Nyad: a façanha de uma nadadora de 64 anos
Nyad: direção de Elizabeth Chai Vasarhelyi e Jimmy Chin
CASAMENTO DE DRAMA COM DOCUMENTÁRIO
Nos premiados documentários Free Solo e Meru, dirigidos pelo casal Elizabeth Chai Vasarhelyi e Jimmy Chin, acompanhamos alpinistas destemidos em façanhas de tirar o fôlego. A dupla também dirigiu The Rescue, que mostrou o esforço para resgatar doze garotos e seu treinador, presos numa caverna alagada na Tailândia. Portanto, a matéria-prima com a qual estão acostumados a lidar é a verdade, aquela que se exibe despudorada na tela, em sua crueza desconcertante. O mundo do esporte, território da tenacidade e da superação, é onde a dupla se sente em casa. Assim, nada mais natural que tenham sido escolhidos para dirigir Nyad, filme de 2023, que celebra a proeza esportiva da nadadora Diana Nyad, que aos 64 anos saiu de Cuba e chegou na Flórida, numa jornada de braçadas extenuantes que duraram 53 horas ininterruptas.Em termos cinematográficos, Nyad é uma realização e tanto, porque não se trata de um documentário. O que temos aqui é uma visão dramatizada da história da esportista, que explora as diferentes camadas da sua personalidade e reconstitui os fatos com grande apuro visual. Ao contrário do que acontece com os documentários, que nascem na mesa de edição a partir de incontáveis horas de cenas captadas, o filme nasceu do roteiro escrito por Julia Cox – e cresceu com o envolvimento de um elenco competente. Mas antes de falar de cinema, precisaremos falar de esporte, para poder estabelecer o contexto dessa produção.
Para nós, brasileiros não iniciados no mundo da natação, que só conhecemos Diana Nyad em 2013, quando ela completou a famosa travessia, sua fama durou apenas os 15 minutos que lhe couberam nos telejornais:
– Nossa! Como essa senhora idosa chegou longe! – exclamamos com assombro e alguma incredulidade.
Para os americanos, no entanto, o nome Dianna Nyad é muito mais famoso. Está presente na mídia desde 1975, quando a nadadora encantou o país ao percorrer 45 km ao redor de Manhattan em tempo recorde. Depois, em 1979, ela venceu o mar nas Bahamas e nadou 164 km. Desistiu da travessia de Cuba para a Flórida, mas virou personalidade midiática. Tornou-se uma das maiores jornalistas esportivas da TV americana, virou palestrante motivacional e escreveu uma biografia de sucesso, intitulada Find a Way, na qual Nyad foi baseado.
A personagem que agora vemos no longa Nyad é, portanto, uma celebridade, conhecida na intimidade e adorada por uma legião de fãs ao redor do planeta. O filme apresenta cenas reais da nadadora em suas múltiplas tentativas de vencer os 170 km entre Cuba e a Flórida, tendo que enfrentar tubarões, águas-vivas e outros perigos. Três décadas depois, Diana Nyad (Annette Bening), no auge da sua fama no jornalismo, fica obcecada com a ideia de retomar o antigo desafio. Convence a melhor amiga, Bonnie Stoll (Jodie Foster), a se tornar sua treinadora e recruta o navegador John Bartlett (Rhys Ifans) para gerenciar os desafios técnicos da travessia. Consegue patrocinadores e reúne uma equipe dedicada, que passará os próximos quatro anos tentado a proeza, que se mostrará cada vez mais impossível.
Os diretores usaram e abusaram das suas habilidades como documentaristas, para alcançar uma atmosfera realista na hora de recriar a trajetória de Diana Nyad. Por jamais terem filmado um drama, ancorado em um roteiro estruturado, tiveram que encontrar um jeito diferente de transitar pelos sets: comportaram-se como observadores e colaram suas lentes na performance do competente elenco. Deu certo! Reuniram um farto material, que levaram para a mesa de edição, onde se sentiram em casa. A experiência de lidar com a conquista de grandes atletas ajudou a ressaltar a força de uma protagonista que irradia audácia, coragem, determinação e uma teimosia proverbial! A decisão de utilizar imagens reais de Dianna quando jovem também funcionou, pois trouxe para o espectador a oportunidade de comparar o universo dramatizado com o documental, o que ressaltou o brilhante trabalho do elenco.
Para escrever o roteiro de Nyad, os produtores Andrew Lazar e Teddy Schwarzman convocaram a novata Julia Cox, uma escritora com experiência em roteiros para a TV. Ela foi além da biografia da nadadora e passou a conviver com Diana e Bonnie. Foi quando encontrou o fio dramático que deu costura a todo o filme. O relacionamento entre as duas amigas, com suas afinidades e desavenças, precisava estar em primeiro plano, para criar o contraponto que estabeleceria o fluxo narrativo. A roteirista também soube retratar o oceano como o grande antagonista e se valeu de flashbacks para desvendar camadas da personalidade da nadadora.
