Perfume de Mulher: um remake que encanta pelas cenas memoráveis
Perfume de Mulher: filme dirigido por Martin Brest
A MAGIA ACONTECE QUANDO UM CEGO CONSEGUE ENXERGAR A SI MESMO
O que há de novo que possa ser dito sobre o filme Perfume de Mulher, que o leitor ainda não saiba? Detalhes dos bastidores? Curiosidades sobre o roteiro? Fofocas a respeito dos atores? Tal conteúdo está disponível com fartura na internet, ao alcance de poucos cliques. O motivo que me leva a mencioná-lo mais uma vez aqui na Crônica de Cinema – há tempos postei um vídeo com a memorável cena do tango, onde Gabrielle Anwar e Al Pacino dançam ao som de Por Una Cabeza – é na verdade bem simples: lembrei desse filme depois de divagar sobre a busca pelo autoconhecimento.
Essa palavra tem sido pronunciada com frequência na mídia e nas redes sociais, como instrumento eficiente para alcançar uma tão almejada evolução pessoal e moral. Mas de que maneira alguém pode verdadeiramente se autoconhecer? Encarando-se no espelho? Olhando para o próprio umbigo? Escavando a própria alma para investigar suas diversas camadas? Quando digo que a resposta está no cinema, alguns duvidam!
O autoconhecimento só pode ser alcançado na medida em que vivemos. Somente quando reagimos ao mundo e tomamos decisões cruciais, conseguimos enxergar quem de fato somos. O problema é que viver é uma aventura incerta. Ninguém garante que seremos confrontados com todas as experienciais necessárias. Alguns não conhecerão a chama do amor, outros sofrerão com a dor da traição. Alguns cometerão erros e pagarão na prisão, outros jamais terão que ser condescendentes ou caridosos. Alguns arriscarão, outros não se atreverão...
Por isso sempre defendi que os filmes trazem experiência emocional verdadeira. Nos ensinam por meio do exemplo, ao nos confrontar com situações que normalmente não viveríamos no cotidiano. Enquanto assistimos a um filme, vamos nos vestindo com a pele dos mais variados personagens, exercitado a tal empatia. Descobrimos as diferentes formas de reação que podemos ter diante de imprevistos. Aprendemos a avaliar quais são as escolhas possíveis, a prever que consequências terão... Vivenciamos acontecimentos surpreendentes e amadurecemos a cada filme.
Por extensão, entendo que Al Pacino nos mostrou isso no filme Perfume de Mulher. Nos apresentou a um personagem angustiado em busca da resposta para uma questão crucial: ainda vale a pena estar vivo?
Antes de continuar a divagação, quero lembrar que se tratam de dois filmes, o Perfume de Mulher de 1974, realizado por Dini Risi e esse de 1992, dirigido por Martin Brest. O filme italiano foi estrelado por Vittorio Gassman e o americano por Al Pacino. Ambos têm origem no romance A Escuridão e o Mel, escrito pelo jornalista Giovanni Arpino, que colaborou no roteiro do primeiro filme. A sinopse é conhecida: um militar aposentado depois do acidente que o cegou, parte numa última jornada, tentando descobrir se ainda há algum motivo para não se suicidar. O jovem que contrata para acompanhá-lo, inexperiente e cheio de vida, é ao mesmo tempo o instrumento e o entrave para a concretização dos seus planos.
É do desprezo mútuo – e depois da aversão que brota entre ambos – que o roteiro parte, estabelecendo um arco de transformações que vai se desenhando diante dos nossos olhos, na medida em que conhecemos melhor o protagonista e seu coadjuvante. O militar revela mais conteúdo do que deixa entrever em sua postura arrogante e rabugenta. O jovem desinteressado mostra ter alcance para desligar-se do próprio umbigo e perceber que está, afinal, acumulando experiência de vida. Terminamos capturados pelos dois.
Antes de continuar a divagação, quero lembrar que se tratam de dois filmes, o Perfume de Mulher de 1974, realizado por Dini Risi e esse de 1992, dirigido por Martin Brest. O filme italiano foi estrelado por Vittorio Gassman e o americano por Al Pacino. Ambos têm origem no romance A Escuridão e o Mel, escrito pelo jornalista Giovanni Arpino, que colaborou no roteiro do primeiro filme. A sinopse é conhecida: um militar aposentado depois do acidente que o cegou, parte numa última jornada, tentando descobrir se ainda há algum motivo para não se suicidar. O jovem que contrata para acompanhá-lo, inexperiente e cheio de vida, é ao mesmo tempo o instrumento e o entrave para a concretização dos seus planos.
É do desprezo mútuo – e depois da aversão que brota entre ambos – que o roteiro parte, estabelecendo um arco de transformações que vai se desenhando diante dos nossos olhos, na medida em que conhecemos melhor o protagonista e seu coadjuvante. O militar revela mais conteúdo do que deixa entrever em sua postura arrogante e rabugenta. O jovem desinteressado mostra ter alcance para desligar-se do próprio umbigo e perceber que está, afinal, acumulando experiência de vida. Terminamos capturados pelos dois.
O filme italiano e o norte-americano seguem estilos diferentes. No primeiro percebemos maior intensidade dramática, bem ao gosto da índole latina. No segundo, ao qual pretendo me deter, degustamos um cinema mais fast food, onde os finais são sempre felizes e as abordagens psicológicas ficam apenas ao nível comportamental. O diretor Martin Brest trabalha seguindo o protocolo: nada de ousar nos movimentos de câmera, nos planos, no ritmo... Suas lentes apontam para os atores e é deles que retiram a essência do filme. Agiu muito bem!
