Hair: uma renovação importante na arte dos musicais

Cena do filme Hair
Hair: filme dirigido por Milos Forman

ANUNCIANDO A POTÊNCIA ARTÍSTICA E MUSICAL DA ERA DE AQUÁRIO

Um bando de hippies praticando paz e amor, enquanto festejam o hedonismo, bradam contra a guerra, repudiam o conservadorismo e pregam a contracultura. Parece antiquado e datado? Nas mãos de Miloš Forman, não! Em Hair, filme de 1979, ele faz uma adaptação para o cinema de um musical de sucesso na Broadway e extrai dele uma enorme potência artística e musical. O roteiro de Michael Weller cria um enredo e direciona o fluxo dramático da cantoria, trabalhando os personagens com mais detalhes.
        Apenas privilegiados tiveram a oportunidade de assistir ao musical Hair, escrito por James Rado e Gerome Ragni, que estreou na Broadway em 1968. Mas qualquer um de nós tem acesso ao filme. Sua adaptação para o cinema não se limitou ao registro das canções marcantes e inesquecíveis, ou do peculiar visual da tribo hippie. O diretor soube desenvolver os personagens e criou uma trama envolvente. Seu filme retrata as inquietações e conflitos de toda uma geração – e que são pertinentes ainda hoje. Vamos à sinopse:
        Nos anos 60, enquanto a guerra do Vietnã fervia, Claude Bukowski (John Savage) chega a Nova Iorque vindo de Oklahoma, para se alistar no exército. O que faz um caipira certinho com pinta de cowboy naquela cidade grande? Vai ao Central Park, ora! Lá ele conhece autênticos exemplares da tribo hippie, exercendo seu espírito juvenil: George Berger (Treat Williams), Jeannie Ryan (Annie Golden), Woof (Donnie Dacus) e LaFayette Johnson (Dorsey Wright). Logo ele está entrosado, embriagado de ousadia e disposto a ampliar seus horizontes... criativos. É quando conhece Sheila Franklin (Beverly D’Angelo), a garota rica por quem se apaixonará perdidamente. A partir daí os jovens se juntam e só fazem celebrar: o amor livre, a paz, as drogas, a música e o que mais convier. Até que a realidade se impõe e lá se vai Claude Bukowski para a rotina de treinamento que o levará ao Vietnã conflagrado. Mas talvez os jovens pacifistas consigam impedir! Talvez mudem o mundo ao seu redor!
        A origem do filme é o musical Hair: An American Tribal Love-Rock Musical, de Gerome Ragni e James Rado, que estreou fora da Broadway em 1967. Ambos eram atores desempregados, circulando pela agitada cena cultural do East Village em Nova Iorque. Descobriram suas afinidades criativas e criaram um musical para celebrar a contracultura. Um ano depois estavam na Broadway desfrutando de um estrondoso sucesso, que se repetiu também na Europa e em outros continentes. Miloš Forman conheceu o espetáculo já em 1967 e desde então estava ansioso para transformá-lo em filme.
        Dos palcos para o cinema, a história sofreu transformações. Claude Bukowski não era de Oklahoma, mas um dos líderes da comunidade hippie, assim como a socialite Sheila, que também pertencia à tribo. Como consequência, o final do filme também resultou bastante diferente. O musical da Broadway brada em favor da paz, em sintonia com os movimentos pacifistas que marcaram os Estados Unidos naquela década. O filme se dedica a celebrar o modo de vida hippie e sua influência na cultura e nas artes. Miloš Forman também incorporou uma mensagem edificante sobre o valor da amizade e da lealdade, aumentando a empatia do espectador para com os personagens.
        No palco, a música tem uma função narrativa muito mais importante, enquanto que no filme a força das imagens e o fluxo da história precisam ser valorizados. Partindo para uma concepção cinematográfica, o diretor cortou várias músicas do espetáculo e deu ao seu musical algo que o original não tinha: um enredo propriamente dito. Para ajudá-lo ele convocou Michael Weller, um jovem sem experiências com roteiros, mas um sólido envolvimento com a contracultura e com a estética da sua geração. Concentrou-se principalmente na construção das linhas de diálogo.
        As músicas de Hair são assinadas por Galt MacDermot, com letras de Gerome Ragni e James Rado. Marcaram toda uma geração e ainda hoje emocionam e mexem com o imaginário de muita gente. Aquarius/Let the Sunshine In, certamente está incluída entre as canções mais memoráveis de todos os tempos. Os números de dança são assinados pela coreógrafa Twyla Tharp – que figura entre os maiores nomes da dança contemporânea – e foram executados pelos bailarinos da Twyla Tharp Dance Foundation. Apesar da excelência alcançada por Miloš Forman, os criadores do musical não se deram por satisfeitos – divergências criativas, imagino!
        Assistir a esse filme, que contribuiu para renovar a arte dos musicais no cinema, é sempre prazeroso. E é interessante reparar também que, assim como os jovens de hoje, os daquela época também faziam questão de expressar sua rebeldia por meio dos... cabelos!

Resenha crítica do filme Hair

Data de produção: 1979
Direção: Miloš Forman
Roteiro: Michael Weller
Elenco: John Savage, Treat Williams, Beverly D'Angelo, Annie Golden, Dorsey Wright, Don Dacus, Nell Carter, Cheryl Barnes, Richard Bright, Ellen Foley, Miles Chapin, Charlotte Era, Laurie Beechman, Nicholas Ray, Antonia Rey, Geogre J. Manos, Michael Jeter, Renn Woods e David Rose

Comentários

Confira também:

Menina de Ouro: a história de Maggie Fitzgerald é real?

Tempestade Infinita: drama real de resiliência e superação

Siga a Crônica de Cinema