Forrest Gump - O Contador de Histórias: Jenny é sua razão de ser
Forrest Gump - O Contador de Histórias: filme dirigido por Robert Zemeckis
NESSE FILME, A SENHORA FORREST GUMP ESTÁ PRESENTE O TEMPO TODO
Depois de
um dia intenso trabalhando na frente do computador, a oportunidade de se
esparramar no sofá e zapear à procura de um filme no serviço de streaming veio
como uma dádiva. Cansado, senti como se estivesse me arriscando num jogo de
azar, numa espécie de roleta cinematográfica onde a bolinha poderia parar sobre
qualquer título. Para minha sorte, naquela noite ela parou bem em cima do filme Forrest Gump – O Contador de Histórias.
– De novo! –
pensei em voz alta. Já assisti a esse filme tantas vezes que não consigo contar.
Desdenhando do destino, continuei zapeando. Então, lembrei que a última vez
fora há quatro ou cinco anos, pelo menos. Feliz por ter arranjado uma boa
desculpa, voltei e apertei o play. Foi a melhor coisa que fiz naquela noite!
Forrest Gump – O Contador de Histórias é um clássico, considerado um dos maiores sucessos de bilheteria de todos
os tempos. Recebeu 13 indicações para o Óscar em 1995 e faturou seis estatuetas:
melhor filme, melhor direção, melhor ator, melhor roteiro adaptado, melhor
edição e melhores efeitos visuais. É desnecessário dar detalhes sobre a ficha
técnica ou esmiuçar a sinopse, já que o filme é muito conhecido – se
eventualmente o leitor ainda não viu, sugiro que o faça. Não se arrependerá!
O
personagem primeiro nasceu em um livro de Winston Groom, lançado em 1986. Lá,
Forrest Gump era um autista – portador da Síndrome de Savant – com deficiências
cognitivas que não o impediram de alcançar sucesso em um sem número de
carreiras, como astro do futebol, campão de pingue-pongue, soldado no Vietnam,
lutador profissional e até astronauta. Sua trajetória segue permeando importantes
acontecimentos da história americana ao longo de quatro décadas.
No cinema,
Tom Hanks deu a ele um carisma arrebatador, enquanto o diretor Robert Zemeckis tratou de materializá-lo
em cenas documentais engraçadíssimas, com um realismo convincente e praticamente
inédito na época. As peripécias tecnológicas – Gary Sinise sem as pernas ainda
hoje é uma visão chocante – foram usadas sempre em favor do contexto dramático.
Nunca em vão! Já o roteiro de Eric Roth é um produto primoroso. Além de trazer
para a tela um personagem desbastado dos excessos, conseguiu manter a dosimetria
certa de humor e drama, explorando as diversas camadas de emoção em todos os personagens.
Forrest Gump – O Contador de Histórias é assim: quando começamos a falar sobre o filme, a tendência é prolongar a
conversa até não mais poder. Mas dessa vez, ao invés de chover no molhado, bajulando o personagem ou o ator, gostaria de falar sobre a Senhora Forrest
Gump – não a mamãe Gump, vivida na tela por Sally Field, mas a Jenny interpretada
por Robin Wright. Sim, ela ganhou o título depois de se casar com Forrest e ter
uma presença avassaladora na trama. Seu nome é pronunciado incontáveis vezes e
sua imagem é evocada a cada mudança de sequência. Dessa vez, foi nela que
prestei mais atenção.
A cena em
que Jenny, ainda criança, se ajoelha na plantação para implorar a Deus que a
transforme num pássaro é de chorar! Seu pai, um brutamontes bêbado, cujo rosto não vemos,
caminha poucos passos de uma ponta a outra da tela. E isso é o suficiente para nos
contar toda a história de abusos e violências que impôs à pobre menina por
anos. A sequência é tão eloquente quanto sintética, explorando à perfeição o
potencial narrativo que só o cinema pode oferecer. Podemos ver aqui o que
acontece quando um diretor competente põe as mãos num roteiro preciso.
Mais
adiante, outra vez, Jenny se depara com a fachada do casebre que lhe servira de
masmorra na infância. Ela cata pedras no chão e estilhaça as vidraças numa
explosão emocional tão intensa quanto catártica. Compreende que jamais conseguiu
se desligar daquele lugar, apesar de todas as tentativas tresloucadas que fez
ao longo de uma vida sem regras. Na cabeça do espectador, o que se passa naqueles
reles noventa segundos daria para fazer um outro filme! E mudo, já que nenhuma
palavra foi dita!
Bem, há
muito mais o que falar sobre Jenny, mas isso implicaria em dar alguns spoilers.
Acho bom parar por aqui. O filme todo é repleto de passagens emocionantes,
encenadas com competência e sensibilidade. Imagino que tenha se tornado o filme
preferido de mais da metade dos viventes desse planeta. Nem por isso seria justo
acabar com a surpresa para os que ainda não tiveram o prazer de assistir a essa
preciosidade.
