Sou ou Não Sou: comédia zoando com os nazistas
Sou ou Não Sou: direção de Alan Johnson
HUMOR REFINADO, COM TIMING PRECISO
Mel Brooks numa comédia refinada, onde Hitler e seus nazistas são retratados com deboche? O primeiro filme que veio à sua mente provavelmente foi o ótimo Primavera Para Hitler (The Producers, no original), que o comediante realizou em 1968. Mas o tema desta crônica é outro: quero falar do filme Sou ou Não Sou, dirigido em 1983 por Alan Johnson. Esse é um trabalho menos conhecido de Mel Brooks, onde ele, Anne Bancroft e Charles Durning dão um show de carisma e talento. Trata-se de um remake da produção homônima dirigida em 1942 por Ernst Lubitsch, cineasta alemão que desde a década de 1920 atuava em Hollywood.À primeira vista, Sou ou Não Sou é apenas um filme antiquado, mas na medida em que desfia suas cenas engraçadas e inteligentes, torna-se cativante e envolvente. Sua trama é ágil e bem costurada. Segue com um timing preciso e impõe um tom teatral que presta homenagem à arte de representar. Enfim, é uma comédia, gênero com tantas vertentes quanto são os estados de espírito do público, que se segmenta por idade, sexo e grau de escolaridade. O que tento dizer com sutileza é que se você for um adolescente à procura de gargalhadas frouxas, talvez prefira zapear um pouco mais antes de escolher assistir a esse filme.
Sou ou Não Sou me capturou logo na primeira cena: Anne Bancroft e Mel Brooks no palco, dançando e cantando em dueto a clássica canção Sweet Georgia Brown... em polonês! Trata-se de um standard do jazz composto em 1925, que já foi gravado e regravado por todos os astros da música mundial, mas não com a letra e a pronúncia inusitada que a dupla executa com desenvoltura. Hilário! Guardadas todas as proporções, seria como ouvir Carmen Miranda cantado Tico-tico no Fubá em japonês!
Antes de entrar na sinopse, quero fazer uma observação importante: quando a primeira versão do filme foi realizada em 1942, a Segunda Guerra estava em andamento e não havia por parte da opinião pública uma compreensão abrangente, nem o conhecimento exato das atrocidades que os nazistas cometiam. Esta versão de 1983 seguiu praticamente o roteiro original, inclusive mantém diversas linhas de diálogo – ainda que tenha fundido e alterado alguns personagens. Isso atenuou a sombra tenebrosa do nazismo e deu um tom farsesco à trama. Ressaltou o caráter cômico da obra, em contraste com o clima de comédia romântica do filme original.
Sou ou Não Sou se passa em 1939. Frederick Bronski (Mel Brooks) e Anna Bronski (Anne (Bancroft) são um casal de atores, donos de um pequeno teatro em Varsóvia. Ele, um canastrão ególatra que se exibe por meio de textos shakespearianos. Ela, uma femme fatale que se derrete para os jovens soldados na plateia. Mas eis que os nazistas invadem a Polônia e o casal vê seu teatro servindo de refúgio para os judeus locais e toda sorte de perseguidos. É quando entra em cena o tenente Andre Sobinski (Tim Matherson), suposto amante de Anna, que pede ajuda para capturar um traidor. O Casal então se mete em uma trama arriscada, que envolve um certo Professor Siletski (José Ferrer), na tentativa de enganar os SS liderados pelo coronel Erhardt (Charles Durning) e pelo capião Schultz (Christopher Lloyd). O que se vê é uma sucessão de piadas, palhaçadas e trocadilhos, numa teia complicada tecida com traições, trapaças, cadáveres ocultos, trocas de identidades... A trupe inteira do teatro Bronski se une para tapear os nazistas, escapar da Polônia e salvar quantos judeus conseguirem.
A direção de Alan Johnson é conservadora e protocolar. Mais conhecido por seu trabalho como coreógrafo – assinou os memoráveis números de dança em Primavera para Hitler e Jovem Frankenstein – é difícil acreditar que ele tenha mantido o controle criativo do filme. Isso deve ter ficado mesmo nas mãos do próprio Mel Brooks, o produtor e ator principal de Sou ou Não Sou. O fato é que esse filme não alcançou a mesma aura de sucesso que envolveu os filmes anteriores realizados pelo comediante. É divertido e inteligente, mas terminamos com a impressão de que faltou uma pitada a mais daquela mistura de ousadia e subversão que costuma temperar as comédias de Mel Brooks. Mesmo assim, fica a minha recomendação: vale a pena conferir!
Ah, e para finalizar, lembro que estou à procura de comédias mais escrachadas, com humor inteligente e capaz de gerar explosões de gargalhadas frouxas – para aqueles dias em que meu ímpeto adolescente falar mais alto. Aceito recomendações!
Resenha crítica do filme Sou ou Não Sou
Ano de produção: 1983Direção: Alan Johnson
Roteiro: Thomas Meeham, Ronny Graham, Edwin Justus Mayer e Melchior Lengyel
Elenco: Mel Brooks, Anne Bancroft, Charles Durning, Christopher Lloyd, Tim Matheson, José Ferrer, Ronny Graham, Estelle Reiner, Jack Riley, Lewis J. Stadlen, George Gaynes, George Wyner, Earl Boen, Ivor Barry, William Glover, James Haake, Marley Sims, Max Brooks, Larry Rosenberg, Milt Jamin, Wolf Muser, Henry Brandon, Tucker Smith, Curt Lowens, Terence Marsh, Paul Ratliff e Scott Beach
Comentários
Postar um comentário