Destemida: com a família dando apoio, sobra determinação!
Destemida: direção de Sarah Spillane
UMA HISTÓRIA INSPIRADORA, QUE NOS SERVE DE MODELO
Colocar o filme Destemida, dirigido em 2022 pela australiana Sarah Spillane, lado a lado com o agora clássico Eu, Christiane F. - 13 Anos, Drogada e Prostituída, dirigido em 1981 pelo alemão Ulrich Edel, pode parecer uma aberração. Mas é justamente o que faço nesta sequência de crônicas, porque enxerguei entre os dois filmes uma forte conexão: a família. No primeiro, ela se impõe pela presença. No segundo, pela ausência! Ambos são protagonizados por meninas, personagens reais que alcançaram, cada uma ao seu modo, alguma projeção mundial. O primeiro filme é edificante e inspirador. O segundo é didático e nos serve de alerta.Quarenta anos depois que a triste história de Christiane F. chocou o mundo, podemos assistir a um filme que segue na direção oposta. Destemida nos conta a jornada de Jessica Watson (Teagan Croft), uma australiana de apenas 16 anos que, em 2009, tornou-se a pessoa mais jovem a circum-navegar o planeta sozinha, a bordo de um veleiro. Cercada de conforto e segurança financeira – depois de aprender a contornar a dislexia – ela passou 210 dias em isolamento. O imenso apoio que recebeu veio da família, composta pelo pai, Roger (Josh Lawson), pela mãe, Julie (Anna Paquin) e pelos irmãos, Tom (Stacy Clausen), Emily (Bridget Webb) e Hannah (Vivien Turner).
Seu treinador, o marujo atormentado Ben Bryant (Cliff Curtis), ensinou tudo o que ela precisa saber, desde quando a danada, aos noves anos, pôs na cabeça que se sairia vitoriosa. Os preparativos são acompanhados obsessivamente pela imprensa, que trata Jessica como a grande celebridade nacional que se tornou. Há o receio de que ela fracasse diante dos perigos. E eles surgem em série, na medida em que acompanhamos sua jornada. Ela passa por tempestades, calmarias e momentos que exigem muito mais do que coragem e preparo técnico. Cobram equilíbrio emocional!
A missão de Jessica Watson consiste em partir de Sidney, navegar por todo o globo sem ajuda e sem atracar em porto algum e retornar depois de cruzar o equador e todos os meridianos. Seu veleiro, o Pink Lady, está equipado com todas as facilidades tecnológicas. Um telefone via satélite a coloca em permanente contato com a família, que acompanha tudo com apreensão. E quem também bisbilhota tudo, em tempo real, é o resto do mundo! A velejadora é uma celebridade na internet e sua jornada inspira pessoas de todas as idades ligadas aos esportes náuticos.
Metida em um campo dominado basicamente por homens adultos, Jessica Watson estava acostumada aos desestímulos e ao assédio dos que insistiam em desmotivá-la. Contra todas as probabilidades, ela conseguiu o que parecia impossível, mas precisou trabalhar duro. Vitoriosa, recebeu a Medalha da Ordem da Austrália e foi nomeada Jovem do Ano de 2011. Escreveu dois livros de sucesso e serviu de modelo para jovens do mundo todo.
O empresário de Jessica, Andrew Fraser, envolveu-se na produção do filme Destemida, realizado como uma adaptação para as telas do livro True Spirit, escrito pela velejadora. O primeiro tratamento do roteiro coube à escritora australiana Cathy Randall. Mais tarde, Sarah Spillane assumiu a direção do filme e o tomou como base para escrever o roteiro final, em colaboração com Rebecca Banner. A diretora não estava disposta a narrar uma mera conquista esportiva, queria descrever a jornada emocional de Jessica e investigar como a busca pelo seu sonho afetou sua personalidade. Para tanto, tratou de trazer a família Watson para o primeiro plano. Dessa forma ela conseguiu mostrar todos os riscos emocionais envolvidos – para a velejadora, trancafiada com a solidão durante sete meses e para seus pais e irmãos, aflitos e atormentados num angustiante estado de espera.
