Marjorie Prime: um drama intimista falando da vida e da morte
Marjorie Prime: filme dirigido por Michael Almereyda
PROJEÇÕES HOLOGRÁFICAS INTELIGENTES A SERVIÇO DO BOM CINEMA
Na juventude, a quantos filmes nossos avós tinham a oportunidade de assistir ao longo de um mês? Um? Dois? A quantas peças de teatro por ano? Uma? Duas? Hoje, um adolescente está exposto a mais de cinco ou seis horas diárias de vídeos, cinema e TV, com acesso rápido e fácil a incontáveis opções, catalogadas e classificadas por gêneros, estilos, atores, diretores... Porém, com a fartura veio também a saturação!
Nunca se produziu tanto cinema como agora. As boas histórias e as novidades com alguma relevância começaram a escassear. As produções em escala industrial miram o público mais lucrativo – adolescentes e jovens em busca de divertimento e de imersão na cultura pop – oferecendo cada vez mais do mesmo.
Quem aprecia cinema de qualidade e exige mais do conteúdo que consome, não se contenta com a infantilidade dos super-heróis, comédias adolescente ou dramas rasos. Temos que perder tempo fuçando nos catálogos dos serviços de streaming, pesquisando, pesquisando... Quando encontramos um título que chama a atenção, Ludy e eu não perdemos a oportunidade de conferir. Dia desses, nossa grande descoberta foi o filme Marjorie Prime, de 2017, roteirizado e dirigido por Michael Almereyda.
O primeiro aviso a dar sobre esse filme é que ele foi realizado como uma adaptação da peça de teatro de mesmo nome – premiada e consagrada pela crítica especializada – escrita por Jordan Harrison. O segundo aviso é que não se trata propriamente de uma ficção científica, nos moldes do que o mercado cinematográfico sacramentou.
Vamos à sinopse: Marjorie Prime (Lois Smith) é uma ex-violinista octogenária começando a manifestar o Mal de Alzheimer. Vive com a filha, Tess (Geena Davis) e o genro. Jon (Tim Robins). A protagonista passa os dias conversando com a versão digital do falecido marido, Walter (Jon Hamm), projetada na sua sala de estar. O holograma, controlado por uma poderosa inteligência artificial, emula à perfeição a fala, os trejeitos e a personalidade do retratado. É como se o próprio estivesse ali, sentado no sofá, disponível o tempo todo para conversar. Memórias, rusgas, frustrações, confissões... uma vida inteira de convívio continua fluindo entre Majorie e o falecido, enquanto a realidade segue paralela no dia-a-dia da filha e do genro.
A história de todos os membros da família vai sendo revelada aos poucos. Vemos emergir sentimentos e emoções em profundidade, que vão desenhando os personagens em detalhes. Porém, qualquer coisa que se diga a mais sobre tais desdobramentos, fatalmente resultará em spoilers. Mas há aspectos que podem ajudar a formar uma opinião sobre esse belo e sensível filme.
A começar por sua ideia central: uma cópia inteligente de alguém que já morreu, apta a interagir com verossimilhança, que aprende a se comportar como o falecido a partir dos ensinamentos que recebe dos... parentes! Ora, a palavra projeção cai aqui como uma luva! Mais do que um holograma, ele se torna uma projeção do mundo interno de cada um que se dispõe a ensiná-lo: o marido interno que está na memória falha de Marjorie, o pai interno que a filha guarda com ela, o sogro idealizado...
É nesse jogo de projeções que os diálogos seguem fluentes, num texto muito bem construído e adaptado para o cinema. O tom e o ritmo impostos pelo diretor insinuam aqueles de uma sessão de terapia. A trilha sonora é belíssima e envolvente. As atuações de Lois Smith, Jon Hamm, Tim Robbins e Geena Davis não são teatrais. Ao contrário, eles jogam o tempo todo com a câmera, que está sempre posicionada com discrição, captando o cotidiano dos personagens.
Embora a maior parte da ambientação seja interna e a mise-en-scène não privilegie a mobilidade, o diretor Michael Almereyda mostra saber o que faz: cinema! Quando retirou a história dos palcos, deu a ela a luminosidade que não consegue ter no teatro. A luz do dia, macia e sempre muito brilhante, enche a tela de vida. As poucas cenas externas são arejadas e permitem que os personagens respirem, talvez para que tenham fôlego para discutir sobre a vida e a morte.
É disso que se trata o filme Marjorie Prime, uma oportunidade para falar da vida e da morte, com inteligência, sensibilidade e maturidade. Ludy e eu conversamos muito depois do filme, trocando impressões e lembrando das cenas e dos diálogos que mais nos marcaram. E fizemos isso com muito gosto.
Nunca se produziu tanto cinema como agora. As boas histórias e as novidades com alguma relevância começaram a escassear. As produções em escala industrial miram o público mais lucrativo – adolescentes e jovens em busca de divertimento e de imersão na cultura pop – oferecendo cada vez mais do mesmo.
