A Mulher na Janela: crime de verdade é esse roteiro!
A Mulher na Janela: filme dirigido por Joe Wright
SUSPENSE PSICOLÓGICO COM FINAL NADA SUTIL
Ah, os testes de audiência! Para a indústria da comunicação – especialmente para os operários da publicidade – submeter uma peça acabada à avaliação de grupos focais para descobrir se ela funcionará com o grande público, é parte de um processo já estabelecido. Há custos envolvidos, mas para quem está investindo seu dinheiro suado, é uma forma de obter alguma segurança. Há também muitas técnicas envolvidas, dominadas por marqueteiros e pesquisadores, mais preocupados com os resultados financeiros do que com as idiossincrasias artísticas. Os criativos odeiam a ditadura dos grupos focais. Os marqueteiros, no final das contas, se acham os mais criativos!
A indústria do cinema, especialmente em Hollywood, transformou os testes de audiência em gênero de primeira necessidade. Filmes com orçamento polpudo jamais chegam às salas de cinema com o mesmo corte idealizado pelo diretor. São reeditados depois de submetidos ao escrutínio do espectador médio, para atender ao gosto do maior número de pessoas. O problema é que, às vezes, essa prática sai do controle. Da escolha dos participantes até a análise das entrevistas conduzidas com rigor científico, há tanta gente transitando que a verdade se perde no meio do caminho. São tantos especialistas dando palpite que os distribuidores acabam com um monstro deformado nas mãos – um autêntico filme de Frankenstein, com o perdão do trocadilho!
A Mulher na Janela, filme lançado em 2021 e assinado pelo diretor Joe Wright, é um desses casos lamentáveis. A crítica, o público e os cinéfilos adoraram descer a lenha! É compreensível. Ao se deparar com nomes como Amy Adams, Gary Oldman e Julianne Moore, dirigidos por um cineasta experiente, o espectador acaba indo ao pote com muita sede. Mas então percebe que a quantidade de cinema oferecido não condiz com o que foi vendido na embalagem. Terminam frustrados. Exagero? Talvez! Muitos encontrarão qualidades nessa produção da Netflix, ainda que o final da história entre na sala com a sutileza de um elefante tocando trombone de vara numa loja de louças!
O filme é uma adaptação do badalado romance The Woman in the Window, escrito em 2018 pelo americano A. J. Finn, que alcançou sucesso no mercado editorial e trouxe notoriedade para seu autor. Francamente inspirado no universo de Alfred Hitchcock – e acumulando acusações de plágio de outros autores que acabaram não se confirmando – o livro é recheado de suspense psicológico e de incontáveis referências cinematográficas, já que a protagonista passa as noites assistindo aos grandes clássicos do suspense pela TV.
Quem assumiu a escrita do roteiro foi Tracy Letts, mais conhecido pelo seu trabalho como ator – você talvez se lembre dele no papel de Henry Ford II, no filme Ford vs Ferrari, e também por ter escrito o roteiro do pesado Killer Joe - Matador de Aluguel, dirigido por Willian Friedkin. O roteiro que Letts escreveu foi aprovado pelos produtores e filmado, mas tropeçou no teste de audiência. O público não gostou e os produtores providenciaram algumas reescritas, realizadas por roteiristas não creditados. Tracy Letts lavou as mãos e a bomba caiu no colo do diretor.
Antes de continuar o assunto, vejamos a sinopse de A Mulher na Janela. O filme conta a história da Doutora Ana Fox (Amy Adams), uma psicóloga infantil confinada num casarão em Nova Iorque. Às voltas com o alcoolismo, ela também sofre de agorafobia, o exato oposto da claustrofobia: seu medo é de lugares públicos e espaços descobertos. Quando os novos vizinhos se mudam para a casa em frente, ela jura de pés juntos que viu uma mulher ser brutalmente assassinada. Mas, com antecedentes tão comprometedores, quem acreditará nela?
O ponto que me incomodou nesse filme foi a demora do diretor em criar a necessária empatia com a protagonista. O espectador enxerga verdade num personagem quando consegue se pôr no seu lugar, quando consegue compreender os motivos que o levam à ação. O roteiro de Tracy Letts, no entanto, demorou demais para fornecer informações suficientes. Perdeu tempo fazendo suspense e segurando a narrativa com distrações. Quando vem o ponto de virada, ainda não temos certeza se amamos ou se odiamos a Doutora Ana Fox.
Joe Wright é um diretor eclético. Já assinou filmes como O Destino de Uma Nação, Orgulho e Preconceito e Hanna, entre outros. Ao realizar A Mulher na Janela ele conta que viveu uma experiência frustrante. O corte final resultou bastante diferente da sua concepção original. Planejava levar às telas uma protagonista bem mais destrambelhada e confusa, mergulhada em uma atmosfera mais pesada e soturna, sustentada por uma trilha sonora... hardcore. Ainda assim o diretor conseguiu mostrar sua costumeira competência, realizando cenas com timing preciso e apurada concepção visual. O elenco estrelado e competente eleva o nível da produção e garante momentos de bom cinema. Pena que nada disso foi suficiente.
