Perdidos na Noite: o Midnight Cowboy ao qual todo cinéfilo precisa assistir
Perdidos na Noite: filme dirigido por John Schlesinger
O Brasil passava pela redemocratização e parecia disposto a encontrar uma nova expressão para a modernidade que estava por vir. Fausto Silva foi o primeiro a perceber que ela seria bagunçada. Apresentava quadros de humor anárquico e apostava no inesperado para aumentar a audiência com muita rapidez. Aumentou tanto que escalou para a emissora de maior audiência. Estrelou um programa de auditório que imperou por décadas nas tardes de domingo.
Poucos se deram conta, mas antes do Faustão, Perdidos na Noite era o título de um filme de sucesso, dirigido em 1969 pelo inglês John Schlesinger. Era criança quando foi lançado, portanto só assisti uma dúzia de anos depois – ao passar na TV aberta e mais tarde no videocassete. Com temática adulta e jeitão de filme independente, mostrava personagens transgressores, que viviam perdidos numa Nova Iorque nada glamourosa. Aqui no Brasil, serviu de inspiração para arrebanhar os jovens telespectadores que se sentiam perdidos nas noites de sábado.
Como tantos filmes que conseguem espelhar sua época e refletir os tormentos da alma humana, Perdidos na Noite se tornou um marco na história do cinema. Narra uma história envolvente, carregada de sentimentos profundos e verdadeiros. Passados mais de meio século do seu lançamento, permanece assombrosamente atual. Resistiu ao tempo e se eternizou na mente do espectador. Com a simples menção do seu título, os cinéfilos mais experientes já escutam ao fundo os solos de harmônica da canção tema, composta por John Barry.
Perdidos na Noite conta uma história recorrente no imaginário americano: um rapaz saído do interior vem tentar a sorte na cidade grande e acaba triturado pela vida. O jovem em questão é o ingênuo texano Joe Buck (Jon Voight), que desembarca em Nova Iorque com o sonho de ganhar a vida como garoto de programa. Ao invés de sucesso, conhece Enrico Rizzo (Dustin Hoffman), apelidado de Ratso, um ladrão vigarista em petição de miséria, que vive num prédio condenado e transita pela cidade a mancar feito um aleijado tuberculoso. O encontro resulta na soma de duas solidões, mas também no nascimento de uma amizade verdadeira e honesta.
O relacionamento homoafetivo que os protagonistas estabelecem não é caracterizado para além do permitido naqueles longínquos anos 1960. O que vemos, portanto, é uma sucessão de cenas melodramáticas, que envolvem outros tantos personagens peculiares. O ponto culminante se dá em uma festa lisérgica, bem ao estilo daquelas oferecidas por celebridades como Andy Warhol.
O filme é uma adaptação do livro Midnight Cowboy, escrito em 1965 pelo americano James Leo Herlihy. O roteiro é de autoria de Waldo Salt, um experiente roteirista de Hollywood, que foi incluído na lista negra do macarthismo. Trabalhou anos como um ghost writer e, ao retomar a carreira, ganhou o Óscar de melhor roteiro adaptado – também escreveu Amargo Regresso e Sérpico. Salt se manteve fiel ao texto original, mas soube levar o relacionamento entre os dois personagens para o centro da sua narrativa. O resultado foi um retrato emocional genuíno de como dois homens sem esperanças tentam sobreviver à margem da sociedade.
A direção de John Schlesinger mostra-se vital na construção do filme. Quando não está concentrado em enquadrar os personagens, o diretor volta suas lentes para uma Nova Iorque suja e miserável. Alcançou realismo. A cidade imensa e apinhada de gente solitária, palco de frustrações e desventuras, vira personagem marcante nessa história. Serve de pano de fundo para aqueles que estão... perdidos na noite. Neste ponto é preciso reconhecer que o título em português ressaltou uma camada importante do filme e destacou o caráter universal da história.
