preciso mil palavras para valerem uma imagem, quantas exigiriam tamanha enxurrada de imagens provocantes e arrebatadoras? Como qualquer obra de arte, que não oferece significados pré-determinados, mas os adquire na medida em que o público faz a fruição, esse filme está mais interessado em provocar; fornecer combustível para questionamentos e discussões. Seu significado é o espectador quem decide.
        Estamos falando de um filme experimental, realizado sem um roteiro formal e sem narração. Ainda assim, encontramos nele os vestígios de uma estrutura narrativa. Koyaanisqatsi claramente segue o modelo tradicional, composto por três atos: no primeiro, a apresentação da situação, no segundo, as reviravoltas complicadoras e no terceiro, a resolução. De início somos apresentados a paisagens naturais do nosso planeta. Então, surge o elemento humano, infestando esse mundo de tecnologia. O fechamento remonta ao caos que terminará no apocalipse. Costurando essa narrativa, temos o próprio título do filme, que significa “vida em desequilíbrio” e foi extraído do idioma hopi, falado pela nação indígena que habita o oeste dos Estados Unidos.
        Além das imagens surpreendentes, um outro elemento completa o discurso audiovisual e dá mais personalidade a Koyaanisqatsi: a música minimalista de Phillip Glass. Seguindo a mesma lógica narrativa, o compositor escreveu diferentes paisagens sonoras, criando atmosferas distintas para cada parte do filme. Para muitos, a música acabou tão entrelaçada às imagens que já não pode ser consumida separadamente. O compositor, no entanto, foi ampliando a trilha sonora original e ao longo dos anos lançou novos álbuns com faixas adicionais.
        Koyaanisqatsi se tornou um cult. Nasceu como projeto do cineasta Godfrey Reggio, um ativista ligado a causas sociais, ambientais e religiosas. Ele trabalhou em parceria com o diretor de fotografia Ron Fricke para viabilizar a produção, enquanto captavam imagens aleatoriamente ao longo de anos. O projeto ganhou corpo quando Francis Ford Coppola assistiu a um corte do filme e ajudou na sua divulgação e distribuição. O sucesso, mais cultural do que comercial, permitiu a realização de novas sequências: Powaqqatsi, de 1988 e Naqoyqatsi, e 2002, onde o diretor complementa sua visão sobre o relacionamento entre a natureza, o homem e a tecnologia.
        Não lembro de ter assistido a esse filme no cinema. Talvez as nossas salas de exibição tenham preferido dar mais espaço para as produções comerciais. Meu primeiro contato com Koyaanisqatsi foi mesmo no videocassete. Sempre o considerei um filme grande demais para ficar confinado naquela caixinha de baixa resolução – essa reflexão é para lembrar que é imperativo revisitar essa obra numa TV maior!

Resenha crítica do filme Koyaanisqatsi

Ano de produção: 1982
Direção: Godfrey Reggio
Roteiro: Godfrey Reggio, Walter Bachauer, Ron Fricke e Michael Hoenig
Música : Philip Glass
Fotografia: Ron Fricke
Edição Alton Walpole e Ron Fricke

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