Psicose: o maior sucesso de Alfred Hitchcock
Psicose: filme dirigido por Alfred Hitchcock
O PRIMEIRO FILME DE TERROR MODERNO
Meus pais assistiram ao filme Psicose no cinema. Vivenciaram o retumbante impacto que ele provocou na época do seu lançamento e se arrepiaram com a história forte e chocante que trazia. Alfred Hitchcock o realizou em 1960, o mesmo ano em que nasci, portanto, só tive a oportunidade de conferir o filme muitos anos depois, quando me deparei com ele na sessão de clássicos da locadora. É óbvio que no meu videocassete a história não pareceu assim tão forte, nem chocante!Mas nenhum cinéfilo que se preze passa incólume por Psicose. O título marcou gerações e mudou a história do cinema, dentro e fora das salas de exibição, na frente e por trás das câmeras. Para as novas gerações, o filme talvez não passe de uma mera curiosidade, mas os que se dispuserem a fazer uma visita guiada, podem se surpreender. Para começo de conversa, vamos a uma rápida sinopse.
Marion Crane, interpretada por Janet Leigh, rouba 40 mil dólares da imobiliária onde trabalha. É sexta-feira e ela decide dirigir sem rumo pelas estradas, imaginando que o crime só será descoberto na segunda-feira. Acaba parando num sombrio Motel, onde conhece Norman Bates, o proprietário. Os dois conversam. Ele fala sobre sua vida e seus desentendimentos com a mãe, que mora na casa dos fundos. Ela, depois de esfriar a cabeça, se mostra arrependida do seu deslize e decide que irá devolver o dinheiro.
E de repente, vem o ponto de virada! É desnecessário dar qualquer aviso de spoiler, já que se passaram 60 anos desde o lançamento do filme – e já que a cena onde Marion é esfaqueada no chuveiro, ao som de um violino estridente e perturbador, tornou-se um dos maiores ícones do cinema mundial. Para horror da plateia, ela é assassinada com uma violência nunca antes vista no cinema. Desorientado com a morte da estrela na metade do filme, o espectador acompanha a irmã de Marion e seu namorado, tentando desvendar seu desaparecimento com a ajuda de um detetive. Mas Hitchcock reserva ainda muitas surpresas e reviravoltas nessa história.
O roteiro de Psicose foi escrito por Joseph Stefano, baseado no romance homônimo de Robert Bloch, por sua vez baseado na história real do assassino Ed Gein. Hitchcock comprou os direitos de adaptação do livro e também todas as cópias disponíveis nas livrarias, para assegurar que ninguém o lesse, mantendo o final em sigilo. Essa foi a primeira jogada de marketing do mestre do suspense. Muitas outras viriam na sequência, garantindo o enorme sucesso nas bilheterias.
A violência gráfica e a provocação sexual apresentadas em Psicose foram de encontro aos costumes da época, testando os limites da censura. A película foi filmada em branco e preto, não apenas como forma de cortar custos – sem o engajamento dos grandes estúdios, receosos quanto á recepção do público, Hitchcock teve que bancar parte do orçamento – mas também para conter o impacto das cenas repletas de sangue. Era inimaginável no início dos anos 1960 que o sangue vermelho simplesmente espirrasse na cara do público. Mas depois que o diretor abriu a porteira, esse tabu caiu por terra e passou a jorrar abundante nas telas de cinema.
A câmera de Hitchcock segue sempre os personagens principais, criando uma narrativa em primeira pessoa, que tem como objetivo estabelecer a empatia entre eles e o público. Conseguiu criar suspense e ampliar o impacto nos pontos de virada. O estilo do diretor, improvisando e tomando decisões no set de filmagem a despeito do que estava inicialmente planejado no roteiro – em parte para evitar vazamentos de informações – também influenciou na versão final do filme, que chegou às salas de exibição.
Psicose inovou também na estrutura narrativa. O roteirista Joseph Stefano abriu o filme apresentando Marion como protagonista. No entanto, sua morte prematura exigiu que fizesse outras mudanças em relação ao romance original. Como o público teria que desenvolver empatia por Norman Bates, que a partir daí conduziria a narrativa, ele foi caracterizado como um jovem simpático e de boa aparência, ao contrário do estereótipo do vilão descrito no livro.
Outro ponto de destaque em Psicose está na sua trilha sonora. É de arrepiar! Seu autor, Bernard Herrmann, ajudou a moldar a linguagem musical do cinema. Foi ele quem primeiro usou o ataque das cordas em semínimas para criar tensão e movimento, um recurso inovador na época e que ainda hoje é carta na manga dos compositores para cinema. Seu último trabalho foi em Taxi Driver, filme de Martin Scorsese. Quem pretende compor para cinema tem que estudar a fundo a vasta obra do compositor.