Muitos críticos reclamam da abordagem psicológica rasa e do oportunismo em misturar trilha sonora e fotografia desleixada, numa linguagem de videoclipe com forte apelo comercial. Bobagem! O cinema sempre usou tais truques – e continua usando – para hipnotizar espectadores. Mas é inegável que Perdidos na Noite ganhou força quando registrou as atuações espetaculares de Jon Voight e Dustin Hoffman. Para muitos cinéfilos, o filme tem lugar garantido entre as obras-primas.
Na cerimônia do Óscar de 1970, o público se surpreendeu ao ver um filme com temática adulta – para a época, quase pornográfico – conquistar as estatuetas de melhor filme, melhor diretor e melhor roteiro adaptado. Uma conquista e tanto, que faz de Perdidos na Noite um filme que não pode ficar apenas na prateleira dos colecionadores, ou ocupar um verbete na enciclopédia dos melhores do cinema. É uma obra para ser vista e revista de tempos em tempos. E por que não agora?
UMA CIDADE INTEIRA COMO PANO DE FUNDO
Na década de 1980, Perdidos na Noite era o nome de um programa de auditório precário, improvisado e bagunçado, apresentado nas noites de sábado por um certo Fausto Silva. Quem estivesse disposto a assistir, precisava sintonizar as emissoras de baixa audiência: no começo foi a TV Gazeta, depois a Record e depois a Bandeirantes – quando o programa ganhou cobertura nacional. Irreverente e dono de uma personalidade carismática, o apresentador ia na contramão dos manuais de produção para a televisão. Pronunciava palavras de baixo calão, debochava das atrações que trazia para o palco e incentivava a plateia a seguir na mesma trilha.O Brasil passava pela redemocratização e parecia disposto a encontrar uma nova expressão para a modernidade que estava por vir. Fausto Silva foi o primeiro a perceber que ela seria bagunçada. Apresentava quadros de humor anárquico e apostava no inesperado para aumentar a audiência com muita rapidez. Aumentou tanto que escalou para a emissora de maior audiência. Estrelou um programa de auditório que imperou por décadas nas tardes de domingo.
Poucos se deram conta, mas antes do Faustão, Perdidos na Noite era o título de um filme de sucesso, dirigido em 1969 pelo inglês John Schlesinger. Era criança quando foi lançado, portanto só assisti uma dúzia de anos depois – ao passar na TV aberta e mais tarde no videocassete. Com temática adulta e jeitão de filme independente, mostrava personagens transgressores, que viviam perdidos numa Nova Iorque nada glamourosa. Aqui no Brasil, serviu de inspiração para arrebanhar os jovens telespectadores que se sentiam perdidos nas noites de sábado.
Como tantos filmes que conseguem espelhar sua época e refletir os tormentos da alma humana, Perdidos na Noite se tornou um marco na história do cinema. Narra uma história envolvente, carregada de sentimentos profundos e verdadeiros. Passados mais de meio século do seu lançamento, permanece assombrosamente atual. Resistiu ao tempo e se eternizou na mente do espectador. Com a simples menção do seu título, os cinéfilos mais experientes já escutam ao fundo os solos de harmônica da canção tema, composta por John Barry.
Perdidos na Noite conta uma história recorrente no imaginário americano: um rapaz saído do interior vem tentar a sorte na cidade grande e acaba triturado pela vida. O jovem em questão é o ingênuo texano Joe Buck (Jon Voight), que desembarca em Nova Iorque com o sonho de ganhar a vida como garoto de programa. Ao invés de sucesso, conhece Enrico Rizzo (Dustin Hoffman), apelidado de Ratso, um ladrão vigarista em petição de miséria, que vive num prédio condenado e transita pela cidade a mancar feito um aleijado tuberculoso. O encontro resulta na soma de duas solidões, mas também no nascimento de uma amizade verdadeira e honesta.
