O Nome da Rosa: a Idade Média em tom de mistério policial
O Nome da Rosa: direção de Jean-Jacques Annaud
PANORAMA SOMBRIO DA IDADE MÉDIA
A literatura deixa o leitor viajar nas entrelinhas e se abre para várias interpretações. Esta possibilidade foi trabalhada com prazeroso empenho por Umberto Eco, filósofo da arte que difundiu o conceito de obra aberta e ganhou fama mundial como romancista no início dos anos 80. Seu livro intitulado O Nome da Rosa vendeu mais de 4 milhões de exemplares e se tornou leitura obrigatória para todos os que tentavam formar uma opinião sobre estética, semiótica e outras subtramas da comunicação pregadas pelos pós-modernistas – como era o caso deste então jovem que frequentava a faculdade de publicidade e ainda colecionava muitas dúvidas.Quando O Nome da Rosa virou filme em 1986, pelas mãos do diretor Jean-Jacques Annaud, muitos correram ao cinema esperando encontrar a mesma densidade intelectual que haviam respirado nas páginas do livro. Acontece que, no cinema, nenhuma história consegue ser tão... aberta! A sétima arte nos entrega um pacote mais fechado, com imagens, vozes, atmosfera musical e interpretações ancoradas em microexpressões, tudo arquitetado com precisão em suas minúcias. Os realizadores devem impor sua visão e nós, espectadores, ficamos reféns dessa intermediação.
Além disso, sejamos sinceros: o público que foi às salas de cinema naquela época não estava interessado em semiótica! Salvo em países onde as plateias são mais intelectualizadas, O Nome da Rosa fracassou nas bilheterias, apesar do esforço dos realizadores para tornar a obra mais palatável. O retrato que pintaram da Idade Média na Europa resultou bem mais sombrio e soturno que o apresentado no livro. A fotografia de Tonino Delli Colli e o design de produção de Dante Ferretti nos transportam diretamente para quando a noite era iluminada apenas por velas e pela luz do luar. Quase podemos sentir o cheiro da sujeira e o desconforto ao qual se submetem os personagens que habitam edifícios tão pedregosos.
No livro, a história é narrada pelo jovem Adso de Melk, um noviço franciscano. Ele e seu mentor, o frei Willian de Baskerville, chegaram a um mosteiro no norte da Itália para investigar a morte misteriosa de um monge copista. O ano é 1327 e o mosteiro em questão abriga um importante scriptorium, onde são copiadas e guardadas obras fundamentais para a Igreja. Willian de Baskerville não está ali por acaso: reconhecido por suas capacidades investigativas, é mestre na arte da dedução. Na medida em que se aprofunda no caso, novos assassinatos ocorrem, o que desencadeia uma sucessão de bizarrices violentas que só fazem aumentar o clima de mistério.
Nas telas, o jovem Adso é vivido pelo novato Christian Slater. Já o monge franciscano com ares de Sherlock Holmes, que enfrenta as forças do obscurantismo, é vivido por Sean Connery – aqui ele soube aproveitar uma das melhores oportunidades de sua carreira para exibir seu imenso carisma. Seu William de Baskerville ficou ainda mais parecido com o consagrado detetive inglês, a ponto de, em certos momentos, nos dar a impressão de que poderia muito bem se sair com a velha tirada: “Elementar, meu caro Adso!”
Verter O Nome da Rosa para o cinema foi tarefa que coube a toda uma equipe de roteiristas, da qual participou o diretor, Jean-Jacques Annaud, além do próprio Umberto Eco. No filme, os créditos pelo roteiro foram dados a Andrew Birkin, Gerard Brach, Howard Franklin e Alain Godard. Os roteiristas conseguiram concentrar um romance denso e minuciosamente histórico, para que coubesse na tela de cinema, enquanto tentaram salvar algo da sua substância. Eliminaram as longas narrativas sobre a história do cristianismo, que se desviam da trama central, para reforçar os elementos de mistério. Fortaleceram alguns personagens, atenuaram outros e deram grande destaque à labiríntica biblioteca, que se tornou um dos apelos visuais mais chamativos e envolventes do filme.
O diretor Jean-Jacques Annaud, que também dirigiu A Guerra do Fogo e Sete Anos no Tibet, mostrou grande entusiasmo na realização de O Nome da Rosa. Os preparativos para a produção se estenderam por quatro anos e envolveram muita pesquisa para composição do elenco, construção de cenários e definição das locações. O resultado final nos mostra um panorama crível da Idade Média, repleto de rostos marcantes, que perambulam por entre as sombras e luzes tremulantes e terminam impressas em nosso imaginário.
O Nome da Rosa continua a atrair o interesse do público, tanto é que John Turturro encarnou William de Baskerville novamente. Ele interpreta o personagem numa série com oito episódios dirigida por Giacomo Battiato e disponível nos serviços de streaming. Também merece ser conferida.Data de produção: 1986
Direção: Jean-Jacques Annaud
Roteiro: Andrew Birrkin, Gérard Brach, Howard Franklin e Alain Godard
Elenco: Sean Connery, Christian Slater, Helmut Qualtinger, F. Murray Abraham, Elya Baskin, Michael Lonsdale, Volker Prechtel, Feodor Chaliapin, Jr., William Hickeyl, Michael Habeck, Ron Perlman e Valentina Vargas
Resenha crítica do filme O Nome da Rosa
Direção: Jean-Jacques Annaud
Roteiro: Andrew Birrkin, Gérard Brach, Howard Franklin e Alain Godard
Elenco: Sean Connery, Christian Slater, Helmut Qualtinger, F. Murray Abraham, Elya Baskin, Michael Lonsdale, Volker Prechtel, Feodor Chaliapin, Jr., William Hickeyl, Michael Habeck, Ron Perlman e Valentina Vargas
Filme a ver e revet
ResponderExcluir