Titanic: fatos reais numa história dramaizada

Cena do filme Titanic
Titanic: filme dirigido por James Cameron

AQUI O ESPETÁCULO ORBITA AO REDOR DO QUE INTERESSA: OS PERSONAGENS

Um dia, Titanic já foi o nome de um navio de passageiros – o maior da sua época – que em 1912 naufragou numa noite gélida depois de colidir com um iceberg, matando 1.500 das pessoas que levava a bordo. Em 1997, quando James Cameron recontou essa história, Titanic virou o nome de um filme épico, repleto de drama, romance, ação e suspense – uma das mais incríveis produções já realizadas na história do cinema. Estou exagerando? Talvez!
        Entre os cinéfilos, Titanic tem fãs incondicionais e detratores ferozes. Já rendeu anedotas, temas de trabalhos acadêmicos, discussões acaloradas e assunto para alimentar um sem número de blogs, artigos, vídeos... Para quem gosta de cinema, escrever sobre esse filme é inevitável. Então, vamos lá!
        Para começar nossa conversa, pretendo falar primeiro de James Cameron. Numa lista dos melhores diretores, seu nome com frequência é colocado no final, depois dos Kubricks, Polanskis, Fellinis, Kurossawas e Spielbergs da vida. Mas é inegável que ele faz cinema autoral: escreveu o roteiro de todos os filmes que dirigiu: Aliens – O resgate, O Exterminador do Futuro, True Lies, Titanic, Avatar... Obras consideradas muito mais pelo seu valor comercial. Tem fama de ser um grande técnico apaixonado por ciência, que teima em empurrar os efeitos visuais para além dos limites exercitados pela indústria do cinema. Mas o fato é que estamos falando aqui de um grande contador de histórias.
        James Cameron tem essa capacidade de criar mundos onde ninguém jamais colocou os pés e depois aparecer com uma história que as pessoas adoram ouvir. No navio RMS Titanic ele descobriu um assunto vasto, denso e infinitamente interessante. Aprofundou-se – literalmente – no tema com a tenacidade de um arqueólogo. Resgatou fatos conhecidos, acrescentou outros prováveis e surgiu com ideias inovadoras, que deixaram em polvorosa a comunidade que cultua a história do trágico naufrágio.
        Quem primeiro emergiu das incontáveis expedições aos restos do Titanic no leito do Atlântico Norte foi o James Cameron roteirista. Ao contrário dos escritores que preferem basear seus roteiros no trato com o espetáculo, ele construiu personagens e estabeleceu para eles uma jornada coerente ao longo da história que pretendia contar. Costurou seu enredo só depois que vislumbrou personagens com os quais o público se conectaria emocionalmente.
        Imagino que uma primeira dificuldade se impôs logo de cara: todo mundo conhece o final dessa história trágica. Como manter o suspense e surpreender o público no final? A solução de James Cameron foi criar Rose, uma sobrevivente que, aos cem anos, se torna a voz narrativa do filme. O espectador sabe, portanto, que ela se salvará – só não faz ideia de como. Então, segue curioso para descobrir por qual conjunção de fatores ela escapará.
        O personagem de Jack é a contraparte romântica que alimenta a progressão dramática do roteiro. Mas não se trata apenas de ter um personagem carismático, reconhecido como o Romeu que nutrirá amor verdadeiro por uma Julieta forte e decidida a sobreviver. Sua função é estabelecer a ligação entre dois mundos socialmente distantes – os ricos da primeira classe e a ralé fadada a se afogar no mar gelado – criando e expondo os conflitos de classes que causarão indignação no espectador.
        O roteiro de James Cameron também é preciso ao estabelecer os vilões da história. O noivo arrogante, seu segurança truculento, a mãe intolerante, o capitão inconsequente, os riquinhos pedantes, os tripulantes corruptos, os egoístas covardes... esperamos que eles acabem tendo o que merecem. Em compensação, há muitas pessoas de bem pelas quais podemos torcer, esperando que se salvem – e lamentando quando se desesperam e sucumbem.
        A narrativa linear recitada por Rose nos oferece o exato ponto de vista das almas que estavam no navio, concentradas em viver suas vidas. Na primeira parte do filme, chegamos a quase esquecer que uma tragédia se aproxima. Quando a tripulação percebe a dimensão do acidente e a iminência do naufrágio, o suspense aumenta e a aflição toma conta, mas já é tarde. Estamos emocionalmente envolvidos com todos os personagens.
        Quando o James Cameron diretor assume o leme, Titanic se concretiza como um megaespectáculo visual, encenado com grandiosidade e verossimilhança. Os feitos técnicos são de encher os olhos, numa época em que a computação gráfica ainda não estava acessível para qualquer produção. Viramos testemunhas oculares de como um navio insubmergível acabou afundando.
        Ainda assim, Titanic não deixa de ser um filme sobre personagens vívidos e envolventes, cujo destino trágico nos emociona e entristece. Desde o começo sabemos o que vai acontecer nas linhas gerais, mas as linhas específicas traçadas por Rose e Jack são a novidade que nos prende a atenção. James Cameron incorporou os heróis nas peles de Kate Winslet e Leonardo DiCaprio e criou ícones cinematográficos que serão cultuados por muitas décadas ainda. É por isso que quando ouvimos o nome Titanic, a maioria de nós, cinéfilos, pensa primeiro no filme. Só depois nos lembramos que houve um navio com esse nome.

Resenha crítica do filme Titanic

Ano de produção: 1997
Direção: James Cameron
Roteiro: James Cameron
Elenco: Leonardo DiCaprio, Kate Winslet, Billy Zane, Kathy Bates, Frances Fisher, Gloria Stuart, Bernard Hill, Victor Garber, Jonathan Hyde, Danny Nucci e Bill Paxton

Leia também as crônicas sobre outros filmes dirigidos por James Cameron:

O Exterminador do Futuro
Avatar

Comentários

  1. Não sei se é preciso guardar proporções ao comparar Titanic com E o vento levou. Duas obras que se eternizaram pela força de seus personagens tendo como pano de fundo um fato histórico relevante contada de forma magistral. Perfeita análise Fábio. Na veia. Abçs

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Confira também:

Menina de Ouro: a história de Maggie Fitzgerald é real?

Tempestade Infinita: drama real de resiliência e superação

Siga a Crônica de Cinema