Terra Selvagem: uma ficção inspirada em fatos

Cena do filme Terra Selvagem
Terra Selvagem: direção de Taylor Sheridan

ELEMENTOS DE WESTERN, NUM ROTEIRO IMPECÁVEL

O diretor Taylor Sheridan realizou uma façanha e tanto. Em questão de três anos teve seu nome envolvido em três ótimos filmes, que alcançaram grande sucesso nas bilheterias e na opinião dos críticos. Primeiro, como roteirista, ele emplacou em 2015 o filme Sicario: Terra de Ninguém, dirigido por Denis Villeneuve. Repetiu a dose em 2016, com A Qualquer Custo, dirigido por David Mackenzie – inclusive indicado ao Oscar de melhor roteiro original. E em 2017 o próprio Sheridan decidiu filmar um de seus roteiros, realizando o ótimo Terra Selvagem.
        Apesar de contar histórias bem distintas, as três produções guardam um elemento em comum: a temática violenta, que se passa em terras remotas e fora do alcance da lei e da ordem. Os cinéfilos logo identificarão, nessa espécie de trilogia, os elementos herdados do gênero western, mas perceberão que eles aparecem renovados, utilizados com originalidade e sempre em favor da narrativa.
        Em Terra Selvagem, Taylor Sheridan soube impor um clima de suspense, mas sem se desviar do drama pessoal do seu protagonista, que tenta solucionar um crime enquanto lida com um passado atormentado por tragédias. Ao mesmo tempo, o diretor usa a natureza inclemente como um elemento motor, que define o caráter dos personagens e os coloca diante do imperativo da sobrevivência. Dilemas éticos e morais parecem não encontrar espaço para serem resolvidos naquele fim de mundo. Para entrar nos detalhes, vejamos uma rápida sinopse:
        Nas terras geladas do oeste do Wyoming, uma garota foge em desespero pela neve, com os pés descalços e sem abrigo. Em poucos instantes estará morta, com os pulmões congelados. O frio pode ter sido a causa da morte, mas os reais motivos que levaram aquela pobre adolescente da reserva nativa àquele momento de desespero, talvez nunca sejam desvendados. Quem tropeça no seu corpo sem vida é Cory Lambert (Jeremy Renner), um caçador familiarizado com a região. Mais que isso, ele conhece a vítima e seus pais! Diante das evidências de um crime, ele vê reabertas algumas feridas do passado, mas precisará lidar com elas quando Jane Banner (Elizabeth Olsen), uma investigadora novata do FBI, chega da ensolarada Las Vegas para conduzir as investigações. Para desvendar o mistério – tão desimportante a ponto de terem destacado uma policial inexperiente – os dois enfrentarão vários obstáculos. O frio mortal será o menos complicado!
        A habilidade de Taylor Sheridan em nos contar essa história é notável. O diretor tem total domínio da linguagem cinematográfica e compreende o imperativo visual do cinema. Ele nos conduz com habilidade e sabe manter o espectador curioso, ainda que envolvido em uma atmosfera de tristeza. Mas é como roteirista que ele arrasa! Seus diálogos são precisos e repletos de subtextos, o que amplia o alcance dos personagens e traz ótimas oportunidades dramáticas para os atores. O roteiro é estruturado de forma brilhante, revelando os detalhes do protagonista, cena após cena. E o uso de um flashback estratégico para estabelecer o ponto de virada da história é brilhante!
        O segredo de Sheridan para escrever ótimos roteiros? Bem... Antes de ser roteirista ele era ator! Trabalhou na TV e no cinema por 20 anos, em diversas séries, como Filhos da Anarquia. Conhece muito bem as dificuldades que um texto limitado impõe na hora de vestir a pele de um personagem. Assistindo aos seus filmes podemos ver que seus diálogos nunca soam óbvios. Há sempre um subtexto revelando camadas de emoção que as palavras tendem a esconder.
        Sheridan conta que decidiu escrever Terra Selvagem depois de ouvir incontáveis histórias reais sobre crimes e abusos que acontecem com nativas indígenas em terras remotas. Decidiu ele mesmo filmar o roteiro porque percebeu que um tema tão sensível, que resvala nas questões éticas e morais de fazer justiça com as próprias mãos, precisava ser abordado com muito cuidado. Nas mãos de outro diretor, o resultado certamente sairia do seu controle. Nas suas, o filme segue fluente do começo ao fim e nos transporta para um mundo do qual conhecemos muito pouco e onde jamais ficamos confortáveis.
        A partir dessa experiência bem-sucedida, Taylor Sheridan alavancou a carreira e consolidou sua presença nos serviços de streaming, criando, escrevendo e dirigindo a famosa série Yellowstone. Realizada como um faroeste moderno, ela resgata os melhores atributos do gênero e nos conta a saga da família Dutton. Estrelada por Kevin Costner, esta série envolvente fez tanto sucesso que acabou gerando outras duas: 1883 e 1923, ambas realizadas como prelúdio. Todas são ótimas para maratonar. Vale a pena conferir!

Resenha crítica do filme Terra Selvagem

Título original: Wind River
Ano de produção: 2017
Direção: Taylor Sheridan
Roteiro: Taylor Sheridan
Elenco: Jeremy Renner, Elizabeth Olsen, Gil Birmingham, Jon Bernthal, Julia Jones, Kelsey Chow, Graham Greene, Martin Sensmeier, James Jordan, Eric Lange, Ian Bohen, Hugh Dillon, Matthew Del Negro, Teo Briones e Tantoo Cardinal

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