Posto de Combate: crônica de uma batalha real

Cena do filme Posto de Combate

HOMENS COMUNS, VIVENDO UMA SITUAÇÃO EXTRAORDINÁRIA

Este não é um filme de ação. É um drama de guerra, filmado como uma homenagem a soldados reais, que lutaram de verdade. Alguns morreram, outros saíram feridos e trouxeram sequelas de uma das mais difíceis batalhas no Afeganistão. Posto de Combate, dirigido por Rod Lurie em 2020, é o tipo de filme que causa arrepios nos ideólogos de plantão – aqueles que batem o pé no antiamericanismo, ainda que os inimigos da vez sejam os execráveis talibãs! Já os desavisados, que como eu tropeçam na capa desse filme no serviço de streaming e resolvem conferir, podem se decepcionar com a falta de cenas retumbantes e recheadas de efeitos especiais. Não encontrarão personagens retratados em profundidade, nem subtramas envolventes. Tudo o que acompanharão é uma espécie de crônica, que se apega à cronologia dos fatos para entregar um relato preciso do campo de batalha.
        Em Posto de Combate, porém, encontrei muito mais do que dramatizações em linguagem semidocumental. Encontrei respeito, franqueza e uma autenticidade difícil de encontrar em dramas de guerra. Apesar do design de produção ter se esmerado em garantir que todas as armas, uniformes e objetos de cenas fossem reais, não é esse tipo de autenticidade que aqui tento destacar. É aquela que tinge o tecido das emoções com cores verdadeiras, para nos cobrir com sentimentos plausíveis, que provavelmente viveríamos se fôssemos nós nas peles dos combatentes.
        O episódio real retratado nesse filme aconteceu em 2009, quando 53 soldados americanos foram atacados por cerca de 400 Talibãs, num posto avançado no nordeste do Afeganistão. Tudo foi registrado no livro intitulado The Outpost: An Untold Story of American Valor, escrito pelo jornalista Jake Tapper. Conhecido âncora da CNN, suas reportagens renderam um documentário sobre o tema, exibido na emissora e assistido pelo roteirista e produtor Paul Tamasy. Serviu de inspiração para que ele empreendesse uma adaptação para o cinema. Mas antes de entrar nos detalhes, é importante examinar sinopse de Posto de Combate.
        Quando um novo grupo de soldados chega ao posto avançado PRT Kamdesh, logo percebem a encrenca na qual se meteram. O lugar fica no sopé de três montanhas e não passa de um buraco vulnerável aos ataques do talibãs. De fato, os ataques acontecem numa rotina assustadora e os oficiais no comando se desdobram para manter o controle da situação. E se me refiro aos oficiais, no plural, é porque eles vão sendo substituídos na medida em que... morrem! E na medida em que combatentes vão repelindo os ataques rotineiros, ficamos com a certeza de que o maior deles chegará a qualquer momento. E ele vem no dia 3 de outubro de 2009, quando acontece a feroz Batalha de Kamdesh. Os talibãs chegam às centenas, emboscando os americanos durante um dia inteiro e provocando o confronto mais sangrento da guerra no Afeganistão. Oito soldados americanos foram mortos e outros 27 ficaram feridos.
        O filme é estrelado por Scott Eastwood – filho de Clint Eastwood – Caleb Landry Jones, Orlando Bloom, Jack Kesy, Cory Hardrict, Milo Gibson, Jacob Scipio, Will Attenborough e Taylor John Smith. Mas o que enxergamos o tempo todo não são as estrelas de cinema, mas os indivíduos que estavam na linha de frente e protagonizaram cenas tão desprovidas de glória que chegam a ser desconcertantes. O roteirista Paul Tamasy trabalhou em conjunto com o também roteirista Eric Johnson e desenvolveram um primeiro tratamento, para ser filmado pelo diretor Sam Raimi. Mas então, Rod Lurie, conhecido por filmes de sucesso como A Conspiração e A Última Fortaleza, ingressou no projeto. Chegou com as credenciais de verdadeiro militar, graduado em 1984 na academia militar de West Point. Trouxe uma nova visão para estabelecer a adaptação de Posto de Combate.
        Filmando em locações na Bulgária, os realizadores recriaram o posto avançado de Kamdesh nos seus mínimos detalhes. Queriam tornar o filme o mais autêntico possível. O diretor Rod Lurie escalou vários atores com experiências reais em batalhas – inclusive Daniel Rodriquez, um dos heróis sobreviventes, que interpreta a si mesmo. Com limitações orçamentárias, o diretor filmou diversas sequências em uma única tomada. Foi assim que conseguiu envolver o espectador e colocá-lo diante da experiência aterrorizante de estar numa batalha verdadeira.
        Para os realizadores, Posto de Combate se tornou uma experiência emocional. Intensa, porque retrata episódios violentos, deflagrados a partir de uma série de decisões questionáveis do alto comando militar dos Estados Unidos. E triste, porque lida com o luto de famílias inteiras e com a memória de homens comuns, que na qualidade de combatentes, viveram circunstâncias extraordinárias. Mas para o diretor Rod Lurie, em especial, o filme assumiu proporções traumáticas. Seu filho, Hunter Lurie, que trabalhava como produtor, morreu repentinamente durante a pré-produção, vítima de um AVC causado por um coágulo sanguíneo.
        Quando o diretor Rod Lurie retomou as filmagens na Bulgária, ele o fez com o propósito de homenagear o filho. Trouxe na bagagem uma noção muito mais profunda do drama vivido pelos protagonistas de Posto de Combate, a maioria com a mesma idade de Hunter. Sabendo disso, o espectador passa a ter uma nova compreensão dos depoimentos reais apresentados durante os créditos finais do filme. Não se trata de um drama de guerra. Está mais para uma crônica da guerra no Afeganistão.

Resenha crítica do filme Posto de Combate

Ano de produção: 2020
Direção: Rod Lurie
Roteiro: Paul Tamasy e Eric Johnson
Elenco: Scott Eastwood, Caleb Landry Jones, Orlando Bloom, Jack Kesy, Cory Hardrict, Milo Gibson, Jacob Scipio, Taylor John Smith, Jonathan Yunger, Alexander Arnold, George Arvidson, Will Attenborough, Chris Nascido, Scott Alda Coffey, Jack DeVos, Sharif Dorani, Jack Kalian, Bobby Lockwood, Kwame Patterson, Alfie Stewart, Trey Tucker e Aleksandar Aleksiev

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