Sicario: Terra de Ninguém: de que lado está o assassino?
Sicario: Terra de Ninguém: filme de Denis Villeneuve
LUTANDO NA FRONTEIRA DA ÉTICA E DA MORAL
Os policiais, no seu esforço para combater o tráfico de drogas, estão do lado dos mocinhos. Os traficantes, aferrados à violência, estão na horda dos bandidos. O embate entre ambos os lados resulta em incontáveis cenas de ação, coreografadas com precisão e capturadas graficamente nos seus detalhes mais sórdidos. É o que temos no cardápio da maioria dos filmes policiais, interessados em oferecer entretenimento ligeiro e despreocupados em matar nossa fome de bom cinema. Em Sicario: Terra de Ninguém, filme de 2015 dirigido por Denis Villeneuve, o prato principal é outro: os realizadores fazem questão de nos servir um punhado de temas filosóficos e questões morais, envoltos por uma atmosfera de tensão e desorientação, temperados com um forte sabor amargo de realidade. No final, saímos empanturrados de tanto cinema de qualidade!A violência é ingrediente salpicado com generosidade em vários momentos do filme. E não poderia ser diferente. O tráfico de drogas virou um tema explosivo, que saiu do controle da sociedade e ganhou contornos de guerra cruel. As políticas públicas pautadas na repressão, criaram um aparato burocrático militarizado que conquistou poder econômico e influência política – mais interessado em autoperpetuação do que no combate às questões de saúde pública. Os traficantes, ao incorporar a violência e a corrupção como método para condução dos negócios, ficaram sem a mesma legitimidade concedida aos comerciantes de drogas lícitas, como álcool e tabaco. Os que falam em legalização acreditam que pagando impostos os traficantes estariam automaticamente redimidos. Os que falam em descriminalização, preocupados em defender os interesses do mercado consumidor, tendem a reforçar as medidas legalistas e manter a interferência do estado. Sicario: Terra de Ninguém não vem para trazer soluções fáceis, mas para nos mostrar uma fotografia incômoda dessa realidade.
O filme mostra como a agente do FBI Kate Macer (Emily Blunt) está enfronhada no combate às drogas. Na pequena cidade de Chandler, no Arizona, ela se envolve em operações policiais e se destaca pela coragem, preparo emocional e qualificações militares. Sua ficha impecável vira recomendação para que ela integre uma força-tarefa formada por diversas agências oficiais, dedicadas a desmantelar um cartel mexicano. Sob as ordens de Matt Graver (Josh Brolin), um suspeitíssimo agente da CIA com poderes de sobra para agir fora de qualquer limite legal, ela vai para El Paso e participa de uma operação arriscada, mas sem receber informações prévias. Lá ela também conhece o misterioso Alejandro Gillick (Benicio del Toro), um agente que trabalha sabe-se lá para qual agência, que parece saber muito mais do que qualquer outro e não tem freios para usar métodos inadmissíveis, como a tortura. Tudo é tratado com sigilo, sem explicações e sem justificativas. Os valores morais e éticos de Kate serão postos à prova. A determinação dos agentes do estado, altamente militarizados, não admite questionamentos: na guerra contra os traficantes, chegamos ao temerário vale tudo!
Sicario: Terra de Ninguém é uma criação de Taylor Sheridan, que iniciou sua carreira como ator, em séries de TV e alguns filmes. Como roteirista, revelou-se criativo, talentoso e competente. Seu roteiro, escrito em apenas quatro meses, concentrou-se em explorar a militarização da polícia. Ele pesquisou sobre as entranhas das organizações de inteligência nos Estados Unidos, usou doses generosas de imaginação e se baseou em eventos reais – corpos escondidos em paredes ou pendurados em pontes foram fartamente relatados pela mídia americana e mexicana. Valeu-se de uma estrutura narrativa clássica, mas quebrou convenções: os personagens que criou não desenvolvem arcos dramáticos reconhecíveis ao longo da história. Sabemos muito pouco sobre eles – à exceção de Alejandro, cujo passado se revela em alguns poucos detalhes pertinentes.
Com o artifício de manter o espectador no mesmo caldo de desinformação que cozinha seus personagens, o roteirista nos provoca. Ficamos numa posição delicada: para quem, afinal, devemos torcer? Para a protagonista, sólida em suas crenças e determinada a impor respeito num universo dominado pelo elemento masculino? Mas ela se mostra indecisa e frágil em algumas cenas! Para o agente habilidoso, treinado e disposto a quintuplicar as doses de violência empregadas pelos traficantes? Mas ele não tem escrúpulos em firmar conluios com qualquer um! Para o agente ilegal, que conhece a fundo os métodos empregados pelos traficantes? Mas ele se move apenas por interesses pessoas!
