O Homem Que Viu o Infinito: a história real de Srinivasa Ramanujan
O Homem Que Viu o Infinito: filme dirigido por Matt Brown
TODA A MODÉSTIA QUE NÃO SE ESPERA DE UM GÊNIO
Matemática nunca foi meu forte. Meu pendor sempre foi para as matérias da área de humanas. Quando frequentei os bancos do curso técnico em eletrônica, no ensino médio, precisei estudar um ou outro conceito mais avançado dessa ciência tão exigente. Lembro também de ter me empolgado com a beleza e a elegância da geometria analítica. Porém, tão logo entrei para a faculdade de comunicação, esqueci tudo. Tudo mesmo! A única lembrança que guardei foi a noção da matemática como uma poderosa linguagem, capaz de dar materialidade aos conceitos mais abstratos. Invejava os que conseguiam enxergá-los apenas de olhar os números, mas jamais me dispus a desenvolver a necessária intimidade com a matéria.Por isso, quando o filme O Homem Que Viu o Infinito, realizado em 2015 por Matt Brown, se ofereceu diante dos meus olhos no serviço de streaming, relutei em assistir. A biografia de um matemático – um dos grandes, cujo nome já havia ouvido em algum lugar – não era exatamente o que estava procurando como entretenimento naquela noite. No entanto, as presenças de Dev Patel e Jeremy Irons no elenco me estimularam. Apertei o play torcendo para que a matemática passasse o filme inteiro em segundo plano. Para minha satisfação, foi isso que aconteceu.
A vida atribulada de Srinivasa Ramanujan, o gênio indiano que trouxe importantes contribuições para a matemática, foi se revelando aos poucos, num filme envolvente e construído com apuro narrativo. Logo percebemos que a produção não é tão endinheirada como aquelas que costumam resultar em cinebiografias hollywoodianas de sucesso, mas isso não prejudicou o enredo. Matt Brown, que escreveu o roteiro e assumiu a direção, faz um trabalho correto, sem grandes ousadias criativas e com toda a prudência que cabe a um cineasta com pouca experiência.
O filme conta como Srinivasa Ramanujan (Dev Patel), um rapaz pobre e esforçado que vive na cidade indiana de Madras às vésperas do Século XX, se destaca graças às suas habilidades com os números. Logo ele deixa o trabalho braçal e é transferido para os serviços de contabilidade. Incentivado pelos patrões, que enxergam seu potencial, busca entrar em contato com professores universitários para tentar ingressar no mundo acadêmico da matemática. Casado com Janaki (Devika Bhise) e vivendo na casa da mãe (Arundhati Nag), Ramanujan é um jovem apegado a fortes valores familiares e tradições religiosas. Por isso, quando G.H. Hardy (Jeremy Irons), um dos mais importantes matemáticos do mundo o convida para ingressar na Universidade de Cambridge, tal oportunidade se transforma num dilema. Terá que se afastar da família e assumir uma vida de isolamento e trabalho intenso na Inglaterra. Ele aceita a oferta de Hardy, mas acaba sofrendo com preconceitos, provações e uma saudade imensa da família e do seu país. Realizou uma fértil empreitada, que revolucionou o mundo da matemática, mas por ela pagou um alto preço.
O que mais salta aos olhos em O Homem Que Viu o Infinito é a densidade do seu protagonista. Se tivermos que pintar o retrato de um gênio, reconhecido e admirado por seus pares, certamente carregaremos nas cores da altivez e da autoconfiança – talvez reforçando os contornos com fortes traços de arrogância e empáfia. Nada disso enxergamos em Ramanujan, um homem que preferia atribuir sua genialidade aos desígnios de Deus. Que contabilizava seus feios não como conquistas, mas como tarefas missionárias. Que não se via como autor, mas como instrumento a serviço do divino. Seu traço mais marcante era, por certo, a modéstia.
Não foi à toa que Matt Brown decidiu contar a história de Srinivasa Ramanujan, assim que leu o livro The Man Who Knew Infinity, escrito em 1991 por Robert Kanigel. Lá o autor conta a trajetória do indiano, falando principalmente aos amantes da matemática, que veneram sua obra. Ao mesmo tempo, consegue deixar sua ciência mais acessível, trazendo à tona a imensa paixão pelos números que ele cultivava. Porém, a adaptação para o cinema feita pelo diretor focalizou o drama humano vivido pelo protagonista, num processo que consumiu 12 anos de pesquisas e investigações. Além de ter se tornado amigo próximo de Robert Kanigel, Matt Brown empreendeu pesquisas minuciosas em inúmeras instituições, para garantir a precisão histórica do seu roteiro.
Talvez um diretor mais calejado, com sólidas articulações espalhadas pela indústria do cinema, fosse capaz de ousadias mais criativas. Mas se quisesse realizar um filme melhor sobre a vida de Srinivasa Ramanujan, teria que partir do mesmo patamar de respeito e admiração que Matt Brown nutriu por esse gênio indiano, tão apegado aos seus valores culturais, religiosos e familiares.
O que mais salta aos olhos em O Homem Que Viu o Infinito é a densidade do seu protagonista. Se tivermos que pintar o retrato de um gênio, reconhecido e admirado por seus pares, certamente carregaremos nas cores da altivez e da autoconfiança – talvez reforçando os contornos com fortes traços de arrogância e empáfia. Nada disso enxergamos em Ramanujan, um homem que preferia atribuir sua genialidade aos desígnios de Deus. Que contabilizava seus feios não como conquistas, mas como tarefas missionárias. Que não se via como autor, mas como instrumento a serviço do divino. Seu traço mais marcante era, por certo, a modéstia.
Não foi à toa que Matt Brown decidiu contar a história de Srinivasa Ramanujan, assim que leu o livro The Man Who Knew Infinity, escrito em 1991 por Robert Kanigel. Lá o autor conta a trajetória do indiano, falando principalmente aos amantes da matemática, que veneram sua obra. Ao mesmo tempo, consegue deixar sua ciência mais acessível, trazendo à tona a imensa paixão pelos números que ele cultivava. Porém, a adaptação para o cinema feita pelo diretor focalizou o drama humano vivido pelo protagonista, num processo que consumiu 12 anos de pesquisas e investigações. Além de ter se tornado amigo próximo de Robert Kanigel, Matt Brown empreendeu pesquisas minuciosas em inúmeras instituições, para garantir a precisão histórica do seu roteiro.
Talvez um diretor mais calejado, com sólidas articulações espalhadas pela indústria do cinema, fosse capaz de ousadias mais criativas. Mas se quisesse realizar um filme melhor sobre a vida de Srinivasa Ramanujan, teria que partir do mesmo patamar de respeito e admiração que Matt Brown nutriu por esse gênio indiano, tão apegado aos seus valores culturais, religiosos e familiares.
Resenha crítica do filme O Homem Que Viu o Infinito
Título original: The Man Who Knew InfinityAno de produção; 2015
Direção: Matt Brown
Roteiro: Matt Brown
Elenco: Dev Patel, Jeremy Irons, Devika Bhise, Toby Jones, Stephen Fry, Jeremy Northam, Kevin McNally, Enzo Cilenti, Arundhati Nag, Dhritiman Chatterjee, Shazad Latif e Roger Narayan
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