Conta Comigo: um dos melhores dramas sobre amadurecimento
Conta Migo: direção de Rob Reiner
RESULTADO DE ÓTIMAS ESCOLHAS NARRATIVAS
O nome Stephen King está fortemente ligado aos gêneros terror, suspense, fantasia e ficção científica. Hábil em causar arrepios nos leitores, o escritor vendeu mais 400 milhões de livros mundo afora. Arregimentou uma legião de fãs engajados. Mas ao entrarmos no campo do cinema, há outras de suas facetas que nos saltam aos olhos. Enquanto algumas adaptações de seus romances são para provocar medo, como em O Iluminado, Carrie, a Estranha e It – A Coisa, outras exploram o talento do autor como contador de histórias sensíveis e edificantes. Me refiro a títulos como À Espera de Um Milagre, Um Sonho de Liberdade e Conta Comigo. Este último, dirigido em 1986 por Rob Reiner é o filme que mais destoa no universo de Stephen King – curiosamente, é aquele que o autor considera aquele que foi melhor adaptado!Esse filme denso e sensível foi baseado em um pequeno romance publicado em 1982, intitulado O Corpo. Parte de uma premissa que é a cara de Stephen King: quatro garotos de uma minúscula cidade do interior partem em uma jornada irresponsável, com a ideia de encontrar o corpo de um garoto desaparecido, que ouviram dizer que foi atropelado por um trem. Querem aparecer na televisão, ficar famosos, ser reverenciados como heróis... A fagulha mórbida, que detona a história, está posta no título do romance e foi justamente esse detalhe que me deixou intrigado:
– Espere aí! Como foi que o filme recebeu o título de Conta Comigo?
Para encontrar a resposta, precisei fuçar as histórias de bastidores dessa produção repleta de curiosidades. A adaptação foi escrita pela dupla de roteiristas Bruce A. Evans e Raynold Gideon e circulou por todos os estúdios de Hollywood, até ser viabilizada, mas com um baixo orçamento. O diretor inicialmente destacado foi Adrien Lyne, que largou o projeto para rodar Nove e Meia Semanas de Amor. Rob Reiner assumiu as rédeas e percebeu que, para funcionar, o filme teria que sofrer algumas intervenções cirúrgicas. Tomou decisões narrativas importantes, mas conseguiu se manter fiel ao texto original.
Conta Comigo narra a história do escritor Gordie Lachance (Richard Dreyfuss). Depois de ler no jornal a notícia de um assassinato durante uma briga de bar, ele se lembra de um episódio que viveu aos 12 anos. Então, passamos a acompanhar em flashback como ele (Wil Wheaton) e seus amigos Chris Chambers (River Phoenix), Teddy Duchamp (Corey Feldman) e Vern Tessio (Jerry O'Connell) passam entediados as férias do verão de 1959 na modorrenta cidadezinha de Castle Rock, no Oregon. Até que tomam conhecimento de onde está localizado o corpo do tal garoto desaparecido. Para eles é fácil mentir. Dizem que se reuniriam à noite para acampar no quintal de um amigo – os quatro vêm de famílias desestruturadas e vivem às turras com os pais. Em segredo, partem para uma longa caminhada pela paisagem rural, onde terão que passar a noite ao relento. Acontece que uma gangue de garotos mais velhos, liderados pelo delinquente Ace Merrill (Kiefer Sutherland), têm a mesma ideia estapafúrdia de aparecer na TV como os heróis que encontraram o corpo do tal garoto atropelado. Em meio a tanta infantilidade e inconsequência, é claro que essa aventura tem tudo para terminar com um final violento.
O que acompanhamos em Conta Comigo é uma história de amadurecimento, tratada com sensibilidade e talento por Rob Reiner. O diretor soube compor um retrato autêntico e universal da infância, no ponto exato em que ela começa a perder a disputa para a vida adulta, ao se confrontar com o imperativo da mortalidade. Filmou um drama, mas o temperou com passagens de leveza e humor envolventes. Abriu espaço para mostrar camadas mais profundas dos seus personagens, ao mesmo tempo em que revelou uma visão aguçada de como deve ser uma adaptação para o cinema. O roteiro que recebeu trazia bons diálogos e um encadeamento de cenas bem construído, mas faltava foco!
A primeira decisão de Reiner foi direcionar o foco do roteiro para o personagem Gordie Lachance, um alter ego do próprio Stephen King quando garoto. Ele sofre com a recente morte do irmão, Denny (John Cusack), e amarga o desprezo do pai, que chora a perda do filho preferido. Seu desejo de encontrar o corpo do garoto atropelado, portanto, não decorre de impulsos mórbidos, mas da necessidade de viver o luto que o está devastando. Os dramas dos demais garotos passam a orbitar ao redor do arco percorrido por Gordie.
Em decorrência dessa decisão, o diretor precisou estabelecer uma nova linha narrativa, que aumentou a profundidade dramática do filme: incluiu o personagem Gordie Lachance como adulto e o colocou como narrador da história. Para desempenhar o papel, depois de outra busca exaustiva, teve a grande ideia de convocar o ator Richard Dreyfuss, que trouxe uma voz conhecida e envolvente, para acrescentar uma tonalidade menos mórbida e mais emotiva pára o filme. No final, com todas estas intervenções, o roteiro de Conta Comigo foi indicado ao Oscar de melhor roteiro adaptado.
