Coração Valente: um patriota clamando por liberdade
Coração Valente: direção de Mel Gibson
A DIFERENÇA ENTRE SER PATRIOTA E SER NACIONALISTA
Quando decide escavar a história, para desenterrar enredos com potencial de atrair público pagante, o cinema quase sempre se mete em imprecisões. Os realizadores que escolhem carregar nas tintas e abusar das licenças poéticas, o fazem em nome da preservação do fluxo dramático. Todo cinéfilo se torna caçador desses pequenos deslizes e gosta de examinar os enredos com atenção, para se certificar de que não está sendo enganado. O filme Coração Valente, dirigido em 1995 por Mel Gibson, é uma dessas produções grandiosas, que apresenta personagens e eventos pouco conhecidos – ao menos para nós, brasileiros – e tem potencial de nos deixar intrigados: será que o diretor não exagerou no romance e na narrativa heroica?Há, porém, um fato inquestionável: nesse segundo filme da carreira como diretor, Mel Gibson esbanjou ousadia e astúcia. Decidiu apostar todas as fichas rodando um épico espetacular, com milhares de figurantes e um enredo eivado de tragédias e batalhas sangrentas. Foi realizado à moda antiga, mas ganhou o tom moderno dos filmes de ação. Ficou com 3 horas de duração, mas ganhou também um total de cinco Óscares: melhor filme, melhor direção, melhor edição de som, melhor fotografia e melhor maquiagem. Coração Valente conta a história de William Wallace, um vulto da Escócia medieval, que entrou para a história por seus feitos heroicos durante as lutas contra o domínio inglês. Guerreiro cantado em versos, teve papel decisivo na formação da sua pátria e é apresentado no filme como líder... nacionalista. Talvez seja essa a primeira grande imprecisão do filme.
Para começo de conversa, quando Wallace aprontou das suas e se tornou herói no século XIV, a ideia de nacionalismo nem sequer existia. O conceito só tomou forma quinhentos anos depois, quando apareceu na literatura política e econômica para desenhar a doutrina que defende o desenvolvimento das nações, como unidades políticas independentes, formadas por povos que se unem ao redor de identidades étnicas, culturais e históricas. A noção de pertencimento a um grupo, no entanto, já existia anteriormente e deu origem à noção de patriotismo, que se tornou mais do que uma mera expressão do nacionalismo.
Tendemos a confundir os dois termos, já que as palavras nação e pátria são usadas como sinônimos, mas há uma diferença crucial: patriota é aquele que ama seu país, o defende e trabalha pelo seu progresso, porém, sem menosprezar o que vem de outros países. Quer ver a sua pátria integrada ao resto do mundo, num intercâmbio permanente de prosperidade. Já o nacionalista é aquele tentado a fechar seu país ao resto do mundo, condenando o povo à uma tacanhice econômica, tecnológica e cultural. Está aferrado à crença de que basta ter um Estado poderoso para trilhar caminhos progressistas. William Wallace, portanto, não era um nacionalista, mas um patriota apegado à noção de liberdade, que liderou os escoceses em sua luta pela independência. Fez isso com requintes de violência, como podemos constatar ao examinar a sinopse de Coração Valente:
O filme começa em 1280, quando o Rei Eduardo I (Patrick McGoohan) conquista a Escócia. Ainda criança, Wallace (James Robinson) testemunha a morte do pai e de muitos outros membros da nobreza, para então ser acolhido por seu tio Argyle (Brian Cox). O garoto cresce no exterior, onde conhece o mundo e recebe uma educação erudita. Quando volta à terra natal, Wallace (Mel Gibson) se apaixona pela bela Murron MacClannough (Catherine McCormack), com quem se casa secretamente, para burlar a bizarra lei que concede aos senhores feudais o direito de passar a noite de núpcias com a noiva. Tudo dá errado e Wallace vê sua amada ser brutalmente morta. O que se segue, então, é um dolorido processo de vingança, onde o inevitável banho de sangue enche a tela com requintes de realismo. Wallace transforma sua luta pessoal num clamor por liberdade e passa a liderar o exército escocês, para guerrear feroz pela independência. Nem tudo será coroado com vitórias. Ele terá que unir os diferentes clãs, se envolver em intrincadas articulações políticas e amargar a dor das traições.