Quem aprecia cinema de qualidade e exige mais do conteúdo que consome, não se contenta com a infantilidade dos super-heróis, comédias adolescente ou dramas rasos. Temos que perder tempo fuçando nos catálogos dos serviços de streaming, pesquisando, pesquisando... Quando encontramos um título que chama a atenção, Ludy e eu não perdemos a oportunidade de conferir. Dia desses, nossa grande descoberta foi o filme Marjorie Prime, de 2017, roteirizado e dirigido por Michael Almereyda.
O primeiro aviso a dar sobre esse filme é que ele foi realizado como uma adaptação da peça de teatro de mesmo nome – premiada e consagrada pela crítica especializada – escrita por Jordan Harrison. O segundo aviso é que não se trata propriamente de uma ficção científica, nos moldes do que o mercado cinematográfico sacramentou.
Vamos à sinopse: Marjorie Prime (Lois Smith) é uma ex-violinista octogenária começando a manifestar o Mal de Alzheimer. Vive com a filha, Tess (Geena Davis) e o genro. Jon (Tim Robins). A protagonista passa os dias conversando com a versão digital do falecido marido, Walter (Jon Hamm), projetada na sua sala de estar. O holograma, controlado por uma poderosa inteligência artificial, emula à perfeição a fala, os trejeitos e a personalidade do retratado. É como se o próprio estivesse ali, sentado no sofá, disponível o tempo todo para conversar. Memórias, rusgas, frustrações, confissões... uma vida inteira de convívio continua fluindo entre Majorie e o falecido, enquanto a realidade segue paralela no dia-a-dia da filha e do genro.
A história de todos os membros da família vai sendo revelada aos poucos. Vemos emergir sentimentos e emoções em profundidade, que vão desenhando os personagens em detalhes. Porém, qualquer coisa que se diga a mais sobre tais desdobramentos, fatalmente resultará em spoilers. Mas há aspectos que podem ajudar a formar uma opinião sobre esse belo e sensível filme.
A começar por sua ideia central: uma cópia inteligente de alguém que já morreu, apta a interagir com verossimilhança, que aprende a se comportar como o falecido a partir dos ensinamentos que recebe dos... parentes! Ora, a palavra projeção cai aqui como uma luva! Mais do que um holograma, ele se torna uma projeção do mundo interno de cada um que se dispõe a ensiná-lo: o marido interno que está na memória falha de Marjorie, o pai interno que a filha guarda com ela, o sogro idealizado...
É nesse jogo de projeções que os diálogos seguem fluentes, num texto muito bem construído e adaptado para o cinema. O tom e o ritmo impostos pelo diretor insinuam aqueles de uma sessão de terapia. A trilha sonora é belíssima e envolvente. As atuações de Lois Smith, Jon Hamm, Tim Robbins e Geena Davis não são teatrais. Ao contrário, eles jogam o tempo todo com a câmera, que está sempre posicionada com discrição, captando o cotidiano dos personagens.
Embora a maior parte da ambientação seja interna e a mise-en-scène não privilegie a mobilidade, o diretor Michael Almereyda mostra saber o que faz: cinema! Quando retirou a história dos palcos, deu a ela a luminosidade que não consegue ter no teatro. A luz do dia, macia e sempre muito brilhante, enche a tela de vida. As poucas cenas externas são arejadas e permitem que os personagens respirem, talvez para que tenham fôlego para discutir sobre a vida e a morte.
É disso que se trata o filme Marjorie Prime, uma oportunidade para falar da vida e da morte, com inteligência, sensibilidade e maturidade. Ludy e eu conversamos muito depois do filme, trocando impressões e lembrando das cenas e dos diálogos que mais nos marcaram. E fizemos isso com muito gosto.
Mesmo agora, enquanto escrevo, a vontade é de esmiuçar o filme e comentar sobre a história. Mas para isso, teria que lançar alguns spoilers e isso é coisa que não faço!
Resenha crítica do filme Marjorie Prime
Data de produção: 2017
Direção: Michael Almereyda
Roteiro: Michael Almereyda
Elenco: Lois Smith, Hannah Gross, Jon Hamm, Tim Robbins, Geena Davis, Stephanie Andujar e Leslie Lyles
Foi uma ótima análise em relação as produções atuais, nos permitindo a estagnação, pois, atualmente, muitos filmes, parecem plágios dos anteriores. Um total non sense, já que não há nada para comentar após assisti-lo, como fazíamos outrora. Tem sido cada vez mais raros, os filmes que após assistirmos, nos permite uma análise inteligente, reflexiva, etc...
ResponderExcluirQuanto ao filme, por você citado (Marjorie Prime), infelizmente, ainda não assisti, mas tentarei encontrar em uma locadora, ou mesmo obter uma cópia. Parabens pelo seu precioso e analítico trabalho sobre a filmografia de outrora e a atual. um abraço.
Muito obrigado, amigo! Gosto muito de cinema e estou empolgado em poder compartilhar informações sobre o tema. Quanto ao filme Marjorie Prime, assisti no serviço de streaming Now. Está disponível na programação do canal Film&Arts. Um abraço!
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