Meu
último encontro, ou melhor, meu mais recente encontro com Forrest Gump – O Contador de Histórias foi na
semana passada, depois de um dia de trabalho intenso na frente do computador.
Foi a melhor coisa que fiz naquela noite – e devo confessar, fui às lágrimas! O
que mais me emociona no personagem é a maneira com que ele consegue se guiar pelos
valores que carrega. É um sujeito com QI baixo, muito fácil de ser
subestimado por qualquer um, mas que acumulou conquistas ao alcance de poucos:
estudou, sobreviveu a uma guerra, conheceu celebridades, virou celebridade, percorreu
o mundo, tornou-se milionário, casou-se com o grande amor da sua vida e fez um
filho com ela! Não escreveu livro algum, é verdade. Mas que demérito há nisso,
afinal?
Resenha crítica do filme Forrest Gump - O Contador de Histórias
Data de produção: 1994
Direção: Robert Zemeckis
Roteiro: Eric Roth
Elenco: Tom Hanks, Michael Conner Humphreys, Robin Wright, Hanna R. Hall, Gary Sinise, Mykelti Williamson, Sally Field, Haley Joel, Peter Dobson, Dick Cavett, Sam Anderson, Geoffrey Blake, Siobhan Fallon Hogan, Sonny Shroyer, Grand L. Bush, Michael Jace, Conor Kennelly e Teddy Lane Jr.
Ótima crônica. Embora possa trazer desapontamento, ter uma "Jenny" na vida pode ser inspirador. A cada revisita ao filme se descobre algo novo, a trilha sonora é maravilhosa, por ela descobri Creedence Clearwater Revival (Fortunate Son é reproduzida na chegada ao Vietnã), Lynyrd Skynyrd (Free Bird toca em uma tentativa de suicídio de Jenny), The mamas and de papas (California Dreaming ilustra a manifestação hippie em Washington). Ainda fico na curiosidade pra saber qual música é reproduzida quando o garoto Forrest percebe que é melhor correr do que andar, logo no início do filme quando ele passa correndo pela cidade e o pessoal da barbearia observa com incredulidade.
ResponderExcluirMuito obrigado, Fagundes! E devo agradecer também por ter lembrado aqui da trilha sonora, que compõe uma deliciosa seleção musical. Fruí as músicas de um jeito tão natural que nunca prestei atenção aos detalhes. Já sei o que vou fazer na minha próxima visita a Forrest Gump! Abração!
Excluir😀😀
ExcluirGosto muito do Filme.adorei seu texto.
ResponderExcluirMuito obrigado! Forrest Gump é mesmo um grande filme!!!
Excluirmuito bom! maravilhoso sua definição dessa obra prima!
ResponderExcluirObrigado! É uma obra-prima que merce ser vista, revista e comentada sempre!
Excluirmuito bom! maravilhoso sua definição dessa obra prima!
ResponderExcluirVou ver de novo esse filme inesquecível e prestar atenção na Jenny. Não me lembrava dela. Sua crônica bem escrita como sempre me instigou.
ResponderExcluirLegal!!! No final das contas, é esse mesmo o objetivo: provocar e instigar. Muito obrigado pelo feedback!
ExcluirInteressante. Nunca imaginei analisar o filme sob a ótica da personagem de Robin Wright.
ResponderExcluirExcelente.
Obrigado. Esse filme é repleto de cenas ótimas e bem construídas.
ExcluirCrônica sensacional Fábio. Também senti vontade rever Forrest Gun e a sua fantástica trilha sonora.
ResponderExcluirValeu, Jorge!!!! Sabe que quando ouço as canções desse filme sempre lembro de você e sua coleção de discos e cds!!!! Apreveite!!!!!
ResponderExcluirForrest é desses filmes incansáveis de assistir. Legal você falar da Jenny, é um personagem que aparece amarrando as cenas de forma bem sútil, mas marcante. Eu a vejo como você, que bom. Que boa crônica.
ResponderExcluirMuito obrigado! Ė ótimo compartilhar impressões sobre os filmes que gostamos.
ExcluirParabéns excelente crônica, realmente a personagem da Jane compõe e completa o Forrest.
ResponderExcluirObrigado, Priscila. Um abração.
ExcluirEu percebi certo sarcasmo no Zemicks em abordar a história dos Estados Unidos sob uma ótica satírica e violenta. O personagem Forrest íntegra um lugar comum dos filmes de Hollywood ao retratar a superação, mas , aqui me pareceu que essa superação acontece mais em forma de sátira à meritocracia...
ResponderExcluirAh
ExcluirAh, não percebo necessariamente uma crítica à meritocracia, embora o viés democrata sdo diretor fique evidente. Ele faz uma leitura crítica da história americana.
ExcluirQue bom vc ter se concentrado em Jennny ,na maravilhosa Robyn Wright. A cena na frente do casebre,é de cortar o coração! E a trilha sonora, excede!
ResponderExcluirQuem sabe, numa próxima visita ao filme, outro detalhe me capture e inspire outra crônica!
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