Sarah Spillane é diretora, roteirista, produtora e atriz, com vários curtas no currículo e passagens pela TV australiana. Sua experiência na frente das câmeras ajudou a extrair do elenco uma performance consistente. Seu filme segue num ritmo envolvente e sempre solar, com a nítida intenção de estabelecer uma mensagem inspiradora. E, curiosamente, ela faz isso quando inclui na trilha sonora a canção Starman, de autoria de... David Bowie! É claro que a presença do astro também neste filme é apenas coincidência. Spillane tenta mostrar ao espectador que é possível realizar seus sonhos. Os obstáculos podem ser superados, desde que o sonhador esteja aberto ao aprendizado, disposto a fazer sacrifícios e se ponha preparado, técnica e emocionalmente.
Sarah Spillane é diretora, roteirista, produtora e atriz, com vários curtas no currículo e passagens pela TV australiana. Sua experiência na frente das câmeras ajudou a extrair do elenco uma performance consistente. Seu filme segue num ritmo envolvente e sempre solar, com a nítida intenção de estabelecer uma mensagem inspiradora. E, curiosamente, ela faz isso quando inclui na trilha sonora a canção Starman, de autoria de... David Bowie! É claro que a presença do astro também neste filme é apenas coincidência. Spillane tenta mostrar ao espectador que é possível realizar seus sonhos. Os obstáculos podem ser superados, desde que o sonhador esteja aberto ao aprendizado, disposto a fazer sacrifícios e se ponha preparado, técnica e emocionalmente.
Bem, caro leitor, acabei de resenhar um típico filme apropriado para a sessão da tarde. Como posso compará-lo com um filme grave e repleto de cenas inadequadas para menores? Simples: comparo os filmes, nem sequer o caráter das duas protagonistas. Não investigo as técnicas narrativas nem o uso da linguagem cinematográfica. Simplesmente enxergo na estrutura familiar um pano de fundo sobre o qual ambos os filmes são projetados. Observe que não me refiro ao dinheiro, ao conforto nem aos recursos materiais das diferentes famílias envolvidas. Falo de afeto, carinho, apoio emocional, exemplo, autoridade, cobrança, amor...
Se a garota que vemos em Eu, Christiane F. - 13 Anos, Drogada e Prostituída viesse de uma família endinheirada e poderosa, mas ainda assim displicente e ausente, nada mudaria. Todos conhecemos inúmeros casos de ricaços com filhos que buscaram preencher seus vazios emocionais no mundo das drogas. Se a garota que vemos em Destemida viesse de uma família pobre, mas ainda assim amorosa, presente e apoiadora, toparia com obstáculos ainda mais difíceis, o que apenas tornaria sua conquista ainda mais espetacular. Todos nós conhecemos inúmeros casos de gente que chegou ao topo, depois de uma longa escalada que saiu de muito baixo.
Não tenho autoridade para ousar especulações no campo da psicologia, mas arrisco recomendar esses dois filmes como bons exemplos a serem considerados. A produção alemã, por proporcionar um tour melancólico pelo sombrio mundo das drogas. A produção australiana, por nos acalentar com uma história iluminada e inspiradora. Que o primeiro nos sirva de alerta e de modelo a ser evitado na educação dos nossos filhos. Que o segundo nos aponte os valores que merecem ser cultivados.
Se a garota que vemos em Eu, Christiane F. - 13 Anos, Drogada e Prostituída viesse de uma família endinheirada e poderosa, mas ainda assim displicente e ausente, nada mudaria. Todos conhecemos inúmeros casos de ricaços com filhos que buscaram preencher seus vazios emocionais no mundo das drogas. Se a garota que vemos em Destemida viesse de uma família pobre, mas ainda assim amorosa, presente e apoiadora, toparia com obstáculos ainda mais difíceis, o que apenas tornaria sua conquista ainda mais espetacular. Todos nós conhecemos inúmeros casos de gente que chegou ao topo, depois de uma longa escalada que saiu de muito baixo.
Não tenho autoridade para ousar especulações no campo da psicologia, mas arrisco recomendar esses dois filmes como bons exemplos a serem considerados. A produção alemã, por proporcionar um tour melancólico pelo sombrio mundo das drogas. A produção australiana, por nos acalentar com uma história iluminada e inspiradora. Que o primeiro nos sirva de alerta e de modelo a ser evitado na educação dos nossos filhos. Que o segundo nos aponte os valores que merecem ser cultivados.
Resenha crítica do filme Destemida
Título original: True SpiritAno de produção: 2022
Direção: Sarah Spillane
Roteiro: Sarah Spillane, Rebecca Banner e Cathy Randall
Elenco: Teagan Croft, Alyla Browne, Cliff Curtis, Anna Paquin, Josh Lawson, Bridget Webb, Vivien Turner, Stacy Clausen e Todd Lasance
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