Rede de Mentiras: estrelado por Leonardo DiCaprio e Russel Crowe

Cena do filme Rede de Mentiras
Rede de Mentiras: filme de Ridley Scott

UMA ABORDAGEM REALISTA SOBRE AS AÇÕES DA CIA NO ORIENTE MÉDIO

Depois da queda do muro de Berlin e do colapso da União Soviética, os autores de thrillers de espionagem precisaram queimar neurônios para encontrar matéria-prima que atendesse a demanda por histórias convincentes. Então veio o 11 de Setembro e revelou ao mundo a existência de um vilão digno de revigorar o gênero: a Al Qaeda. O cinema tratou de explorar o tema e produziu uma fartura de títulos envolvendo a guerra contra o terrorismo. Rede de Mentiras, realizado em 2008 por Ridley Scott, parece ser apenas mais um, mas é bem acima da média. Trata-se de um excelente filme, com todos os ingredientes indispensáveis para agradar os fãs e cinéfilos.
        O cineasta Ridley Scott, cujo portfólio diversificado dispensa apresentações, faz aqui sua incursão sobre o universo dos thrillers de espionagem, mas não invade o território dos James Bonds e Jason Bournes. Seu filme abraça o realismo – ainda que dramatizado – pintando um retrato convincente dos agentes secretos e burocratas dos serviços de inteligência. Vemos na tela o moderno aparato tecnológico à disposição dos americanos, mas é nas ruas e paisagens desérticas do Oriente Médio que acompanhamos apreensivos o desenrolar de uma história violenta, mas ao mesmo tempo envolvente.
        Rede de Mentiras conta como o agente da CIA Roger Ferris (Leonardo DiCaprio) trabalha em campo com grande desenvoltura pelas cidades do Oriente Médio, sob supervisão direta de Ed Hoffmann (Russel Crowe), um burocrata baseado em Washington que controla de lá todas as ações. Os dois tentam desbaratar o grupo terrorista chefiado por um tal Al-Saleem (Alon Aboutboul), responsável por vários atentados na Europa. Trabalhando em colaboração com Hani Salaam (Mark Strong) chefe do serviço de inteligência da Jordânia, Ferris arma uma operação ousada: cria um grupo terrorista fictício, cujo líder seria um arquiteto insuspeito chamado Omar Sadiki (Ali Suliman), para rivalizar com os terroristas verdadeiros e obrigá-los a se expor. A rede de mentiras criada por espiões, agentes duplos e especialistas em contraespionagem só nos revela uma verdade: estamos diante de uma operação arriscada, com enorme potencial para dar tudo errado.
        Roger Ferris, vivido por Leonardo Di Caprio, é o elemento central do filme. É por meio dos seus olhos que acompanhamos todas as ações. No entanto, ele é apenas uma decorrência da trama. Para explicar melhor esse ponto, preciso remontar ao romance Body of Lies, no qual o filme foi baseado. Seu autor, David Ignatius, é jornalista ligado ao The Washington Post e durante anos acompanhou as operações da CIA. Com sua veia de romancista – já escreveu onzes romances – ele teve acesso às autoridades e personalidades que protagonizaram inúmeras ações reais no Oriente Médio.
        Ignatius conta que a ideia para seu livro nasceu em 2003, quando entrevistou o então diretor da CIA George Tenet, que lhe explicou a estratégia adotada pela agência de trabalhar em colaboração e compartilhar informações com serviços de inteligência de países aliados no mundo muçulmano. O diretor ainda citou o chefe da Diretoria Geral de Inteligência Jordaniana, general Saad Kheir, como sendo um dos seus melhores colaboradores. O autor foi até a Jordânia e conseguiu permissão do rei Abdullah para entrevistar seu chefe de inteligência. Foi das inúmeras conversas que manteve com o general que ele desenhou seu personagem Hani Salaam.
        Valendo-se de tamanha intimidade com o mundo da espionagem, David Ignatius construiu sua história a partir de ações reais conduzidas pelos agentes jordanianos, que em colaboração com americanos e ingleses conseguiram eliminar vários grupos terroristas, criando intrigas entre eles para que se autodestruíssem. Basicamente foi isso que replicou em Rede de Mentiras. A adaptação para as telas foi feita com competência pelo experiente roteirista William Monahan – já havia vencido o Óscar de melhor roteiro adaptado por Os Infiltrados. Seu roteiro segue linear, com cenas bem construídas e diálogos afiados, mas sem deixar que o espectador se perca na trama complexa.
        Ridley Scott rodou seu filme em locações nos Estados Unidos e no Marrocos e esbanjou segurança. O diretor, que tarimbou seu estilo no mundo dos filmes publicitários, priorizou a fluidez e a objetividade para impor um ritmo ágil e prender o espectador na poltrona. É claro que a excelente performance de Leonardo DiCaprio conta favoravelmente. Russell Crowe, em sua quarta colaboração com o diretor – já trabalharam em parceria em Gladiador, Um Bom Ano e O Gângster – também é presença de peso – e isso não é apenas força de expressão! Enfim, Rede de Mentiras é um ótimo filme, que merece ser visitado.

Resenha crítica do filme Rede de Mentiras

Ano de produção: 2008
Direção: Ridley Scott
Roteiro: William Monahan
Elenco: Leonardo DiCaprio, Russell Crowe, Mark Strong, Oscar Isaac, Vince Colosimo, Alon Aboutboul, Ali Suliman, Golshifteh Farahani, Simon McBurney, Kais Nashif, Jamil Khoury e Lubna Azabal

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