Há outras imprecisões históricas nessa história medieval? Provavelmente. O roteirista Randall Wallace conta que tomou conhecimento dela numa viagem pela Escócia, quando buscava informações sobre seus antepassados. Deu de cara com uma estátua de Willian Wallace – apesar do mesmo sobrenome não encontrou parentesco – e descobriu sua importância histórica. Não fez pesquisas em profundidade, já que não havia fontes confiáveis, a não ser o poema The Wallace, escrito no século XIV por Blind Harry. Apenas ouviu as várias lendas ao redor do personagem e partiu delas para construir seu primeiro roteiro para o cinema – depois escreveria também os roteiros de Pearl Harbor e Fomos Heróis.
Mel Gibson ingressou no projeto trazendo sua vontade imensa de fazer cinema relevante. Ganhou o voto de confiança de Randall Wallace que, juntamente com os produtores, apostou na sua abordagem realista para as cenas épicas – e também na sua projeção como astro consagrado de Hollywood. O diretor não fez alterações no roteiro, mas abraçou sua estrutura simples e envolvente. Filmou em locações na Escócia e na Irlanda, usando reservistas do exército irlandês como extras.
O ponto forte dessa produção está na grandiosidade das suas sequências de batalha campal, mas aqueles que, como eu, gostam de boa música, certamente terão ouvidos para a envolvente trilha sonora composta por James Horner. O músico americano sabe como mesclar corais e instrumentos eletrônicos, para criar suas atmosferas sonoras a partir de elementos de música celta. Da próxima vez em que visitar o filme, aproveite para curtir essa outra face de Coração Valente.
Resenha crítica do filme Coração Valente
Título original: BraveheartTítulo em Portugal: Braveheart - O Desafio do Guerreiro
Ano de produção: 1995
Direção: Mel Gibson
Roteiro: Randall Wallace
Elenco: Mel Gibson, Patrick McGoohan, Catherine McCormack, Sophie Marceau, Angus Macfadyen, Brian Cox, Gerda Stevenson, Peter Hanly, Brendan Gleeson, David O'Hara, James Robinson, James Cosmo, Peter Hanly, Sean Lawlor e Gerard Mcsorley
Sinceramente não sei como esse filme conseguiu o óscar em algumas categorias
ResponderExcluirSimplesmente preconceituoso e o pior de tudo, falsea a história para adaptar ao gosto de público, e isto, comprova a falta de habilidade no roteiro, uma heresia histórica romanceada onde na realidade nada havia no contexto do assunto e nem a dictomia do bem e do mal, como o maniqueísmo simplório. Ressalto que a música se sobrepõe e pontos de sua trama são interessantes, mas o elenco é frouxo e ou mal dirigidos, talvez, seja porque diminui a importância e dimensão das personalidades exibidas, como exemplo : King Richard, Robert Bruce, princesa Isabela da França (esta última, que nunca teve contato com Wallace, pura ficção hermética de Gibson)
DE resto ritmo coerente, um subproduto pra agradar incautos. Creio que havia naquele momento em Hollywood, produções que dão ibope e ou novidade da hora (drama histórico voltando) , isto deve ter pesado.
HÁ com certeza liberdade poéticas, mas se deve ter responsabilidades com a história. Não é preciso retratar como um documentário, mas se deve adaptar um conceito cinematográfico, estilo e o enfoque na trama realmente acontecido como fatos. Muito protagonismo pavão e a perda da força do que poderia extrair dos personagens históricos. Banal
Primeiramente, é preciso reconhecer que esse filme ganhou 5 Óscares porque trata de um tema caro aos americanos e tem relevância em Hollywood: a luta pela liberdade. Buscar precisão histórica em Willian Wallace é inútil, pois o personagem está mais para uma lenda, que ganhou materialidade num poema do século XIV. É como exigir precisão na história de Robin Hood. Mel Gibson se valeu do seu imenso capital em popularidade e carisma para realizar um filme grandioso e o tornou um estrondoso sucesso. A trama é envolvente, o roteiro preciso e a mensagem empolgante. É uma ode à liberdade e aos valores mais caros para civilização ocidental. É entretenimento de qualidade.
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