Treze Dias Que Abalaram o Mundo: a crise dos mísseis cubanos

Cena do filme Treze Dias Que Abalaram o Mundo
Treze Dias Que Abalaram o Mundo: direção de Roger Donaldson

POLÍTICA É UM PROBLEMA, MAS TAMBÉM É A SOLUÇÃO!

John F. Kennedy foi aquele presidente americano que teve um caso com a loira Marilyn Monroe e acabou morto enquanto passeava de conversível com a Jaqueline Onassis, ao levar um tiro na cabeça disparado por Lee Harvey Oswald. Resumi de forma tosca? Sim! Mas é praticamente tudo o que o grande público de hoje guarda na memória sobre um dos presidentes mais populares dos Estados Unidos. É curioso como ninguém mais se refere a esse personagem glamouroso como um político. Como tal, era dado a politicagens e badalações, mas sua curta carreira não foi uma festa permanente. Kenedy precisou lidar com o estresse de um dos episódios mais tensos da Guerra Fria. É assim que ele aparece em Treze Dias Que Abalaram o Mundo, filme de 2000 dirigido por Roger Donaldson.
        O filme se esgueira pelos bastidores da crise dos mísseis de Cuba, que em 1962 colocou o mundo à beira de uma guerra nuclear. Construído em formato de thriller, segue ágil e envolvente do começo ao fim. Recria com brilhantismo a atmosfera da época e esbarra em ótimas caracterizações – os atores são praticamente sósias dos verdadeiros personagens! E apesar de enveredar por uma estética que emula o documental, o diretor deixa claro que está ali para dramatizar, não para registrar eventos históricos.


        De fato, naquele mês de outubro de 1962, os acontecimentos foram dramáticos, mas restritos aos corredores da Casa Branca e do Kremlin. As movimentações dos militares e burocratas responsáveis pela política externa aconteceram em segundo plano e não ficaram totalmente explícitas na mídia, o que levou o público a um angustiante estado de espera pelo armagedon nuclear. Hoje sabemos que a crise se desenrolou em uma sucessão de enganos táticos e blefes ousados de ambos os lados, decorrentes de falhas de comunicação e erros de cálculo político. Enfim, o mundo quase acabou por culpa de um punhado de poderosos ególatras, de ambos os lados da cortina de ferro. Vejamos como ficou a sinopse do filme:
        Treze Dias Que Abalaram o Mundo relata como um avião espião americano flagrou os mísseis soviéticos sendo instalados na ilha de Fidel Castro. Os militares informam o presidente Kenedy (Bruce Greenwood), que imediatamente mobiliza seu aparato burocrático. Traçam um plano de ação para dar aos comunistas a resposta certa: nem tão lisa, para não denotar fraqueza, nem tão áspera, para não acender o estopim da guerra. O presidente então se agarra aos conselhos de seu assessor Kenneth O'Donnell (Kevin Costner), para tentar manter as rédeas no âmbito da política interna. Seu Secretário de Defesa, Robert McNamara (Dylan Baker), terá que dar conta dos desdobramentos militares e seu irmão, Robert F. Kennedy (Steven Culp) ficará encarregado daquilo que sabe fazer de melhor: política!


        O excelente roteiro de Treze Dias Que Abalaram o Mundo é uma peça semificional, escrita por David Self – que depois também escreveria Estrada Para Perdição. Ele se baseou em diversas fontes históricas, como fitas da Casa Branca e documentos da CIA, além de entrevistas com vários dos protagonistas, especialmente com Kenneth O'Donnell. Também consultou o livro The Kennedy Tapes: Inside the White House During the Cuban Missile Crisis, escrito por Ernest R. May e Philip D. Zelikow. Em seu roteiro, Self soube trazer à tona a verdade emocional que dominou aquelas duas semanas de outubro de 1962. Seus protagonistas são personalidades do mundo da política, envolvidos em uma verdadeira guerra de narrativas, digladiada em diálogos ágeis e pontiagudos. Mas também são gente de carne e osso, que de repente sentem sobre as costas o peso descomunal da responsabilidade pelo futuro da civilização.
        Para garantir a força dramática e evitar as armadilhas do preciosismo documental, o roteirista tomou certas liberdades poéticas. Supervalorizou a participação de Kenny O'Donnell em todo o episódio, para criar uma ponte emocional que levasse o espectador a enxergar um John F. Kennedy mais humano e verossímil. E dada a complexidade dos acontecimentos, precisou condensar vários personagens. Self também exagerou nas pressões para que o presidente caminhasse na direção da guerra nuclear, feitas pelo contingente militar. Ainda que a truculência fosse real e as convicções anticomunistas bem fundadas, eles não eram, de fato, brucutus sem noção. Tanto é que o mundo sobreviveu.
        O diretor australiano naturalizado neozelandês, Roger Donaldson, agregou uma notável excelência visual a Treze Dias Que Abalaram o Mundo. Experiente, ele soube manter o foco nos personagens e criar uma linha de suspense para prender o espectador. Seu filme funciona, quando mostra como foram os acontecimentos da geopolítica e quando entra no círculo íntimo do poder, para retratar seres humanos às voltas com decisões verdadeiramente difíceis. Mas também expôs os egos, os interesses eleitoreiros e as posições ideológicas, que terminaram enfraquecidos pela imposição dos fatos.


Resenha crítica do filme Treze Dias Que Abalaram o Mundo

Título original: Thirteen Days
Ano de produção: 2000
Direção: Roger Donaldson
Roteiro: David Self
Elenco: Kevin Costner, Bruce Greenwood, Stephanie Romanov, Steven Culp, Dylan Baker, Lucinda Jenney, Michael Fairman, Bill Smitrovich, Frank Wood, Ed Lauter, Kevin Conway, Tim Kelleher, Len Cariou, Chip Esten, Olek Krupa, Jack McGee, Tom Everett, Oleg Vidov, Alex Veadov, Henry Strozier, Walter Adrian, Caitlin Wachs, Madison Mason, Kelly Connell, Peter White e Boris Lee Krutonog

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