O Jogo da Imitação: como Alan Turing ajudou a derrotar os nazistas

Cena do filme O Jogo da Imitação
O Jogo da Imitação: dirigido por Morten Tyldum

UMA HISTÓRIA BASEADA EM FATOS, CONTADA COM IMAGINAÇÃO

Já havia ouvido falar sobre Alan Turing, mas não sabia nada a respeito da sua vida pessoal. Nos bancos do curso técnico em eletrônica, que frequentei na adolescência, aprendi que foi ele um dos gênios que trouxeram a humanidade para a era digital. E das minhas leituras dos clássicos da ficção científica, soube que existe um certo teste de Turing, que consiste em uma série de perguntas feitas a um interlocutor, com o intuito de descobrir se ele é um humano ou... uma máquina!
        O sujeito era mesmo um visionário. Acreditava que as máquinas estavam destinadas a se tornar inteligentes. Suas proezas tecnológicas entraram para os livros de história, porém, como personagem, Alan Turing permaneceu um desconhecido do grande público. Até que, em 2014, chegou aos cinemas o filme O Jogo da Imitação, dirigido pelo norueguês Morten Tyldum. Por meio dessa produção independente, vemos que suas ideias arrojadas foram usadas na Segunda Guerra Mundial para derrotar os nazistas.
        Mas não espere rigor histórico nem biografia precisa. O filme é uma ótima dramatização cinematográfica, escrita com competência, dirigida com talento e estrelada por um Benedict Cumberbatch inspirado. O próprio título do filme é uma referência ao tal Jogo da imitação criado por Turing nos anos 50, para reconhecer e estabelecer as diferenças entre a inteligência humana e aquela manifestada por uma máquina tentando imitá-la. Turing, que também foi um dos responsáveis pela primeira transmissão de telefone digital da história, feita em 1948, era um sujeito muito à frente do seu tempo.
        O filme nos apresenta ao Alan Turing
 que foi convocado pelo governo britânico para integrar uma força-tarefa dedicada a decifrar o código nazista, que era utilizada nas máquinas Enigma – calculadoras rudimentares, mas eficientes na troca das mensagens ultrassecretas, que movimentavam a gigantesca máquina de guerra dos alemães. Turing, um gênio arrogante e de difícil trato, enfrentou pressões políticas, rejeição da equipe, intromissões de espiões sorrateiros e teve sua vida sexual devassada. Vamos detalhar melhor essa sinopse:
        O filme abre em 1951, quando Alan Turing (Benedict Cumberbatch) está detido para interrogatório. O detetive Nock (Rory Kinnear) suspeita que ele esteja metido em algum tipo de trama de espionagem. Para entender melhor o caso, somos transportados para 1939, quando o arrogante protagonista é contratado para integrar a equipe de especialistas em criptografia, comandada por Alastair Denniston (Charles Dance). Turing se isola, tentando criar uma espécie de máquina que o ajudará a decifrar o código nazista.
        Para entender as origens do seu pensamento e da sua complexa personalidade, somos transportados para 1928, quando o jovem Turing (Alex Lawther) descobre a criptografia por meio do seu amigo Christopher Morcom (Jack Bannon). O relacionamento romântico entre os jovens, a luta de Turing para convencer o governo a financiar sua máquina e a triste vida que o protagonista leva durante o pós-guerra, perseguido por sua homossexualidade, são momentos narrativos que vão se sucedendo, até completar um quebra-cabeça.
        Os feitos do protagonista durante a guerra, no entanto, são espetaculares. Apoiado diretamente por Winston Churchill, Turing assume o comando da força-tarefa, demite colegas, contrata a matemática Joan Clarke (Keira Knightley), alia-se ao agente secreto Stewart Menzies (Mark Strong) e se vê obrigado a tomar decisões que implicariam em vida ou morte para milhares de soldados nos campos de batalha.
        O roteiro de O Jogo da Imitação foi escrito por Graham Moore, baseado na biografia intitulada The Enigma, assinada por Andrew Hodges. A abordagem do jovem e iniciante roteirista 
 que lhe rendeu o Óscar de melhor roteiro adaptado  foi bastante original, considerando que o livro no qual se baseou cobre toda a vida de Alan Turing. Graham Moore conhecia muito bem o personagem, a quem admirava desde os tempos acadêmicos. Adicionou doses de suspense e imaginação, criando oportunidades de dramatização com forte sotaque de ficção. O pulo do gato foi identificar os três momentos narrativos do filme, dividi-los em beats dramáticos e espalhá-los ao longo do enredo, oferecendo ao espectador a oportunidade de montar o seu próprio quebra-cabeças, em paralelo àquele enfrentado pelo protagonista.
        O diretor Morten Tyldum adorou o roteiro assim que o leu. Para esse seu primeiro filme em inglês, encarou o desafio de contar uma história genuinamente britânica, repleta de diálogos e estrelada por um time de atores shakespearianos. Sob sua batuta, o filme ganhou um leve tempero de humor, suficiente para tirar do protagonista a aura sombria e triste que o envolve. Sua câmera está sempre a uma distância segura, sem tentar invadir demais os domínios do personagem, apenas nos dando a oportunidade de acompanhá-lo em sua trajetória.
        O que contam os biógrafos, porém, é que Alan Turing não era assim, tão antissocial. Era bem-relacionado no ambiente acadêmico e soube se integrar à imensa equipe que ajudou a decifrar o código nazista. Mas em O Jogo da Imitação, o personagem pelo qual torcemos é produto da criação precisa que envolveu o ator, o diretor e o roteirista. É cinema em sua plenitude, que combina direção de arte, figurinos e ótima fotografia, numa produção impecável.

Resenha crítica do filme O Jogo da Imitação

Data de produção: 2014
Direção: Morten Tyldum
Roteiro: Andrew Hodges e Graham Moore
Elenco: Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode, Mark Strong, Charles Dance, Allen Leech, Matthew Beard, Rory Kinnear, Alex Lawther, Jack Bannon, Victoria Wicks, David Charkham, Tuppence Middleton, James Northcote e Steven Waddington

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