The Night Of: minissérie com John Turturro e Riz Ahmed
The Night Of: minissérie é oito episódios
UMA MINISSÉRIE COM A DENSIDADE DE VÁRIOS LONGA-METRAGENS
Desde garoto me tornei viciado em TV. Nasci em 1960 e faço parte da primeira geração de brasileiros criada na frente desse aparelho mágico – ainda em branco e preto e a válvula. Acumulei horas de desenhos animados, séries, novelas, programas de auditório, filmes... muitos filmes! Foi através da TV que tomei contato com preciosos clássicos, como A Noite Americana, Amarcord e Glória Feita de Sangue. Todos foram exibidos na TV, ainda que com anos de atraso em relação aos cinemas.
Mas é claro que a TV também exibia lixo! Além das séries bobinhas e despretensiosas, era frequente tropeçar em filmes tolos, produzidos especialmente para a televisão. Nesses, a temática era leve, a abordagem superficial e os planos sempre fechados, com enquadramentos mais adequados à telinha. Mas desenvolvi um macete para evitar esse tipo de filme: ficava de olho nos créditos iniciais, até o momento em que era apresentado o nome do roteirista. Se aparecesse o rótulo “Teleplay”, pronto! Mudava de canal, pois isso indicava que o roteiro havia sido escrito para a televisão. Para ser um filme de verdade, tinha que exibir a palavra “Screenplay”.
Talvez tenha vindo daí a minha falta de disposição em acompanhar as séries que hoje dominam os serviços de streaming. Elas sempre foram produzidas para a TV, com baixos orçamentos, sem profundidade dramática e com pudores excessivos. Mas a verdade é que tudo isso mudou. A começar pelo próprio aparelho de TV, que já não é aquela caixa analógica com imagem em baixa resolução e sujeita às mais variadas interferências. A telona digital que hoje podemos ter na sala é cinematográfica e convidativa. Pronta para exibir cinema de verdade!
Mas é claro que a TV também exibia lixo! Além das séries bobinhas e despretensiosas, era frequente tropeçar em filmes tolos, produzidos especialmente para a televisão. Nesses, a temática era leve, a abordagem superficial e os planos sempre fechados, com enquadramentos mais adequados à telinha. Mas desenvolvi um macete para evitar esse tipo de filme: ficava de olho nos créditos iniciais, até o momento em que era apresentado o nome do roteirista. Se aparecesse o rótulo “Teleplay”, pronto! Mudava de canal, pois isso indicava que o roteiro havia sido escrito para a televisão. Para ser um filme de verdade, tinha que exibir a palavra “Screenplay”.
Talvez tenha vindo daí a minha falta de disposição em acompanhar as séries que hoje dominam os serviços de streaming. Elas sempre foram produzidas para a TV, com baixos orçamentos, sem profundidade dramática e com pudores excessivos. Mas a verdade é que tudo isso mudou. A começar pelo próprio aparelho de TV, que já não é aquela caixa analógica com imagem em baixa resolução e sujeita às mais variadas interferências. A telona digital que hoje podemos ter na sala é cinematográfica e convidativa. Pronta para exibir cinema de verdade!
Nas séries atuais, a linguagem do cinema é articulada com desenvoltura e sem limitações. Nada de superficialidade, restrições temáticas ou necessidade de recato. Algumas delas são mais intensas e provocativas do que muitos filmes. Seus roteiros podem se prolongar por páginas e páginas, divididas em episódios aos quais se pode assistir quando quiser – até mesmo todos de uma vez.
A produção que me atraiu para esse universo em expansão foi a minissérie The Night Of, produzida em 2016 e transmitida pela HBO. Trata-se de uma adaptação americana da série de TV britânica Criminal Justice. Assistir aos seus episódios é como se deliciar com um romance em oito capítulos, acompanhando uma história central orbitada por outras paralelas, que se intercalam e formam um todo coeso.
The Night Of nos traz a história de Nasir "Naz" Khan, um jovem nova-iorquino de origem paquistanesa que, numa noite de folga, pega escondido o taxi do pai para ir a uma festa. O acaso o faz se envolver com uma garota rica e os dois terminam na casa dela, em um bairro de classe alta. Quando acorda, Naz encontra a garota morta, esfaqueada com requintes de perversidade. Atordoado, o rapaz mete os pés pelas mãos e toma atitudes que só fazem incriminá-lo cada vez mais.
Logo nos seus primeiros minutos, The Nigh Of coloca as cartas na mesa. A partir daí a série se torna um drama policial e nos faz acompanhar os detalhes da investigação que se segue. Com a entrada em cena do advogado John Stone (John Turturro), a história evolui para um drama de tribunal, com todos os desdobramentos que se espera dos melhores filmes do gênero. Ao longo dos seus oitos episódios, temos tempo de sobra para conhecer os personagens em profundidade e estabelecer com eles uma forte relação de empatia.
A direção competente de Steven Zailliam impõe um ritmo preciso aos episódios, mantendo uma atmosfera de tensão e mistério. O roteiro de Richard Price é preciso em narrar as transformações vividas pelos personagens e surpreende com diferentes complicações e reveses, o que nos mantém curiosos e ávidos para conhecer o desfecho do caso. As atuações de John Turturro, no papel do advogado decadente e de Riz Ahmed, no papel do jovem muçulmano, beiram a perfeição.
