Eram os Deuses Astronautas?: as provas de que já fomos visitados por alienígenas
Eram os Deuses Astronautas?: direção de Harald Reinl
UMA PORTA DE ENTRADA PARA OS... DOCUMENTÁRIOS!
Quando o filme Eram os Deuses Astronautas?, realizado em 1970 por Harald Reinl, foi lançado no Brasil, este cinéfilo não passava de um pirralho de 10 ou 11 anos. Fui com meu pai ao cinema e vivi uma experiência inteiramente nova: pela primeira vez assisti a um documentário! Nada de dramatizações em estúdio, de protagonistas heroicos para os quais torcer ou de enredos costurados com pontos de virada, pensados para surpreender no final. O que vi foram cenas reais, que irradiavam verdade, apresentadas para sustentar um ponto de vista. E que ponto de vista! Baseado no livro escrito em 1968 pelo suíço Erik von Däniken, o filme sugeria que todos os nossos ancestrais, desde as civilizações mais antigas, teriam sido incapazes de concretizar suas grandes conquistas e legados. Na verdade, seus feitos de engenharia teriam sido realizados com a ajuda – ou por autoria direta – de visitantes extraterrestres.Ah, mas é claro que enxerguei uma encantadora aura de ficção científica ao redor de tanta especulação. E ela mexeu com a minha imaginação! Depois de assistir ao filme, fui presentado com o livro e o devorei por dias. Na escola, discutia com os colegas sobre quais provas apresentadas pelo autor eram as mais convincentes e quais não passavam de especulações fantasiosas. Em família, tentava vencer a resistência dos mais velhos, apegados ao fervor religioso. Aos poucos, percebi a ideia de von Däniken ganhando corpo, até se tornar um dos maiores fenômenos da cultura pop na minha geração. Livros, revistas, filmes, reportagens na TV, entrevistas... Passados mais de 50 anos, o tema dos astronautas ancestrais jamais saiu de pauta.
A maioria das proposições feitas por Erik von Däniken no seu livro Eram os Deuses Astronautas? jamais se sustentou cientificamente, mas sua habilidade em provocar com perguntas pertinentes foi suficiente para inspirar outros autores. Eles ampliaram as possibilidades do tema e o exploraram ao máximo para criar um lucrativo filão midiático. Aliás, as jogadas de marketing sempre estiveram em cena, desde que o filme foi lançado. Trata-se de uma produção alemã, cujo sugestivo título original é Erinnerungen an die Zukunft, algo como “Lembranças do Futuro”. Indicado ao Óscar, tornou-se uma das maiores bilheterias da época e em 1973 foi editado para a TV americana com o título In Search of Ancient Astronauts, com dublagem em inglês e narração de Rod Serling, o criador e apresentador da famosa série Além da Imaginação. Foi o que catapultou von Däniken para o time dos autores de best-sellers.
Eram os Deuses Astronautas?, como foi batizado no Brasil, abre com uma curiosa reportagem sobre os nativos de uma ilhota no Pacífico Sul, que construíram ídolos em formato de avião, para reverenciar os pilotos americanos, de cuja existência só tomaram conhecimento durante a Segunda Guerra Mundial. Tornaram-se seus deuses alados! Tal fato é tomado como analogia para explicar o que suspostamente ocorreu com diferentes religiões na antiguidade. Na sequência, somos apresentados a uma variedade de textos, gravuras, pinturas, esculturas, inscrições rupestres, obras de arte e artefatos religiosos, todos examinados com pompa arqueológica, para dar sustentação às teorias de von Däniken. Somos levados às pirâmides do Egito, às planícies de Nazca riscadas por misteriosas linhas, às alturas de Machu Picchu, às curiosas estátuas da Ilha de Páscoa, aos círculos concêntricos de Stonehange... De trechos da bíblia a exemplares de arte pré-colombiana, nada escapa de ser considerado uma prova da visita de astronautas interplanetários, que a exemplo dos pilotos americanos adorados pelos nativos incivilizados do começo do filme, foram confundidos por nossos antepassados com deuses.
À primeira vista, Eram os Deuses Astronautas? é uma expressão da grosseria típica de eurocêntricos arrogantes e preconceituosos, que julgam incompetentes os arquitetos, artistas e engenheiros dos povos antigos de outros continentes. Como teriam capacidade, criatividade e inventividade para realizar tais maravilhas? Só podem ter contado com ajuda! Curiosamente, o filme nunca se atreve a fazer afirmações categóricas acerca da presença de alienígenas no nosso passado, apenas sugere tal possibilidade e alimenta a curiosidade do espectador, ao fazer perguntas intrigantes. Em termos de cinema, no entanto, o filme é simplório, especialmente quando revisitado pelo espectador mais calejado com a linguagem dos documentários, que experimentou notável evolução no último meio século.
O diretor austríaco Harald Reinl não se preocupou em inovar. Preferiu a comodidade de se atracar ao material disponível nos bancos de imagem, como foguetes sendo lançados, aviões, bombas atônicas, tomadas aéreas de monumentos... O homem havia acabado de pôr os pés na Lua, o que gerou uma vasta iconografia, incorporada de imediato ao imaginário do público. Os realizadores não fizeram mais do que misturá-la com referências arqueológicas, para adicionar um certo verniz de seriedade. Porém, em 1970, ao martelar o conceito poderoso criado por um simples funcionário de um hotel na Suíça, o filme conseguiu mexer com a imaginação do planeta inteiro.
Eram os Deuses Astronautas? foi o primeiro documentário ao qual assisti. Por meio dele descobri que a linguagem audiovisual também pode seguir um enunciado diferente da ficção, mais indexado à realidade. Que o cinema pode lançar mão de registros factuais para, a partir deles, estruturar um discurso narrativo didático, com o objetivo de informar – e formar! Nos dias de hoje, os documentários ganharam em riqueza narrativa. Podem conter encenações, editadas com o material real, para envolver o espectador e conduzir suas emoções. Pode trazer a influência do jornalismo, onde o documentarista investe na filmagem de momentos verdadeiros, para então construir sua narrativa durante o processo de edição. E também pode apresentar entrevistas ou intervenções de figuras de autoridade, captadas presencialmente ou online, graças às facilidades e à extraordinária agilidade oferecidas pelas tecnologias digitais.
Há um enorme abismo estético entre os documentários atuais e aquele ao qual assisti com meu pai, naquela sala de cinema do comecinho dos anos 1970. Ainda assim, a pergunta que Erik von Däniken me fez naquele dia continua intrigante e pertinente: Eram os Deuses Astronautas? Muita gente aínda trabalha – e ganha muito dinheiro – para encontrar a resposta.
Resenha crítica do filme Eram os Deuses Astronautas?
Título original: Erinnerungen an die ZukunftAno de produção: 1970
Direção: Harald Reinl
Roteiro: Harald Reinl e Wilhelm Roggersdorf
Elenco: Erich von Daniken
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