O Melhor Lance: romance e suspense no sofisticado mundo da arte

Cena do filme O Melhor Lance
O Melhor Lance: direção de Giuseppe Tornatore

NO AMOR E NA ARTE, O FALSO E O AUTÊNTICO SE CONFUNDEM

Giuseppe Tornatore se tornou um dos nomes mais aclamados do cinema italiano. Seu Cinema Paradiso, filmado como uma sincera homenagem à sétima arte, arregimentou fãs incondicionais no mundo todo e o consagrou como cineasta sensível e habilidoso em lidar com as forças emocionais dos seus personagens. Sua parceria com o compositor Ennio Morricone, que rendeu nove longas e vários comerciais, ajudou a consolidar seu estilo envolvente e fortemente agarrado às tradições do audiovisual italiano. Assim, quando realizou O Melhor Lance, em 2013, o fez cercado de expectativas, tanto por parte da crítica como dos cinéfilos: seria seu primeiro filme falado em inglês! Mais que isso, seria seu primeiro filme digital! Como Tornatore se sairia longe da prosódia que dá sabor ao idioma italiano e sem a sensação tátil que nos chega vibrante por meio do celuloide? Muito bem, devo dizer!
        O segredo de Giuseppe Tornatore é partir de uma boa história e essa que ele nos conta em O Melhor Lance é rica, envolvente e surpreendente. Nos apresenta ao fascinante mundo do mercado de artes da Europa, onde as cifras são milionárias e as peças negociadas, além de deslumbrantes, vêm empacotadas em séculos de tradição. Seus personagens circulam em ambientes refinados e fazem questão de manter o distanciamento com o mundo dos reles mortais. A narrativa se desenrola orgânica e fluente. Primeiro nos põe empáticos em relação ao protagonista, depois atiça nossa curiosidade e provoca suspense na dose certa. Não há crimes, assassinatos, fugas ou perseguições, mas acompanhamos cada cena como se estivéssemos diante de um thriller, onde a iminência do final anuncia a resolução de um grande mistério.
        O filme nos conta a história de Virgil Oldman (Geoffrey Rush), proprietário de uma prestigiada casa de leilões, que domina como poucos o mundo das artes. Excêntrico, é um homem maduro e solitário, apegado a luxos e refinamentos, mas incapaz de se relacionar com as mulheres, ou mesmo encará-las nos olhos – só faz isso quando admira as centenas de valiosos retratos que coleciona secretamente, para compor um espetacular acervo em sua mansão. Com a ajuda do amigo e cúmplice Billy Whistler (Donald Sutherland), Virgil só pensa em fazer bons negócios, mas seu mundo vira de cabeça para baixo quando é contratado pela misteriosa Claire Ibbetson (Sylvia Hoeks), uma jovem e rica herdeira, que deseja leiloar as antiguidades e as obras de arte da família. O problema é que Claire sofre de agorafobia, uma doença psicológica que a impede de circular por lugares públicos ou ambientes descobertos. Confinada em seu quarto, num casarão velho e empoeirado, ela tenta conquistar a confiança do arredio Virgil. E faz mais que isso: conquista seu coração! O leiloeiro, que encontrou alguém com as mesmas dificuldades de relacionamento que ele, descobre-se apaixonado o suficiente para buscar a ajuda do jovem relojoeiro Robert (Jim Sturgess). Enquanto tenta remontar um valioso artefato mecânico com as peças que Virgil lhe traz aos poucos da casa de Claire, Robert lhe ensina as técnicas básicas de sedução. O romance, que nasce aos poucos, cobra renúncias e sacrifícios dos amantes, mas também anuncia desafios que podem se tornar insuperáveis e causar uma reviravolta no final.
        O roteiro escrito por Giuseppe Tornatore segue uma estrutura narrativa simples, em três atos, para nos contar uma história complexa e repleta de sutilezas. Narra uma história de amor, mas se concentra em acompanhar o notável arco de transformação do protagonista. O que vemos é uma reviravolta na maneira como ele se comporta em relação ao mundo que o cerca. O diretor é hábil em construir uma forte relação de empatia entre ele e o espectador. Também consegue prolongar ao máximo a aura de mistério em torno da jovem Claire. Só a conhecemos na metade do filme, mas quando isso acontece, já estamos envolvidos por sua história, exatamente como o agora vulnerável Virgil Oldman. E como ele, também não estamos preparados para o ponto de virada que chega para surpreender no final.
        Tornatore conta que criou essa história surpreendente quando juntou duas histórias diferentes, que vinha costurando por décadas. Uma era sobre um sujeito que sofria de agorafobia. Outra era sobre um leiloeiro, cuja habilidade era a de estabelecer o valor das coisas. Quando, por pura diversão, decidiu combinar as duas ideias, viu nascer um argumento sólido, que conseguiu virar filme. Concentrou-se no personagem do leiloeiro, que por exigência da profissão é especialista em distinguir o autêntico do falso, mas, como é incapaz de amar, não leva esta habilidade para a vida.
        O diretor escreveu o papel de Virgil Oldman tendo em mente o ator Geoffrey Rush, que o aceitou assim que leu o roteiro. Decisão sábia, diga-se de passagem. Sua performance em O Melhor Lance é irretocável. Assim como é irretocável o design de produção e a direção de arte, que nos entregaram um filme belíssimo e visualmente impecável. Com doses exatas de romance, humor e suspense, tem clima de comédia romântica e atmosfera de thriller. Fala sobre o mundo da arte e visita personagens multifacetados, que lidam com temas diversos, como orgulho, medo, ciúme, luxúria... E o final surpreendente é a cereja do bolo! Vale a pena conferir.

Resenha crítica do filme O Melhor Lance

Título original: La Migliore Offerta
Ano de produção: 2013
Direção: Giuseppe Tornatore
Roteiro: Giuseppe Tornatore
Elenco: Geoffrey Rush, Jim Sturgess, Sylvia Hoeks, Donald Sutherland, Philip Jackson, Katie McGovern, Dermot Crowley, Liya Kebede, Maximilian Dirr, Laurence Belgrave, Sean Buchanan, Kiruna Stamell, Anton Alexander, John Benfield, Miles Richardson, James Patrick Conway e Brigitte Christensen

Comentários

  1. Em que plataforma está?

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  2. Pelo que me lembro, assisti a esse filme na HBO. Ainda pode ser que esteja na grade de programação do canal.

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