Razão e Sensibilidade: filme encantador em todos os detalhes!

Cena do filme Razão e Sensibilidade
Razão e Sensibilidade: direção de Ang Lee

CINEMA DESLUMBRANTE

O nome da escritora britânica Jane Austen figura entre os grandes clássicos da literatura em seu pais. Nascida em 1775, numa família pertencente à nobreza, ela se dedicou a retratar com certa ironia a vida da burguesia e seu cotidiano. Seus romances são protagonizados por mulheres, sempre às voltas com desilusões amorosas e dedicadas prioritariamente a alcançar um bom casamento. Apesar do ímpeto romântico e da atmosfera de inocência que respiramos em seus enredos, sempre há espaço para a crítica social. A autora também escancara a condição de dependência das mulheres no começo do Século XIX, o que causa um inevitável ponto de contato com o leitor moderno: muitas das atitudes passivas assumidas por suas personagens não cabem nos dias de hoje. Alguns comportamentos, no entanto, parecem querer gritar que ainda há muito o que ser conquistado pelo ser feminino.
        O primeiro romance de Jane Austen, Razão e Sensibilidade, foi publicado em 1808. Outros títulos de sucesso se seguiram e renderam grandes adaptações para o cinema: Orgulho e Preconceito, Emma, Palácio das Ilusões, Persuasão, A Abadia de Northanger e, é claro, Razão e Sensibilidade, filme dirigido em 1995 por Ang Lee, que será o tema da crônica de hoje. Por que o escolhi? Por um motivo muito simples: assisti a esse filme há poucos dias e fiquei encantado. Como pude ignorá-lo por tantos anos? É uma vergonha para um cinéfilo calejado, mas busquei a redenção, tratando de conhecer os detalhes dessa obra.
        O filme focaliza a história de Elinor (Emma Thompson) e Marianne Dashwood (Kate Winslet), duas filhas do segundo casamento do Sr. Dashwood (Tom Wilkinson). Quando o pai morre, logo no começo da trama, passa todas as suas propriedades para John (James Fleet), seu filho do primeiro casamento. Com a cumplicidade da esposa, Fanny (Harriet Walter), o herdeiro não se incomoda em deixar a viúva e suas meias-irmãs – inclusive Margaret, a adorável irmãzinha mais nova – em uma situação vulnerável. As mulheres se vêm obrigadas a deixar a mansão luxuosa onde viviam e partir de mudança para uma casa mais simples e distante de Londres. Elinor, mais madura e racional, coloca sua vida em estado de espera, cultivando uma paixão à distância por Edward Ferrars (Hugh Grant), irmão de Fanny. Mariane, mais emotiva e passional, envolve-se com o expansivo John Willoughby (Greg Wise), mas trata de esquivar dos assédios do Coronel Brandon (Alan Rickman). A busca pela felicidade, que só será plena se for alcançada primeiro no plano amoroso, levará as duas irmãs a uma jornada de autoconhecimento e amadurecimento, enquanto tentam alcançar o equilíbrio entre o juízo e a emoção, entre a razão e a sensibilidade.
        A produtora Lindsay Doran, admiradora da obra de Jane Austen, decidida a realizar uma adaptação de Razão e Sensibilidade, procurou um roteirista que mantivesse forte conexão emocional com o romance. Encontrou Emma Thompson! Sim, a atriz consagrada que estrelou o filme, foi também a roteirista que lhe deu o formato narrativo adotado nas telas. Ela trabalhou durante cinco anos e produziu diversos tratamentos – o primeiro com mais de trezentas páginas. Emma Thompson foi uma escolha arriscada, pois jamais havia escrito qualquer roteiro. Mas sua primeira empreitada foi impressionante: lhe rendeu o Óscar de Melhor Roteiro Adaptado – que provavelmente está na mesma estante, ao lado do Óscar que ganhou como melhor atriz.
        Para dirigir mais uma adaptação de Jane Austen, entre tantas já celebrada pelos britânicos, os produtores escolheram a renovação: optaram pela visão poética de Ang Lee, o premiado diretor taiwanês-americano. Foi seu primeiro filme com elenco internacional, que acabou recebendo sete indicações para o Óscar. O diretor fez um trabalho tocante, que se reflete na fotografia assinada por Michael Coulter, nos cenários impecáveis, nos figurismos, na direção de arte, no ritmo preciso... Seus planos e enquadramentos são arquitetados para expressar simbolismos. As cenas ao ar livre esbanjam impetuosidade e... sensibilidade. As cenas interiores, sempre emolduradas por portas e janelas, comunicam... racionalidade. Sua câmera está sempre bem posicionada, mas não é nela que prestamos atenção. É o conjunto da obra que nos encanta.
        Faço outra vez a pergunta: por que raios não assisti a esse filme quando foi lançado? Bem... paciência. Sei que perdi a oportunidade de apreciá-lo numa sala de cinema, diante de uma telona. Mas pelo menos agora ele está disponível no serviço de streaming, onde poderei revisitá-lo sempre que desejar saciar minha sede de bom cinema.

Resenha crítica do filme Razão e Sensibilidade

Ano de produção: 1995
Direção: Ang Lee
Roteiro: Emma Thompson
Elenco: Emma Thompson, Kate Winslet, Alan Rickman, Imogen Stubbs, Hugh Grant, Greg Wise, Gemma Jones, Harriet Walter, James Fleet, Hugh Laurie, Imelda Staunton, Robert Hardy, Elizabeth Spriggs, Tom Wilkinson, Emilie François e Richard Lumsden

Comentários

  1. Gostei muito da sua resenha, também assisti esses dias pra fazer um trabalho da faculdade e me fiz esse mesmo questionamento, pq demorei muito a assistir esse filme! abraçõs!

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  2. ah, me chamo Joaquim Sotero

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    1. Obrigado pelo feedback, Joaquim. Perdemos a oportunidade no cinema, mas ainda bem que agora podemos rever esse filme, com qualidade digital!

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  3. Bah! Faço minhas tuas palavras, todo cinéfilo ressente, mas se perdoa de não ter assistido tal filme. Ainda bem que obras são eternas...

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    1. Sim!!! E ainda bem que o acesso a elas está cada vez mais fácil!

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