Originalmente, a série foi planejada para ter James Gandolfini como estrela principal, no papel do advogado. Com a morte do ator, John Turturro foi escalado e acabou impondo sua presença, construindo um personagem envolvente e carismático. A fotografia em estilo documental, a trilha sonora requintada e a atmosfera nova-iorquina que respiramos em The Night Of não decepcionam. Estamos diante do cinema em um novo formato, mais extenso e muito mais minucioso.
A produção que me atraiu para esse universo em expansão foi a minissérie The Night Of, produzida em 2016 e transmitida pela HBO. Trata-se de uma adaptação americana da série de TV britânica Criminal Justice. Assistir aos seus episódios é como se deliciar com um romance em oito capítulos, acompanhando uma história central orbitada por outras paralelas, que se intercalam e formam um todo coeso.
The Night Of nos traz a história de Nasir "Naz" Khan, um jovem nova-iorquino de origem paquistanesa que, numa noite de folga, pega escondido o taxi do pai para ir a uma festa. O acaso o faz se envolver com uma garota rica e os dois terminam na casa dela, em um bairro de classe alta. Quando acorda, Naz encontra a garota morta, esfaqueada com requintes de perversidade. Atordoado, o rapaz mete os pés pelas mãos e toma atitudes que só fazem incriminá-lo cada vez mais.
Logo nos seus primeiros minutos, The Nigh Of coloca as cartas na mesa. A partir daí a série se torna um drama policial e nos faz acompanhar os detalhes da investigação que se segue. Com a entrada em cena do advogado John Stone (John Turturro), a história evolui para um drama de tribunal, com todos os desdobramentos que se espera dos melhores filmes do gênero. Ao longo dos seus oitos episódios, temos tempo de sobra para conhecer os personagens em profundidade e estabelecer com eles uma forte relação de empatia.
A direção competente de Steven Zailliam impõe um ritmo preciso aos episódios, mantendo uma atmosfera de tensão e mistério. O roteiro de Richard Price é preciso em narrar as transformações vividas pelos personagens e surpreende com diferentes complicações e reveses, o que nos mantém curiosos e ávidos para conhecer o desfecho do caso. As atuações de John Turturro, no papel do advogado decadente e de Riz Ahmed, no papel do jovem muçulmano, beiram a perfeição.
Originalmente, a série foi planejada para ter James Gandolfini como estrela principal, no papel do advogado. Com a morte do ator, John Turturro foi escalado e acabou impondo sua presença, construindo um personagem envolvente e carismático. A fotografia em estilo documental, a trilha sonora requintada e a atmosfera nova-iorquina que respiramos em The Night Of não decepcionam. Estamos diante do cinema em um novo formato, mais extenso e muito mais minucioso.
Resenha crítica da minissérie The Night Of
Data de produção: 2016
Direção: Steven Zaillian
Roteiro: Richard Price
Elenco: John Turturro, Riz Ahmed, Michael Kenneth Williams, Bill Camp, Jeannie Berlin, Peyman Moaadi, Poorna Jagannathan, Glenne Headly, Amara Karan, Ashley Thomas, Paulo Faíscas, Sofia Black D'Elia, Afton Williamson, Ben Shenkman, Paulo Costanzo, Ned Eisenberg, Kirk Jones, Mohammed Bakri e Nabil Elouahabi
Direção: Steven Zaillian
Roteiro: Richard Price
Elenco: John Turturro, Riz Ahmed, Michael Kenneth Williams, Bill Camp, Jeannie Berlin, Peyman Moaadi, Poorna Jagannathan, Glenne Headly, Amara Karan, Ashley Thomas, Paulo Faíscas, Sofia Black D'Elia, Afton Williamson, Ben Shenkman, Paulo Costanzo, Ned Eisenberg, Kirk Jones, Mohammed Bakri e Nabil Elouahabi
Caro Fábio Belik: também tinha verdadeira aversão aos "filmes feito para TV". E na verdade, antes eles eram realmente inferiores ao "filmes de cinema". Coisa que não acontece hoje. Também assisti esta série e ela é realmente espetacular.
ResponderExcluirCaro Fábio Belik: também tinha verdadeira aversão aos "filmes feito para TV". E na verdade, antes eles eram realmente inferiores ao "filmes de cinema". Coisa que não acontece hoje. Também assisti esta série e ela é realmente espetacular.
ResponderExcluirOlá, Fausto. O cinema mudou muito, não é mesmo? Hoje, graças à tecnologia, ele está na nossa casa. Especialmente agora em época de pandemia! Os formatos dos filmes tendem a mudar muito. Já temos vários cineastas pensando em filmes para serem vistos no celular. Para os mais velhos, isso parece uma heresia! Mas... Não há nada a se fazer. Deixemos a arte cinematográfica evoluir!! Abração!
ExcluirOlá, Fábio. Gosto muito das suas crônicas. Me identifico bastante com a contextualização que você faz, pois sou da mesma geração. Preciso ver essa série. Adoro o trabalho do Turturro desde os primeiros filmes dos irmãos Cohen.
ResponderExcluirOlá, RMarinsky! Que bom ter você comentando aqui na Crônica de Cinema! De fato, a presença de John Turturro eleva o nível dessa minissérie, mas a solidez dos personagens também é marcante.
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