O relacionamento homoafetivo que os protagonistas estabelecem não é caracterizado para além do permitido naqueles longínquos anos 1960. O que vemos, portanto, é uma sucessão de cenas melodramáticas, que envolvem outros tantos personagens peculiares. O ponto culminante se dá em uma festa lisérgica, bem ao estilo daquelas oferecidas por celebridades como Andy Warhol.
O filme é uma adaptação do livro Midnight Cowboy, escrito em 1965 pelo americano James Leo Herlihy. O roteiro é de autoria de Waldo Salt, um experiente roteirista de Hollywood, que foi incluído na lista negra do macarthismo. Trabalhou anos como um ghost writer e, ao retomar a carreira, ganhou o Óscar de melhor roteiro adaptado – também escreveu Amargo Regresso e Sérpico. Salt se manteve fiel ao texto original, mas soube levar o relacionamento entre os dois personagens para o centro da sua narrativa. O resultado foi um retrato emocional genuíno de como dois homens sem esperanças tentam sobreviver à margem da sociedade.
A direção de John Schlesinger mostra-se vital na construção do filme. Quando não está concentrado em enquadrar os personagens, o diretor volta suas lentes para uma Nova Iorque suja e miserável. Alcançou realismo. A cidade imensa e apinhada de gente solitária, palco de frustrações e desventuras, vira personagem marcante nessa história. Serve de pano de fundo para aqueles que estão... perdidos na noite. Neste ponto é preciso reconhecer que o título em português ressaltou uma camada importante do filme e destacou o caráter universal da história.
Muitos críticos reclamam da abordagem psicológica rasa e do oportunismo em misturar trilha sonora e fotografia desleixada, numa linguagem de videoclipe com forte apelo comercial. Bobagem! O cinema sempre usou tais truques – e continua usando – para hipnotizar espectadores. Mas é inegável que Perdidos na Noite ganhou força quando registrou as atuações espetaculares de Jon Voight e Dustin Hoffman. Para muitos cinéfilos, o filme tem lugar garantido entre as obras-primas.
Na cerimônia do Óscar de 1970, o público se surpreendeu ao ver um filme com temática adulta – para a época, quase pornográfico – conquistar as estatuetas de melhor filme, melhor diretor e melhor roteiro adaptado. Uma conquista e tanto, que faz de Perdidos na Noite um filme que não pode ficar apenas na prateleira dos colecionadores, ou ocupar um verbete na enciclopédia dos melhores do cinema. É uma obra para ser vista e revista de tempos em tempos. E por que não agora?
Resenha crítica do filme Perdidos na Noite
Título original: Midnight CowboyAno de produção: 1969
Direção: John Schlesinger
Roteiro: Waldo Salt
Elenco: Dustin Hoffman, Jon Voight, Sylvia Miles, John McGiver, Brenda Vaccaro, Barnard Hughes, Ruth White, Jennifer Salt, Gilman Rankin, Georgann Johnson, Anthony Holland, Bob Balaban, Paul Rossilli, e Craig Carrington
Direção: John Schlesinger
Roteiro: Waldo Salt
Elenco: Dustin Hoffman, Jon Voight, Sylvia Miles, John McGiver, Brenda Vaccaro, Barnard Hughes, Ruth White, Jennifer Salt, Gilman Rankin, Georgann Johnson, Anthony Holland, Bob Balaban, Paul Rossilli, e Craig Carrington
Belíssima história sobre companheirismo embalada pela música maravilhosa de John Barry. Show de atuações de Hoffman e Voight. Não tinha como dar errado.
ResponderExcluirSim, Thomaz, o filme é um divisor de águas no cinema americano. Não só no tema, mas também na estética.
ResponderExcluirAdorei o texto, aliás sua opinião é indispensável pra mim
ResponderExcluirMuito obrigado! Estou sempre aberto para trocar boas ideias!!!!!!
ExcluirBela crítica! Coloca a importância dessa obra prima em seu devido patamar.
ResponderExcluirMuito obrigado, Armando. Tentei ser reverente a um filme inspirador.
ExcluirClássico filme,na minha infância passava corujão,que saudade do tema e autores novos.
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