O Primeiro Homem: a história real da conquista da Lua

Cena do filme O Primeiro Homem
O Primeiro Homem: filme dirigido por Damien Chazelle

SIM, ELE VENCE NO FINAL. MAS COMO FOI DIFÍCIL! 

Para começar essa crônica, vou direto ao final do filme: depois de anos de trabalho árduo, Neil Armstrong se torna o primeiro homem a pôr os pés na Lua e volta para a Terra, onde desfila em carro aberto sob os aplausos da multidão entusiasmada. Bem, isso não é nenhum spoiler. Todo mundo já sabe que a saga espacial da NASA nos anos 60 terminou em estrondoso sucesso. Ainda que essa história seja conhecida, O Primeiro Homem, filme de 2018 dirigido por Damien Chazelle, consegue capturar a atenção do espectador, pois o personagem que revela é bem mais complexo do que aquele descrito nos resumos das apostilas de história do ensino médio. Além disso, ainda que o espectador já saiba como o filme vai terminar, descobre que sabe pouco sobre seu começo e quase nada sobre a parte do meio!
        O Primeiro Homem abordou um tema caro para os americanos. A opinião pública e as instituições oficiais do pais exerceram uma vigilância atenta e cobraram a máxima responsabilidade por parte dos produtores – o simples fato de não haver no filme uma cena com a bandeira americana sendo fincada no solo lunar, foi motivo de pesadas críticas e reprimendas de políticos e celebridades. Tamanha pressão acabou dotando o filme com uma grande precisão histórica. Mas antes de entrar nos detalhes, vamos examina a sinopse:
        Em 1961, Neil Armstrong (Ryan Gosling) é um piloto de testes arrojado, às voltas com os desafios de ser pioneiro na corrida aeroespacial. Competente e compenetrado, ele dispensa grande parte da sua energia emocional com Karen, sua filha de apenas 2 anos, que sofre com um câncer cerebral. Seus esforços são inúteis e a dor pela perda da filha é esmagadora, tanto para ele como sua mulher, Janet (Claire Foy). Ainda assim ele encontra forças para perseguir seus objetivos. Inscreve-se no Projeto Gemini e é aceito. Envolve-se de corpo e alma e se torna peça-chave na corrida espacial. Chega a comandar a missão Gemini 8 e é selecionado para o Programa Apolo. Mas novas perdas cobrarão dele um alto preço emocional: primeiro, seus amigos Elliot See e Charles Bassett morrem tragicamente num acidente aéreo, depois, a tripulação da Apolo 1 morre durante um ensaio de lançamento. Os perigos que rondam Armstrong ficam cada vez mais evidentes, mas sua determinação em vencer, também. Selecionado para comandar a Apolo 11 e pisar na Lua, ele se despede da família e parte para dar o grande salto para humanidade.
        O roteiro de O Primeiro Homem foi escrito por Josh Singer, que se baseou no livro O Primeiro Homem: A Vida de Neil Armstrong, escrito pelo historiador James R. Hansen. Trata-se de uma biografia completa e detalhada, resultado de 50 horas de entrevistas gravadas com Neil Armstrong, além de depoimentos de mais de 120 pessoas, entre amigos, parentes e colegas ligados ao programa espacial. O historiador trabalhou diretamente com o roteirista. Revisaram desde o esboço preliminar até o roteiro final, concluído depois de uns 50 tratamentos.
        Ao invés de cobrir a vida inteira de Neil Armstrong, o roteirista Josh Singer, que traz no currículo os roteiros de Spotlight – Segredos Revelados e The Post – A Guerra Secreta, trabalhou num recorte mais reduzido. Mesmo assim, o nível de complexidade que enfrentou foi enorme. Ao mesmo tempo em que se preocupou com os detalhes técnicos relacionados à ciência e à tecnologia envolvidas, pôs-se a examinar em profundidade a psicologia de um protagonista complexo e introspectivo, às voltas com perdas terríveis e com pressões emocionais inimagináveis. Josh Singer realizou suas próprias entrevistas e costurou um roteiro linear, mas longe de ser documental. Gerou uma peça ágil e criativa, que abriu várias oportunidades para dramatizar a vida pessoal do protagonista.
        Em O Primeiro Homem o diretor Damien Chazelle esbanjou competência – a mesma que demonstrou quando realizou Wiplash e La La Land - Cantando Estações. Conseguiu imprimir um ritmo ágil ao seu filme, mas não o contaminou com a entonação heroica dos que se orgulham de ter vencido a corrida espacial. Preferiu manter uma atmosfera intimista e focalizou as diversas transformações do seu protagonista. É claro que para isso contou com a inestimável ajuda de Ryan Gosling, que entregou uma atuação inspirada e econômica. Transmitiu o máximo de emoção com o mínimo de exposição.
        O Primeiro Homem é um bom exemplo de como o cinema, ainda que apresente uma história com final conhecido, tem o poder de nos surpreender. Tudo depende de como ela vem contada. Os bons roteiristas jogam com as certezas do espectador, mas apostam na dramatização para comover.

Resenha crítica do filme O Primeiro Homem

Ano de produção: 2018
Direção: Damien Chazelle
Roteiro: Josh Singer
Elenco: Ryan Gosling, Claire Foy, Jason Clarke, Kyle Chandler, Corey Stoll, Shea Whigham, Christopher Abbott, Brian d'Arcy James, Pablo Schreiber, Patrick Fugit, Cory Michael Smith, Skyler Bible e Lukas Haas

Comentários

  1. Parabéns pela crônica...assisti esse filme há algum tempo e me surpreendi com a sua narrativa porque ela traduziu em palavras todas as emoções sentidas e já esquecidas.....

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