A indústria do cinema, especialmente em Hollywood, transformou os testes de audiência em gênero de primeira necessidade. Filmes com orçamento polpudo jamais chegam às salas de cinema com o mesmo corte idealizado pelo diretor. São reeditados depois de submetidos ao escrutínio do espectador médio, para atender ao gosto do maior número de pessoas. O problema é que, às vezes, essa prática sai do controle. Da escolha dos participantes até a análise das entrevistas conduzidas com rigor científico, há tanta gente transitando que a verdade se perde no meio do caminho. São tantos especialistas dando palpite que os distribuidores acabam com um monstro deformado nas mãos – um autêntico filme de Frankenstein, com o perdão do trocadilho!
A Mulher na Janela, filme lançado em 2021 e assinado pelo diretor Joe Wright, é um desses casos lamentáveis. A crítica, o público e os cinéfilos adoraram descer a lenha! É compreensível. Ao se deparar com nomes como Amy Adams, Gary Oldman e Julianne Moore, dirigidos por um cineasta experiente, o espectador acaba indo ao pote com muita sede. Mas então percebe que a quantidade de cinema oferecido não condiz com o que foi vendido na embalagem. Terminam frustrados. Exagero? Talvez! Muitos encontrarão qualidades nessa produção da Netflix, ainda que o final da história entre na sala com a sutileza de um elefante tocando trombone de vara numa loja de louças!
O filme é uma adaptação do badalado romance The Woman in the Window, escrito em 2018 pelo americano A. J. Finn, que alcançou sucesso no mercado editorial e trouxe notoriedade para seu autor. Francamente inspirado no universo de Alfred Hitchcock – e acumulando acusações de plágio de outros autores que acabaram não se confirmando – o livro é recheado de suspense psicológico e de incontáveis referências cinematográficas, já que a protagonista passa as noites assistindo aos grandes clássicos do suspense pela TV.
Quem assumiu a escrita do roteiro foi Tracy Letts, mais conhecido pelo seu trabalho como ator – você talvez se lembre dele no papel de Henry Ford II, no filme Ford vs Ferrari, e também por ter escrito o roteiro do pesado Killer Joe - Matador de Aluguel, dirigido por Willian Friedkin. O roteiro que Letts escreveu foi aprovado pelos produtores e filmado, mas tropeçou no teste de audiência. O público não gostou e os produtores providenciaram algumas reescritas, realizadas por roteiristas não creditados. Tracy Letts lavou as mãos e a bomba caiu no colo do diretor.
Antes de continuar o assunto, vejamos a sinopse de A Mulher na Janela. O filme conta a história da Doutora Ana Fox (Amy Adams), uma psicóloga infantil confinada num casarão em Nova Iorque. Às voltas com o alcoolismo, ela também sofre de agorafobia, o exato oposto da claustrofobia: seu medo é de lugares públicos e espaços descobertos. Quando os novos vizinhos se mudam para a casa em frente, ela jura de pés juntos que viu uma mulher ser brutalmente assassinada. Mas, com antecedentes tão comprometedores, quem acreditará nela?
O ponto que me incomodou nesse filme foi a demora do diretor em criar a necessária empatia com a protagonista. O espectador enxerga verdade num personagem quando consegue se pôr no seu lugar, quando consegue compreender os motivos que o levam à ação. O roteiro de Tracy Letts, no entanto, demorou demais para fornecer informações suficientes. Perdeu tempo fazendo suspense e segurando a narrativa com distrações. Quando vem o ponto de virada, ainda não temos certeza se amamos ou se odiamos a Doutora Ana Fox.
Joe Wright é um diretor eclético. Já assinou filmes como O Destino de Uma Nação, Orgulho e Preconceito e Hanna, entre outros. Ao realizar A Mulher na Janela ele conta que viveu uma experiência frustrante. O corte final resultou bastante diferente da sua concepção original. Planejava levar às telas uma protagonista bem mais destrambelhada e confusa, mergulhada em uma atmosfera mais pesada e soturna, sustentada por uma trilha sonora... hardcore. Ainda assim o diretor conseguiu mostrar sua costumeira competência, realizando cenas com timing preciso e apurada concepção visual. O elenco estrelado e competente eleva o nível da produção e garante momentos de bom cinema. Pena que nada disso foi suficiente.
Um suspense psicológico, ainda que traga referências elegantes a Hitchcock e finque bases no carisma de Amy Adams, precisa surpreender. Excluindo os iniciados em psicologia, que eventualmente podem se deliciar com algumas minúcias, o espectador comum termina o filme sem saber ao certo se ama ou se odeia a Doutora Fox. Essa dúvida é suficiente para pôr abaixo todo o filme.
Resenha crítica do filme A Mulher na Janela
Ano de produção: 2021
Direção: Joe Wright
Roteiro: Tracy Letts
Elenco: Amy Adams, Gary Oldman, Anthony Mackie, Fred Hechinger, Wyatt Russell, Brian Tyree Henry, Jennifer Jason Leigh e Julianne Moore
Direção: Joe Wright
Roteiro: Tracy Letts
Elenco: Amy Adams, Gary Oldman, Anthony Mackie, Fred Hechinger, Wyatt Russell, Brian Tyree Henry, Jennifer Jason Leigh e Julianne Moore
Meu amigo, muito bom seu texto. Esse filme está na minha lista e verei logo.
ResponderExcluirObrigada pela dica.
Ah, muito obrigado! E fique à vontade para expressar suas opiniões depois que conferir o filme. Abraços.
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