O Exterminador do Futuro: viagem no tempo para eliminar o líder da resistência
O Exterminador do Futuro: direção de James Cameron
O EMBATE FINAL ENTRE O HOMEM E A MÁQUINA
No início dos anos 1990, estive a trabalho na Coreia do Sul. Recém-aberto para o mundo, o país fervia em otimismo e pujança econômica, mas os coreanos ainda se espantavam ao cruzar na rua com rostos ocidentais. Todos os olhares se desviavam na minha direção, literalmente. Era constrangedor. Certa manhã, numa rua movimentada de Seul, coloquei um par de óculos escuros, para ver se chamava menos atenção. Que nada! Ao dobrar uma esquina, dois garotinhos que brincavam se assustaram ao me ver. Saíram em disparada, aos berros:– Terminator! Terminator!
Cai na risada. Olhei em volta, para ver se era algum tipo de pegadinha, porque meu porte físico era o oposto exato daquele ostentado por um Schwarzenegger. Além disso, estava usando barbas. E o Exterminado do Futuro não tem barbas! Concluí que bastou um simples par de óculos escuros para me caracterizar como o personagem daquele filme de 1984 – além das minhas feições ocidentais, é claro.
Conto esse episódio para falar do poderoso ícone que o diretor James Cameron criou quando realizou seu filme. Embutiu tanto conteúdo numa única imagem, que a tornou densa de significados: sua máquina assassina, indestrutível e sem alma, revestida de humanidade apenas para amplificar sua brutalidade, dobrando uma esquina qualquer para pôr um ponto final no aqui e agora. As possibilidades da viagem no tempo, a raça humana manipulando com boçalidade e descaso suas conquistas tecnológicas, a chance de perdermos o posto de criaturas mais inteligentes do planeta, a disciplina militar como meio de sobrevivência, a inutilidade das instituições atreladas ao estado, o futuro nas mãos dos indivíduos, que de fato fazem a diferença... O Exterminador do Futuro lida com temas universais e vai além de atiçar nossas emoções primárias. Nos leva a reflexões e nos cobra um posicionamento.
Como produto cinematográfico, a criação de James Cameron é resultado de um esforço coletivo. Tal afirmação, porém, não elimina os méritos do diretor, apenas reforça suas habilidades como realizador e gestor de talentos. Ele conta que a ideia para o filme nasceu de um sonho que o visitou certa noite, quando ardia em febre numa pensão barata em Roma. Viu um esqueleto metálico se arrastando pelo chão e empunhando uma faca. A partir daí, criou todo o conceito que resultou no roteiro de O Exterminador do Futuro. Mas é preciso que se diga: o tal esqueleto metálico assassino, por mais aterrorizante que seja, é apenas parte do poder bélico do seu filme. A estampa que Arnold Schwarzenegger agregou ao personagem se tornou sua face mais bombástica. Aquela, que pôs para correr de medo os garotinhos de Seul.
Antes de seguir, vejamos uma sinopse: em 1984, Sarah Connor (Linda Hamilton), uma jovem garçonete de 19 anos, leva uma vida banal. Até o dia em que descobre pela TV que outras duas homônimas suas foram assassinadas a tiros. Ela está na lista para morrer! É salva por Kyle Reese (Michael Biehn), um soldado que veio do futuro especialmente para protegê-la de um ciborgue assassino chamado T- 800 (Arnold Schwarzenegger). É claro que a garota não acredita na história absurda que o soldado lhe conta: no futuro sombrio de 2029 as máquinas ganharam inteligência e subjugaram os humanos, que sobrevivem graças a um articulado movimento de resistência, comandado por aquele que será seu filho ainda não nascido. Para acabar com a liderança do heroico John Connor, a solução encontrada pelas máquinas foi a de enviar um exterminador para o passado, com a missão de matar sua mãe, antes da concepção. Tamanho disparate também não convence a polícia, que se põe despreparada quando o tal exterminador impõe o terror na cidade. O que se segue é uma perseguição alucinada e mortal, que só acabará quando o ciborgue der a missão por cumprida.
O Exterminador do Futuro se tornou um marco da ficção científica. James Cameron o concebeu inicialmente como um filme de terror, com elementos do subgênero slasher – são geralmente protagonizados por assassinos psicopatas que matam em série. Ele tinha acabado de assinar seu primeiro filme como diretor, o fracassado Piranha 2: Assassinas Voadoras, substituindo outro diretor que abandonou o projeto por causa de conflitos criativos. Sua reputação, portanto, não era das melhores enquanto ele tentava viabilizar seu novo filme. Chegou a vender os direitos para um estúdio por apenas um dólar, em troca da garantia de que iria ser ele o diretor.
Na medida em que iniciou o processo de produção, percebeu que ao invés de criar um vilão fisicamente disforme e sem uma aparência memorável, precisaria incorporar mais elementos de tecnologia à história. Acabou tomando a sábia decisão de recrutar Arnold Schwarzenegger. O Exterminador do Futuro se mostrou um grande acerto. Partindo de um enredo criativo, Cameron criou personagens convincentes, estabeleceu uma estrutura narrativa sólida, deu o tom certo entre ação e suspense e impôs uma atmosfera de modernidade. Conseguiu sintonia com a mentalidade da época, que refletia as preocupações com a Guerra Fria e as ameaças nucleares.
O roteiro de James Cameron é de uma precisão exemplar. Ele estabelece as premissas da história logo no começo e jamais as perde de vista. As causas e as consequências das decisões tomadas pelos personagens são sempre verossímeis, mas estão o tempo todo subordinadas à ameaça maior que paira no futuro – e que se estenderá para além dos créditos finais! O que está em jogo é o embate maior entre o humano e a máquina.
O Exterminador do Futuro trouxe uma provocação para os amantes da ficção científica e criou momentos memoráveis para o cinema e para a cultura pop em escala global. Abriu as porteiras para uma profusão de sequências, mas também deu munição de sobra para uma categoria digna de pouco apreço: a dos imitadores.
Resenha crítica do filme O Exterminador do Futuro
Título original: The TerminatorAno de produção: 1984
Direção: James Cameron
Roteiro: James Cameron
Elenco: Arnold Schwarzenegger, Linda Hamilton, Michael Biehn, Earl Boen, Lance Henriksen, Paul Winfield, Bess Motta, Rick Rossovich, Bill Paxton, Brian Thompson, Dick Miller e Ed Dogans
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Titanic
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