Mente Criminosa: pacote completo com ação, ficção científica, espionagem e suspense

Cena do filme Mente Criminosa
Mente Criminosa: direção de Ariel Vromen

ROTEIRO BEM COSTURADO E UM ELENCO CARISMÁTICO

Com perdão do pleonasmo, gosto de definir os enredos de filmes de ação como peças cinematográficas por excelência. Quero com isso dizer que, em geral, não são adaptações de romances, história em quadrinhos ou videogames. São criados para as telas e formatados a partir do uso otimizado da linguagem audiovisual. Normalmente, o gênero não abre espaço para investigações aprofundadas sobre o mundo interno dos personagens. O que interessa são as decisões que eles tomam, quase sempre sob pressão de forças externas urgentes. Filmes de ação não demandam longas cenas expositivas, nem subtramas costuradas com apuro. Basta a boa e velha narrativa linear e a escolha dos melhores pontos de vista para expor a ação – normalmente o assumido pelo protagonista heroico ou pelo antagonista abjeto. Mente Criminosa, dirigido em 2016 pelo israelense Ariel Vromen, é um filme de ação, mas recebeu alguns “upgrades” extraídos da ficção científica e do suspense. Só isso já bastaria para posicioná-lo acima da média, mas se acrescentarmos os pontos marcados pelo ótimo elenco que conseguiu reunir, o que temos é entretenimento em estado puro!
        Kevin Costner, Gal Gadot, Tommy Lee Jones, Gary Oldman e Ryan Reynolds são os nomes que os cinéfilos primeiro observam. Os astros fazem por merecer e espalham carisma por todas as cenas. Porém, os nomes que desejo ressaltar aqui são os de Douglas Cook e David Weisberg, os roteiristas que apareceram com a ótima ideia para o enredo e costuraram um roteiro preciso como um relógio atômico. A dupla já assinou outros thrillers de sucesso, como A Rocha e Risco Duplo e conceberam Mente Criminosa em 2008. Desenvolveram vários tratamentos ao longo de oito anos, até que o filme foi viabilizado. Vamos examinar a sinopse:
        O filme conta a história de Jerico Stewart (Kevin Costner), um criminoso condenado que sofre de graves problemas cerebrais. Danos em seu lobo frontal, causados por abusos quando era criança, o transformaram num sociopata irrecuperável, já que não consegue guardar memórias afetivas nem reconhecer emoções. Ele é levado pelo Dr. Franks (Tommy Lee Jones) a participar de um experimento bizarro: terá as memórias de Bill Pope (Ryan Reynolds), um agente da CIA morto por terroristas, implantadas em seu cérebro vazio. O objetivo é recuperar informações que possam ajudar Quaker Wells (Gary Oldman) e sua equipe de agentes secretos a impedir que os terroristas se apoderem dos códigos de lançamento de armas nucleares e causem danos apocalípticos. O problema é que Jerico não tem limites morais ou éticos e não está disposto a colaborar. Além disso, as memórias mais vivas de Bill Pope são as que guardou de sua mulher, Jill (Gal Gadot) e sua filhinha Emma (Lara Decaro). Agora o criminoso terá que aprender a lidar com os novos sentimentos que fervilham na sua mente – amor, respeito, medo, ansiedade, raiva, remorso – enquanto tenta se livrar da CIA e dos terroristas ávidos em se apoderar da sua mente.
        Douglas Cook e David Weisberg começaram a escrever o roteiro de Mente Criminosa quando estavam fascinados com as ideias de Ray Kurzweil, o futurólogo e inventor americano que ampliou a discussão sobre temas como inteligência artificial, transumanismo e o futuro da tecnologia, em livros como The Age of Spiritual Machines e How to Create a Mind. Ele preconiza que em breve será possível mapear as conexões neurais do cérebro e reproduzi-las em meios digitais. O objetivo não é outro senão vencer a morte, para preservar as memórias, emoções e experiências que nos definem e que ficam registradas em nossas massas cinzentas.
        Weisberg juntou tais ideias visionárias com um fato bizarro que aconteceu com seu pai. Aos 18 anos, ele teve sua vida profundamente alterada ao sofrer uma queda e ferir o lobo frontal. Isso causou uma grave síndrome, que provocou alterações de personalidade, prejudicou seu comportamento social e causou distúrbios cognitivos. O roteirista pesquisou o tema a fundo e imaginou que tais consequências poderiam ser ainda mais graves se acontecessem com uma criança, cujo cérebro ainda está em formação. Seu lobo frontal serviria como um disco de memória vazio, que poderia receber os dados neurais de outra pessoa. Pronto! Surgiu a ideia para criar o protagonista de Mente Criminosa.
        Os roteiristas foram hábeis em inventar uma história verossímil. Apresentam Jerico como um monstro violento e inconsequente, sem alcance para entender suas próprias ações. O espectador logo percebe que será impossível torcer por ele, o que causa um certo desconforto. Então, o vemos passar por um incrível processo de transformação, ao assumir as memórias e os sentimentos de um homem bom. Acompanhamos vislumbres do seu mundo interno e passamos a compreendê-lo, mas sabemos que não podemos esperar por aprofundamentos psicológicos, afinal, estamos em um filme de ação. O que manda é a pressa desenfreada das perseguições, tiros, socos e pontapés.
        A direção de Ariel Vromen manteve a agilidade necessária para sustentar a ação que se espera de um filme do gênero, mas ele também mostrou sensibilidade ao aproveitar as doses certas de exposição e destacar as reações psicológicas dos demais personagens. Enfim, soube manter o espectador sintonizado com o arco do protagonista. Forjado nos thrillers psicológicos, como Homem de Gelo, Vromen conseguiu deixar a ficção científica desfocada e nos conta uma história que, eventualmente, já acontece em nossos dias acelerados pela tecnologia digital.
        Mente Criminosa é um filme ágil e envolvente, que instiga com possibilidades ainda pouco prováveis, mas propõe dilemas éticos e morais que provavelmente vamos discutir muito em breve. Por se tratar de um filme de ação, tal conteúdo é uma grande surpresa.
        Ah! Em tempo, o filme traz outra surpresa: a jovem e bela atriz Gal Gadot, uma desconhecida que integrou o elenco. Israelense e amiga do diretor, ela aceitou o convite para fazer o teste e conseguiu o papel. Duas semanas depois, conseguiu também a oportunidade para encarnar a Mulher Maravilha. Mas isso já é outra história!

Resenha crítica do filme Mente Criminosa

Título original: Criminal
Título em Portugal: Criminoso
Ano de produção: 2016
Direção: Ariel Vromen
Roteiro: Douglas Cook e David Weisberg
Elenco: Kevin Costner, Gal Gadot, Tommy Lee Jones, Gary Oldman, Alice Eve, Michael Pitt, Jordi Mollà, Scott Adkins, Ryan Reynolds, Colin Salmon, Robert Davi, Richard Reid, Tommy Hatto e Natalie Burn

Comentários

Confira também:

Menina de Ouro: a história de Maggie Fitzgerald é real?

Tempestade Infinita: drama real de resiliência e superação

Siga a Crônica de Cinema