A escolha dos atores foi outra decisão acertada de Reiner. Depois de uma busca exaustiva e meticulosa, reuniu um elenco talentoso, que acrescentou uma aura de autenticidade ao filme. Sob sua direção, os garotos entregaram atuações vigorosas, o que ajudou a decolar suas carreiras no cinema e na TV. É claro que o destaque ficou mesmo com River Phoenix, cuja morte prematura aos 23 anos por envolvimento com drogas encerrou uma promessa de estrelato que estarreceu Hollywood.
Nas mãos de Rob Reiner, a história de Stephen King ganhou em densidade e se tornou um clássico do gênero. E seguindo o título do romance que lhe deu origem, o filme também era para se chamar O Corpo. Mas então, durante as filmagens, o diretor se deparou nos bastidores com o ator Kiefer Sutherland ensinando River Phoenix a tocar no violão a canção Stand by Me (Conta Comigo, em português), composta em 1961 por Ben E. King, Jerry Leiber e Mike Stoller. A canção entrou na trilha sonora do filme e depois foi usada para promovê-lo. O novo título fez evaporar a atmosfera mórbida e ressaltou o envolvimento emocional e a trajetória de amadurecimento dos personagens. Outra decisão acertada de Rob Reiner, que demostrou ter também um ótimo faro para as questões comerciais do cinema.
Ano de produção: 1986
Direção: Rob Reiner
Roteiro: Bruce A. Evans e Raynold Gideon
Elenco: Wil Wheaton, Richard Dreyfuss, River Phoenix, Corey Feldman, Jerry O'Connell, Kiefer Sutherland, Casey Siemaszko, John Cusack, Marshall Bell, Frances Lee McCain, Gary Riley, Bradley Gregg, Jason Oliver Lipsett, Bruce Kirby, William Bronder e Scott Beach
A primeira decisão de Reiner foi direcionar o foco do roteiro para o personagem Gordie Lachance, um alter ego do próprio Stephen King quando garoto. Ele sofre com a recente morte do irmão, Denny (John Cusack), e amarga o desprezo do pai, que chora a perda do filho preferido. Seu desejo de encontrar o corpo do garoto atropelado, portanto, não decorre de impulsos mórbidos, mas da necessidade de viver o luto que o está devastando. Os dramas dos demais garotos passam a orbitar ao redor do arco percorrido por Gordie.
Em decorrência dessa decisão, o diretor precisou estabelecer uma nova linha narrativa, que aumentou a profundidade dramática do filme: incluiu o personagem Gordie Lachance como adulto e o colocou como narrador da história. Para desempenhar o papel, depois de outra busca exaustiva, teve a grande ideia de convocar o ator Richard Dreyfuss, que trouxe uma voz conhecida e envolvente, para acrescentar uma tonalidade menos mórbida e mais emotiva pára o filme. No final, com todas estas intervenções, o roteiro de Conta Comigo foi indicado ao Oscar de melhor roteiro adaptado.
A escolha dos atores foi outra decisão acertada de Reiner. Depois de uma busca exaustiva e meticulosa, reuniu um elenco talentoso, que acrescentou uma aura de autenticidade ao filme. Sob sua direção, os garotos entregaram atuações vigorosas, o que ajudou a decolar suas carreiras no cinema e na TV. É claro que o destaque ficou mesmo com River Phoenix, cuja morte prematura aos 23 anos por envolvimento com drogas encerrou uma promessa de estrelato que estarreceu Hollywood.
Nas mãos de Rob Reiner, a história de Stephen King ganhou em densidade e se tornou um clássico do gênero. E seguindo o título do romance que lhe deu origem, o filme também era para se chamar O Corpo. Mas então, durante as filmagens, o diretor se deparou nos bastidores com o ator Kiefer Sutherland ensinando River Phoenix a tocar no violão a canção Stand by Me (Conta Comigo, em português), composta em 1961 por Ben E. King, Jerry Leiber e Mike Stoller. A canção entrou na trilha sonora do filme e depois foi usada para promovê-lo. O novo título fez evaporar a atmosfera mórbida e ressaltou o envolvimento emocional e a trajetória de amadurecimento dos personagens. Outra decisão acertada de Rob Reiner, que demostrou ter também um ótimo faro para as questões comerciais do cinema.
Resenha crítica do filme Conta Comigo
Título original: Stand by MeAno de produção: 1986
Direção: Rob Reiner
Roteiro: Bruce A. Evans e Raynold Gideon
Elenco: Wil Wheaton, Richard Dreyfuss, River Phoenix, Corey Feldman, Jerry O'Connell, Kiefer Sutherland, Casey Siemaszko, John Cusack, Marshall Bell, Frances Lee McCain, Gary Riley, Bradley Gregg, Jason Oliver Lipsett, Bruce Kirby, William Bronder e Scott Beach
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