Sim, como todo filme que fala de façanhas esportivas, Nyad se esforça para ser edificante. Sua mensagem é empolgante: determinação, trabalho duro e coragem valem em qualquer idade e sempre conduzem às maiores conquistas. Mas os realizadores esbarraram em problemas: a travessia realizada por Dianna Nyad em 2013 jamais foi reconhecida pelas autoridades esportivas, por causa de lacunas na documentação do trajeto e contradições nos relatos da equipe envolvida. Além disso, a tripulação que acompanhou a nadadora durante todo o percurso não era aquele punhado de gente que vemos no filme. Foram diversos barcos envolvidos, lotados de médicos, treinadores e jornalistas, totalizando cerca de 40 pessoas. Esses tropeços, no entanto, não diminuíram os méritos de Dianna Nyad. Seus feitos foram notáveis e ainda hoje servem de exemplo para muita gente.
É claro que as presenças magnéticas de Annette Bening e Jodie Foster são um estímulo para os cinéfilos interessados em assistir ao filme Nyad. Mas o trabalho do casal de diretores Elizabeth Chai Vasarhelyi e Jimmy Chin também merece destaque. Na mesa de edição, eles souberam mesclar drama e documentário num esforço narrativo louvável. Vale a pena conferir.
Direção: Elizabeth Chai Vasarhelyi e Jimmy Chin
Roteiro: Julia Cox
Elenco: Annette Bening, Jodie Foster, Rhys Ifans, Karly Rothenberg, Jeena Yi, Luke Cosgrove, Eric T. Miller e Garland Scott
A personagem que agora vemos no longa Nyad é, portanto, uma celebridade, conhecida na intimidade e adorada por uma legião de fãs ao redor do planeta. O filme apresenta cenas reais da nadadora em suas múltiplas tentativas de vencer os 170 km entre Cuba e a Flórida, tendo que enfrentar tubarões, águas-vivas e outros perigos. Três décadas depois, Diana Nyad (Annette Bening), no auge da sua fama no jornalismo, fica obcecada com a ideia de retomar o antigo desafio. Convence a melhor amiga, Bonnie Stoll (Jodie Foster), a se tornar sua treinadora e recruta o navegador John Bartlett (Rhys Ifans) para gerenciar os desafios técnicos da travessia. Consegue patrocinadores e reúne uma equipe dedicada, que passará os próximos quatro anos tentado a proeza, que se mostrará cada vez mais impossível.
Os diretores usaram e abusaram das suas habilidades como documentaristas, para alcançar uma atmosfera realista na hora de recriar a trajetória de Diana Nyad. Por jamais terem filmado um drama, ancorado em um roteiro estruturado, tiveram que encontrar um jeito diferente de transitar pelos sets: comportaram-se como observadores e colaram suas lentes na performance do competente elenco. Deu certo! Reuniram um farto material, que levaram para a mesa de edição, onde se sentiram em casa. A experiência de lidar com a conquista de grandes atletas ajudou a ressaltar a força de uma protagonista que irradia audácia, coragem, determinação e uma teimosia proverbial! A decisão de utilizar imagens reais de Dianna quando jovem também funcionou, pois trouxe para o espectador a oportunidade de comparar o universo dramatizado com o documental, o que ressaltou o brilhante trabalho do elenco.
Para escrever o roteiro de Nyad, os produtores Andrew Lazar e Teddy Schwarzman convocaram a novata Julia Cox, uma escritora com experiência em roteiros para a TV. Ela foi além da biografia da nadadora e passou a conviver com Diana e Bonnie. Foi quando encontrou o fio dramático que deu costura a todo o filme. O relacionamento entre as duas amigas, com suas afinidades e desavenças, precisava estar em primeiro plano, para criar o contraponto que estabeleceria o fluxo narrativo. A roteirista também soube retratar o oceano como o grande antagonista e se valeu de flashbacks para desvendar camadas da personalidade da nadadora.
Sim, como todo filme que fala de façanhas esportivas, Nyad se esforça para ser edificante. Sua mensagem é empolgante: determinação, trabalho duro e coragem valem em qualquer idade e sempre conduzem às maiores conquistas. Mas os realizadores esbarraram em problemas: a travessia realizada por Dianna Nyad em 2013 jamais foi reconhecida pelas autoridades esportivas, por causa de lacunas na documentação do trajeto e contradições nos relatos da equipe envolvida. Além disso, a tripulação que acompanhou a nadadora durante todo o percurso não era aquele punhado de gente que vemos no filme. Foram diversos barcos envolvidos, lotados de médicos, treinadores e jornalistas, totalizando cerca de 40 pessoas. Esses tropeços, no entanto, não diminuíram os méritos de Dianna Nyad. Seus feitos foram notáveis e ainda hoje servem de exemplo para muita gente.
É claro que as presenças magnéticas de Annette Bening e Jodie Foster são um estímulo para os cinéfilos interessados em assistir ao filme Nyad. Mas o trabalho do casal de diretores Elizabeth Chai Vasarhelyi e Jimmy Chin também merece destaque. Na mesa de edição, eles souberam mesclar drama e documentário num esforço narrativo louvável. Vale a pena conferir.
Resenha crítica do filme Nyad
Ano de produção: 2023Direção: Elizabeth Chai Vasarhelyi e Jimmy Chin
Roteiro: Julia Cox
Elenco: Annette Bening, Jodie Foster, Rhys Ifans, Karly Rothenberg, Jeena Yi, Luke Cosgrove, Eric T. Miller e Garland Scott
Comentários
Postar um comentário