É nessa fronteira moral que Sicario: Terra de Ninguém transcorre, ainda que o cenário seja composto pelas paisagens áridas da fronteira física entre México e Estados Unidos – aliás, fotografadas com brilhantismo por Roger Deakins e envoltas numa atmosfera de tensão permanente graças à música do compositor Jóhann Jóhannsson. O diretor canadense Denis Villeneuve pisou nesse território com desenvoltura. Desde a primeira leitura do roteiro compreendeu a oportunidade de usar a seu favor os elementos de realidade oferecidos pelo enredo. Formado na prática intensa dos documentários curtos para a TV, Villeneuve faz um cinema com os pés fincados no realismo, mas capaz de voos dramáticos emocionalmente intensos. Sua câmera assume a posição de testemunha ocular, mas seus subtextos parecem estar sempre no comando.
Em Sicario: Terra de Ninguém, Villeneuve não tenta compactar o tempo em cenas de ação alucinadas. Ao contrário, ele parece esticar o máximo que pode os minutos, para prolongar a tensão. Há sempre algo que está para acontecer, ainda que não saibamos ao certo do que se trata. Há sempre algum segredo que parece estar a ponto de ser revelado. Há sempre uma dúvida sobre qual é a coisa certa a fazer. Quando saímos do cinema, vemos que a realidade não é nada diferente daquela mostrada na sala de exibição!
Com o artifício de manter o espectador no mesmo caldo de desinformação que cozinha seus personagens, o roteirista nos provoca. Ficamos numa posição delicada: para quem, afinal, devemos torcer? Para a protagonista, sólida em suas crenças e determinada a impor respeito num universo dominado pelo elemento masculino? Mas ela se mostra indecisa e frágil em algumas cenas! Para o agente habilidoso, treinado e disposto a quintuplicar as doses de violência empregadas pelos traficantes? Mas ele não tem escrúpulos em firmar conluios com qualquer um! Para o agente ilegal, que conhece a fundo os métodos empregados pelos traficantes? Mas ele se move apenas por interesses pessoas!
É nessa fronteira moral que Sicario: Terra de Ninguém transcorre, ainda que o cenário seja composto pelas paisagens áridas da fronteira física entre México e Estados Unidos – aliás, fotografadas com brilhantismo por Roger Deakins e envoltas numa atmosfera de tensão permanente graças à música do compositor Jóhann Jóhannsson. O diretor canadense Denis Villeneuve pisou nesse território com desenvoltura. Desde a primeira leitura do roteiro compreendeu a oportunidade de usar a seu favor os elementos de realidade oferecidos pelo enredo. Formado na prática intensa dos documentários curtos para a TV, Villeneuve faz um cinema com os pés fincados no realismo, mas capaz de voos dramáticos emocionalmente intensos. Sua câmera assume a posição de testemunha ocular, mas seus subtextos parecem estar sempre no comando.
Em Sicario: Terra de Ninguém, Villeneuve não tenta compactar o tempo em cenas de ação alucinadas. Ao contrário, ele parece esticar o máximo que pode os minutos, para prolongar a tensão. Há sempre algo que está para acontecer, ainda que não saibamos ao certo do que se trata. Há sempre algum segredo que parece estar a ponto de ser revelado. Há sempre uma dúvida sobre qual é a coisa certa a fazer. Quando saímos do cinema, vemos que a realidade não é nada diferente daquela mostrada na sala de exibição!
Resenha crítica do filme Sicario: Terra de Ninguém
Ano de produção: 2015Direção: Denis Villeneuve
Roteiro: Taylor Sheridan
Elenco: Emily Blunt, Benicio del Toro, Josh Brolin, Daniel Kaluuya, Maximiliano Hernández, Victor Garber, Jon Bernthal, Jeffrey Donovan, Raoul Trujillo, Julio Cedillo, Hank Rogerson e Bernardo P. Saracino
Assisti este filme. Perfeita a narrativa sobre a obra, a agente se surpreendeu com as ações do Grupo que, deu a entender que ja trabalhavam juntos há algum tempo. O time de atores sensacional......Aguardamos a próxima crônica de outro filme semelhante........nos mesmos moldes.....
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