Al Pacino está perfeito. Pelo trabalho ganhou seu Óscar de melhor ator, o que foi justo. Atuou de forma meticulosa e aproveitou todas as brechas para projetar seu carisma e seu talento. Chris O'Donnell soube marcar território e valorizar seu personagem. Compreendeu sua função dramática e passou credibilidade. Em seu roteiro, Bo Goldman conseguiu enfileirar várias cenas emblemáticas, entre elas a do tango no restaurante – a impressão é que todos os nela envolvidos, no momento em que a realizavam, já tinham a consciência de que ela se tornaria antológica!
Ao final do filme, o tenente-coronel Frank Slade, cego depois que uma granada explodiu enquanto fazia uma brincadeira de mau gosto, parece conseguir enxergar melhor a si mesmo. Deu um passo importante na direção do autoconhecimento. O que fará com ele, bem... aí já é spoiler!
– Ah, isso é bobagem! Todo mundo já viu esse filme – diriam alguns afoitos.Data de produção: 1992
Direção: Martin Brest
Roteiro: Bo Goldman
Elenco: Al Pacino, Chris O'Donnell, James Rebhorn, Gabrielle Anwar, Philip Seymour Hoffman, Gene Canfield, Richard Venture, Bradley Whitford, June Squibb, Frances Conroy, Rochelle Oliver, Margaret Eginton, Tom Riis Farrell, Nicholas Sadler, Todd Louiso, Matt Smith, Ron Eldard, Margaret Eginton, Sally Murphy, Michael Santoro, Julian e Max Stein, Alyson e Erika Feldman e Leonard Gaines
Al Pacino está perfeito. Pelo trabalho ganhou seu Óscar de melhor ator, o que foi justo. Atuou de forma meticulosa e aproveitou todas as brechas para projetar seu carisma e seu talento. Chris O'Donnell soube marcar território e valorizar seu personagem. Compreendeu sua função dramática e passou credibilidade. Em seu roteiro, Bo Goldman conseguiu enfileirar várias cenas emblemáticas, entre elas a do tango no restaurante – a impressão é que todos os nela envolvidos, no momento em que a realizavam, já tinham a consciência de que ela se tornaria antológica!
Ao final do filme, o tenente-coronel Frank Slade, cego depois que uma granada explodiu enquanto fazia uma brincadeira de mau gosto, parece conseguir enxergar melhor a si mesmo. Deu um passo importante na direção do autoconhecimento. O que fará com ele, bem... aí já é spoiler!
– Ah, isso é bobagem! Todo mundo já viu esse filme – diriam alguns afoitos.
Mas não vou arriscar, antecipando conclusões. Primeiro, porque são dois filmes, o italiano e o americano. Segundo, porque muitos leitores vão assistir aos filmes novamente, buscando enxergá-los com ... outros olhos!
Resenha crítica do filme Perfume de Mulher
Direção: Martin Brest
Roteiro: Bo Goldman
Elenco: Al Pacino, Chris O'Donnell, James Rebhorn, Gabrielle Anwar, Philip Seymour Hoffman, Gene Canfield, Richard Venture, Bradley Whitford, June Squibb, Frances Conroy, Rochelle Oliver, Margaret Eginton, Tom Riis Farrell, Nicholas Sadler, Todd Louiso, Matt Smith, Ron Eldard, Margaret Eginton, Sally Murphy, Michael Santoro, Julian e Max Stein, Alyson e Erika Feldman e Leonard Gaines
Muito bom! Muito bem notado. Sempre há algo para se notar nos filmes vistos mais de uma vez.
ResponderExcluirSim, Katia, há filmes que merecem ser vistos mais de uma vez, especialmente aqueles mais densos. E também aqueles muito emocionais, pois cada visitação nos pega num momento diferente.
ExcluirFora do ar por algum tempo, retorno pra aplaudir sua crônica sobre este filme que me encanta toda vez que o assisto. E sim, cada vez o vejo com "outros olhos " 👏👏👏
ResponderExcluirValeu, Elvira!!!!! Perfume de Mulher é assim mesmo: de tempos em tempos tem que ser revisitado!!!!
ExcluirPERFUME DE MULHER, esplendoroso...AL PACINO ...mais uma vez, esbanja talento e competência e me parece, que AL PACINO, não usa as lentes de contato para não enxergar, atua sem qq, tipo de artefato para se fazer de INCAPAZ VISUAL...APLAUSOS...AL PACINO um monstro um ícone ...
ResponderExcluirSim, William, penso que o grande talento de Al Pacino não foi o de se passar por cego, mas o de mostrar ao público o que seu personagem está enxergando em seu próprio mundo interno. Ele parece estar, o tempo todo, olhando para dentro de si mesmo!
ExcluirShow Pacino de qualidade
ResponderExcluirBom roteiro
Bem desenvolvido com mensagem positiva ao contrário do original italiano protoganizado por Vittorio Gassman.
Boa diversão
Ótimo filme
Oscar merecido para um verdadeiro mito de intérprete de uma Hollywood cada vez mais difícil com tanto identitarismo cercando a sociedade americana.
Concordo, Alexander. Um ótimo filme, que entrega o que promete. Traz cenas memoráveis, que entraram para a cultura pop e fizeram brilhar o talento de Al Pacino.
ExcluirAdoro a tua capacidade de nos levar a enxergar os detalhes que nos levam a desejar assistir ao filme novamente Obrigada por dividir tua visão
ExcluirAh, sou eu quem agradece!!!! Viva o cinema!
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