O Resgate do Soldado Ryan: um dos melhores dramas sobre a Segunda Guerra

Cena do filme O Resgate do Soldado Ryan
O Resgate do Soldado Ryan: filme de Steven Spielberg

TODOS JÁ FOMOS SOLDADOS E LUTAMOS NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Nós, que amamos cinema, gostamos de colecionar os filmes favoritos. Mas, ao contrário do que alguns acreditam, dentro daquelas capas plastificadas, enfileiradas na estante da sala e organizadas por título, gênero, diretor ou ordem de preferência, não estão guardados DVDs, Blu-rays ou coisa que o valha. O que guardamos ali, preservadas para a posteridade, são experiências emocionais verdadeiras. Histórias vividas intensamente, que ganharam relevância para nós em algum momento.
        Esse poder de transmitir conhecimento, emocionar e gerar aprendizado não é exclusividade do cinema – aliás, é função primária da própria linguagem. Todas as artes narrativas, desenvolvidas desde os tempos em que rodeávamos fogueiras e habitávamos cavernas, servem ao propósito de contar histórias, encenando situações, reais ou imaginárias, de forma a causar reações na audiência. Uma boa história, além de entreter, nos traz a chance de vivenciar situações que dificilmente aconteceriam em nossas vidas. E também nos traz a oportunidade de aprender pelo exemplo.
        Não preciso matar alguém, ser condenado e preso, para saber como é a vida no cárcere. Já assisti a diversos filmes comoventes sobre o tema e faço uma boa ideia do que me esperaria. Não preciso me alistar e ser jogado no front, rastejando para me proteger de bombas errantes e projéteis certeiros para experimentar os horrores da guerra. Já assisti ao filme O Regate do Soldado Ryan, dirigido em 1998 por Steven Spielberg e por isso sei dos custos emocionais de uma tal experiência.
        Com seus incríveis recursos técnicos, o cinema amplia o impacto emocional de uma história. Quando era garoto – tinha uns 15 anos – li o livro O Exorcista, escrito por William Peter Blatty e fiquei empolgado com a narrativa, que acompanhei por duas semanas, sempre antes de dormir. Não me faltou coragem. Mas, quando assisti ao filme dirigido por Willian Friedkin e roteirizado pelo mesmo autor do livro, confesso que fiquei apavorado por duas semanas, com dificuldades para dormir! É que o cinema conjuga imagem, som, música, design, interpretação, dramatização, figurinos, maquiagem, efeitos óticos, efeitos especiais...
        Foi assim que O Resgate do Soldado Ryan nos colocou na praia de Omaha em pleno dia D e nos fez prender a respiração ao longo dos seus minutos iniciais. O realismo das cenas, simulando imagens jornalísticas, causou grande comoção quando o filme foi lançado. Mas, como estamos falando aqui de um filme dirigido por Steven Spielberg, a crueza das cenas não redundou numa abordagem documental. Ao contrário, o resultado foi de uma intensidade dramática poderosa e impactante, irradiada pelo Capitão John Miller – interpretado por Tom Hanks.
        O filme conta a história de um grupo de soldados comandados pelo Capitão Miller, que sai pelo interior da França ocupada em busca do soldado do título. Ryan teve três irmãos mortos em combate e precisa ser devolvido para casa, porque o alto comando decidiu garantir que sua mãe seja poupada de mais sofrimentos. O que para Miller e seus soldados começa como uma missão fútil e sem sentido, transforma-se numa questão de honra e em oportunidade para recobrar alguma dignidade como soldados.
        A história foi criada e roteirizada por Robert Rodat, inspirado por acontecimentos reais registrados durante a guerra civil americana. O roteirista desenvolveu os personagens e misturou episódios reais, mas sem se comprometer com a precisão histórica. Priorizou o efeito dramático e as oportunidades para lidar com material emocional verossímil, capaz de dar sentido às cenas de batalha. Nas mãos de um cineasta como Spielberg, a história ganhou contornos dramáticos e se transformou no retrato preciso de uma realidade que nós, meros espectadores, só podemos vivenciar no cinema.
        Os cuidados com a produção foram obsessivos. Veículos, tanques, blindados, uniformes, armas, botas... Tudo foi especialmente fabricado para ser fidedigno. Os efeitos especiais, os cenários, a grande quantidade de figurantes e sua movimentação em cena exigiram muita coordenação e precisão técnica. A fotografia, concebida e dirigida por Janusz Kamiński, trouxe grande realismo para o filme, resgatando os tons, as luzes e a atmosfera pesada das cenas que nos acostumamos a ver nos documentários sobre a Segunda Guerra Mundial.
        Dizer que se trata de uma experiência imersiva não me parece um exagero. O Resgate do Soldado Ryan é um drama de guerra intenso e emocionante, com algumas das cenas de batalha mais bem executadas da história do cinema. Sua narrativa é simples e linear, mas segue um roteiro preciso, que traz oportunidades para que os atores trabalhem várias camadas psicológicas dos seus personagens.
        No Óscar, o filme rendeu a Steven Spielberg a estatueta de melhor diretor e a Janusz Kaminski a de melhor fotografia. Também levou os prêmios de melhor edição, melhor edição de som e melhor mixagem de som. Os fãs queriam mais do que óscares técnicos, porém, ficaram na vontade. Os prêmios de melhor filme e melhor roteiro foram para Shakespeare Apaixonado.

Resenha crítica do filme O Resgate do Soldado Ryan

Data de produção: 1998
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: 
Robert Rodat
Elenco: Tom Hanks, Edward Burns, Tom Sizemore, Matt Damon, Jeremy Davies, Adam Goldberg, Barry Pepper, Giovanni Ribisi, Leland Orser, Vin Diesel, Ted Danson, Paul Giamatti, Dennis Farina, Harve Presnell e Nathan Fillion

Comentários

  1. Essa sua crônica me fez lembrar este filme maravilhoso tão vívidamente q trouxe lágrimas aos meus olhos. Amo as suas crônicas!

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  2. Sou muito grato pelo seu comentário. É um estímulo importante para seguir escrevendo! Valeu!

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