Minha Fama de Mau: o título de uma canção emblemática
Minha Fama de Mau: filme de Lui Farias
UM FILME LEVE, CRIATIVO E REPLETO DE CONTEÚDO
Vivemos tempos esquisitos! As grandes estrelas pop que dominam o imaginário do público e infestam a mídia com sufocante onipresença são os... políticos! Nada contra a política. Ela é imprescindível para viabilizar a vida em sociedade. Mas tudo a favor de dar um tempo na lengalenga eleitoreira, cuspida por gente cujo único propósito é se apoderar do estado – essa máquina artificial que fingem ser tão vital quanto o ar que respiramos. Lembro de uma época em que podíamos fechar os ouvidos para o rosnado dos rabugentos e relaxar. Uma época quando o mundo era da comunicação de massa e havia uma diversidade de artistas, cantores, músicos, atores, diretores de cinema e promoters, todos empenhados em impulsionar uma fervilhante cena cultural. Os políticos ficavam em segundo plano, disputando as migalhas de visibilidade que sobravam.É claro que também havia os patrulheiros de plantão, cuidando para que não nos tornássemos alienados demais. Para que não entendêssemos a cultura pop como uma imensa festa de arromba, hedonista e fútil. Para ditar o que era politicamente correto. E assim, de polêmica em polêmica, íamos driblando a mesmice e experimentando o novo, inventando modas passageias e outras mais persistentes. É essa vida criativa, pulsando no início da era da televisão, que o filme Minha Fama de Mau, realizado em 2019 por Lui Farias, nos leva a visitar.
A produção é baseada no livro de memórias intitulado Minha Fama de Mau, escrito em 2009 pelo cantor e compositor Erasmo Carlos, um dos maiores expoentes do fenômeno midiático conhecido como Jovem Guarda. Antes de virar estrela pop, pisoteou uma infância humilde e penou para superar os obstáculos sociais que o separavam das oportunidades de projeção. Consumidor de música popular internacional enquanto a maioria dos cariocas se banqueteavam nas rodas de samba, ele cedo compreendeu os mecanismos do showbiz e conseguiu se enfronhar na máquina de criar sucessos instantâneos. Foi trabalhar naquilo que mais atraia seu interesse: a música.
Minha Fama de Mau é mais que uma cinebiografia para relembrar o sucesso comercial da Jovem Guarda. Experimenta uma proposta narrativa inventiva e original – como se costumava ousar naquela época – e tem um roteiro ágil, que nos entrega retratos bem desenhados de vários personagens muito conhecidos de várias gerações. O filme flagra o adolescente Erasmo Esteves (Chay Suede) vagando pelas ruas da Tijuca, no Rio de Janeiro, enquanto vive de bicos e cultiva sua paixão pelo rock'n roll de Elvis Presley, Bill Haley e Chuck Berry. Cercado de amigos criativos – entre eles um Tim Maia (Vinícius Alexandre) transbordando transgressão – Erasmo aprende o básico do violão e acaba caindo nas graças de Carlos Imperial (Bruno De Luca), o radialista que o tornaria conhecido. Então ele vira Erasmo Carlos, conhece Roberto Carlos (Gabriel Leone) e Wanderléa (Malu Rodrigues) e explode em sucesso na televisão com o programa que embalou a juventude naquele comecinho dos anos 1960. A partir daí, seguimos acompanhando seu auge e seus tropeços, em episódios que o grande público talvez não conheça nos seus pormenores.
A trajetória de Erasmo Carlos e seu parceiro musical, irmão e camarada rumo ao estrelato foi meteórica. A dupla conquistou fãs incondicionais, mas também ficou com a reputação de alienados alienantes. Os picos de sucesso se intercalam entre os vales de angústia e depressão, numa curva dramática que dá ritmo ao filme. O diretor Lui Farias aborda o fenômeno da Jovem Guarda por uma perspectiva adolescente e consegue uma boa recriação de época, arrancando ótimas atuações de um elenco carismático e descontraído.
Porém, o importante é que consegue manter o foco nos personagens, nos envolvendo com uma narrativa ágil e criativa. Sonhos, devaneios, erros, acertos, dramas pessoais... Está tudo lá, embalado por muita música ingênua e despojada de pretensões estéticas. Eis aqui um filme divertido, leve e que evita falar de política. Ainda que resvale nessa questão, prefere deixar o tema para os sisudos e emburrados.
Resenha crítica do filme Minha Fama de Mau
Data de produção: 2019
Direção: Lui Farias
Roteiro: L.G. Bayão, Lui Farias e Letícia Mey
Direção: Lui Farias
Roteiro: L.G. Bayão, Lui Farias e Letícia Mey
Elenco:Chay Suede, Gabriel Leone, Isabela Garcia, Bruno De Luca, Bianca Comparato, João Vítor Silva, Paula Toller, Vinícius Alexandre, Felipe Frazão, Paulo Machado, Luca de Castro, Duda Monteiro e Hugo Bonemer
Atraente pela nostalgia e valor histórico na música popular brasileira
ResponderExcluirBem construído
Atraente pela nostalgia e valor histórico na música popular brasileira
ResponderExcluirBem construído