Para concluir, é preciso lembrar que Psicose já teve um remake, dirigido em 1998 por Gus Van Sant. O que ele fez foi simplesmente filmar novamente o roteiro de Joseph Stefano, onde os atores interpretam o mesmo texto, mas de forma diferente. Como proposta cinematográfica, o diretor deliberadamente decidiu não fazer um remake, mas sim, fazer praticamente o mesmo filme do ponto de vista dramático. Pode ter valor acadêmico, para os estudiosos da sétima arte, mas para os cinéfilos, não funcionou! Soou como uma perda de tempo, já que nada de novo foi acrescentado.
Psicose é o primeiro filme de terror moderno. Marcou nossos pais e que merece ser visitado por nossos filhos e netos.
A violência gráfica e a provocação sexual apresentadas em Psicose foram de encontro aos costumes da época, testando os limites da censura. A película foi filmada em branco e preto, não apenas como forma de cortar custos – sem o engajamento dos grandes estúdios, receosos quanto á recepção do público, Hitchcock teve que bancar parte do orçamento – mas também para conter o impacto das cenas repletas de sangue. Era inimaginável no início dos anos 1960 que o sangue vermelho simplesmente espirrasse na cara do público. Mas depois que o diretor abriu a porteira, esse tabu caiu por terra e passou a jorrar abundante nas telas de cinema.
A câmera de Hitchcock segue sempre os personagens principais, criando uma narrativa em primeira pessoa, que tem como objetivo estabelecer a empatia entre eles e o público. Conseguiu criar suspense e ampliar o impacto nos pontos de virada. O estilo do diretor, improvisando e tomando decisões no set de filmagem a despeito do que estava inicialmente planejado no roteiro – em parte para evitar vazamentos de informações – também influenciou na versão final do filme, que chegou às salas de exibição.
Psicose inovou também na estrutura narrativa. O roteirista Joseph Stefano abriu o filme apresentando Marion como protagonista. No entanto, sua morte prematura exigiu que fizesse outras mudanças em relação ao romance original. Como o público teria que desenvolver empatia por Norman Bates, que a partir daí conduziria a narrativa, ele foi caracterizado como um jovem simpático e de boa aparência, ao contrário do estereótipo do vilão descrito no livro.
Outro ponto de destaque em Psicose está na sua trilha sonora. É de arrepiar! Seu autor, Bernard Herrmann, ajudou a moldar a linguagem musical do cinema. Foi ele quem primeiro usou o ataque das cordas em semínimas para criar tensão e movimento, um recurso inovador na época e que ainda hoje é carta na manga dos compositores para cinema. Seu último trabalho foi em Taxi Driver, filme de Martin Scorsese. Quem pretende compor para cinema tem que estudar a fundo a vasta obra do compositor.
Para concluir, é preciso lembrar que Psicose já teve um remake, dirigido em 1998 por Gus Van Sant. O que ele fez foi simplesmente filmar novamente o roteiro de Joseph Stefano, onde os atores interpretam o mesmo texto, mas de forma diferente. Como proposta cinematográfica, o diretor deliberadamente decidiu não fazer um remake, mas sim, fazer praticamente o mesmo filme do ponto de vista dramático. Pode ter valor acadêmico, para os estudiosos da sétima arte, mas para os cinéfilos, não funcionou! Soou como uma perda de tempo, já que nada de novo foi acrescentado.
Psicose é o primeiro filme de terror moderno. Marcou nossos pais e que merece ser visitado por nossos filhos e netos.
Resenha crítica do filme Psicose
Ano de produção: 1960Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Joseph Stefano
Elenco: Anthony Perkins, Janet Leigh, Vera Miles, John Gavin, Martin Balsam, John McIntire, Simon Oakland, Vaughn Taylor, Frank Albertson, Lurene Tuttle, Pat Hitchcock, John Anderson e Mort Mills
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLendo sua crônica tão bem delineada me recordo de ter me interessado por psicologia depois de ver o comportamento de Norman Bates ( um dos personagens mais marcante de todos os tempos)!! Resumo com sua frase que já diz tudo:"Psicose é um clássico irretocável"!
ResponderExcluirMuito obrigado, Priscila. Há muito o que ser dito sobre Psicose. Inclusive a realização do filme foi dramatizada no filme Hitchcock, onde Anthony Hopkins interpretou o mestre do suspense. Vale a pena conferir!
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