O Hóspede Americano: a história real da Expedição Roosevelt-Rondon

Cena da minissérie O Hóspede Americano
Minissérie O Hóspede Americano: dirigida por Bruno Barreto

MUITO MAIS DO QUE UMA SIMPLES AVENTURA

O que me animou a assistir à minissérie O Hóspede Americano foi um único nome: Rondon. Desde garoto, quando topei com esse brasileiro intrépido nos livros de história, penso nele como o personagem ideal para um filme de aventura: um líder respeitado, conduzindo um batalhão de exploradores pela selva intocada, enfrentando perigos inimagináveis feito um Indiana Jones tupiniquim... Apertei o play sem pestanejar! Porém, logo no começo, vi surgir um outro nome conhecido: o do presidente Roosevelt. Mas espere! Não se trata daquele que liderou os americanos durante a Segunda Guerra Mundial, o Franklin Delano Roosevelt! Esse é outro, o Theodore! Precisei apertar o pause e consultar o buscador no celular, para descobrir que os dois eram primos distantes. O presidente que estava contracenando com o nosso marechal Rondon governou de 1901 a 1909 e ficou famoso por ser um naturalista e um líder republicano com viés progressista, num momento crucial para o desenvolvimento do capitalismo.
        Bem, por esta curta introdução o caro leitor já entendeu que O Hóspede Americano é uma minissérie com forte apelo histórico. Dividida em quatro episódios, narra acontecimentos reais, vividos por personagens importantes e cultuados em seus países. Tudo começa em dezembro de 1913, quando teve início a tal Expedição Científica Roosevelt-Rondon, que tinha como objetivo mapear o então Rio da Dúvida, cujas cabeceiras foram descobertas por Rondon em 1909. Ninguém sabia onde o tal rio desembocaria, nem quanto tempo levaria para percorrê-lo. O apelo à aventura foi irresistível para o ex-presidente americano, que amargava a derrota nas urnas quando disputava seu terceiro mandato.
        Na minissérie, Roosevelt (Aidan Quinn) chega ao Brasil patrocinado pelo Museu Americano de História Natural. Está disposto a dar uma camada de verniz científico ao seu espírito aventureiro e encontra no projeto do então coronel Rondon (Chico Díaz) uma grande oportunidade. Acompanhado pelo amigo naturalista Farrel Nash (David Herman), pelo Padre Zahm (Gene Jones) e por seu filho Kermit (Chris Mason), o ex-presidente se embrenha na selva brasileira e vive maus bocados. O perigos são muitos, chegam de surpresa e exigem doses imensas de coragem, disciplina e espírito de liderança.
        Dirigida por Bruno Barreto, a minissérie O Hóspede Americano tem forte sotaque brasileiro, mas o motor da história é essencialmente americano. A saga política de Theodore Roosevelt está em primeiro plano e vem contada em flashbacks, num quebra-cabeça minucioso. Ao longo dos quatro episódios, ficamos conhecendo um personagem complexo, que se expunha em contradições – ao mesmo tempo em que foi responsável pela criação dos principais parques nacionais americanos, como o Yellowstone e o Grand Canyon, adorava caçar em safaris na África, quando abatia centenas de animais. Era um conservador, mas tinha preocupações sociais. Era contra os monopólios, mas respeitava o livre mercado. De seu lado, o coronel Rondon também é um personagem denso. Intelectual preparado, é um visionário. O país que vislumbra é rico, industrializado e aferrado aos ideais positivistas de ordem e pregresso.
        Empolgado, Bruno Barreto embarcou de corpo e alma nessa história. Contratou o roteirista Matthew Chapman, que desenvolveu o roteiro do que seria um longa-metragem. Porém, por decisão dos executivos da HBO, O Hóspede Americano acabou tomando o formato de minissérie. Com personagens bem construídos, um elenco afinado, linhas de diálogo consistentes e cenas bem arquitetadas – ainda que sempre confinadas em ambientes limitados – é uma produção cuidadosa, que agradará os espectadores interessados em temas históricos.
        Gostei de conhecer mais de perto o presidente Theodore Roosevelt, esse icônico líder americano que criou fortes laços com o Brasil. No final da aventura ele ganhou um rio batizado com seu nome. Sem dúvida, uma grande homenagem, mas nada que se compare ao estado inteiro, batizado de Rondônia, que homenageia o nosso herói nacional! Aliás, continuo achando que o Marechal Rondon merece protagonizar muitos outros filmes e séries!

Resenha crítica da minissérie O Hóspede Americano

Ano de produção: 2021
Direção: Bruno Barreto
Roteiro: Matthew Chapman
Elenco: Aidan Quinn, Chico Díaz, Chris Mason, Dana Delany, Trevor Eve, Theodoro Cochrane, Gene Jones, Jeff Pope, Nick Westrate, Maya Kazan, Cláudio Jaborandy, Arilson Lucas, João Côrtes, Michel Gomes, Thomaz Reis, Fabio Souto, Arieta Corrêa e Luisa Rosa

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