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Mostrando postagens de 2024

Kramer vs. Kramer: o mais importante acontece fora dos tribunais

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Kramer vs. Kramer: direção de Robert Benton AUTOAPRENDIZADO INTENSIVO Quando foi lançado, em 1979, Kramer vs. Kramer , dirigido por Robert Benton, alcançou grande sucesso junto à crítica e também ao público. Na festa do Óscar, arrebatou cinco estatuetas: melhor filme, melhor diretor, melhor ator, melhor atriz coadjuvante e melhor roteiro adaptado. Entrou para a história do cinema como uma unanimidade e continua lá, na prateleira, acumulando pó. Passados 45 anos, pode ser encontrado vagando pelos serviços de streaming, à espera de espectadores que ousem apertar o play.           Se você é daqueles que, como eu, assistiu ao filme na época do lançamento e nunca mais se lembrou de visitá-lo, sugiro que o faça. Kramer vs. Kramer envelheceu muito bem! Talvez você se lembre dele como um... filme de tribunal, mas não é bem assim. Apesar do que sugere o título, trata-se de um filme sobre amadurecimento, de um pai, de uma mãe e de um filho, que tentam renascer dos cacos de uma família fraturada

Uma Ponte Longe Demais: a história real da Operação Market Garden

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Uma Ponte Longe Demais: direção de Richard Attenborough UMA FAÇANHA LOGÍSTICA MOVIDA PELA VAIDADE Por qual motivo alguém ousaria realizar um filme como Uma Ponte Longe Demais , dirigido em 1977 por Richard Attenborough? Antes de começar a especular, vamos examinar do que ele trata. É um drama de guerra, estrelado por um elenco de famosos, que narra os meandros da fracassada Operação Market Garden, criada em setembro de 1944 pelo ambicioso general britânico Bernard Montgomery. O objetivo era pôr fim à Segunda Guerra Mundial antes daquele Natal. Foi a maior operação de paraquedistas da história, quando 41 mil homens saltaram atrás das linhas alemãs que dominavam a Holanda, com a missão de proteger algumas pontes estratégicas. Enquanto isso, os britânicos avançariam com seus blindados até a cidade de Arnhem e atravessariam a última ponte sobre o rio Reno, para finalmente invadir a Alemanha.           Uma sucessão de erros – rádios defeituosos impedindo a comunicação, estradas estreitas di

A Condenação: a história real de Betty e Kenny Waters

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A Condenação: direção de Tony Goldwyn AINDA BEM QUE EVITARAM O MELODRAMA Certo, vamos partir do princípio de que não existe sistema judiciário perfeito. Aliás, no campo das ciências humanas, falar em perfeição é um atrevimento. Mais apropriado é avaliar os sistemas de justiça pela sua eficácia. O que esperamos deles? Que garantam o cumprimento das leis e protejam os cidadãos da interferência dos poderosos, dos agentes políticos e dos governos. Acontece que, vez ou outra, algumas partes interessadas – incluindo a polícia, o sistema prisional, a mídia, grupos de pressão e tantos outros agentes sociais – conseguem manipular o sistema na surdina. Imparcialidade e independência deixam de existir, fazendo com que a eficácia caia por terra. O sistema acaba decidindo de forma... injusta! Os danos são irreparáveis, pelo menos até o momento em que alguém consegue encontrar o erro e corrigi-lo.           A Condenação , filme de 2010 dirigido por Tony Goldwyn conta como a justiça americana meteu o

Stillwater: Em Busca da Verdade: ficção cercada de realidade

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Stillwater: direção de Tom McCarthy UM DRAMA HUMANO PARA ALÉM DOS ESTEREÓTIPOS Um americano vai para Marselha, na França, onde a filha está presa por um assassinato que não cometeu, e empreende uma busca por provas que possam libertá-la. Só essa curta sinopse já tem poder para fisgar, mas então você percebe que o pai resoluto é ninguém menos do que Matt Damon, o astro de Hollywood calejado nos filmes de ação. Esfregando as mãos de felicidade – nada como um bom thriller policial para animar a noite de um cinéfilo – você aperta o play sem pestanejar. No entanto, Stillwater: Em Busca da Verdade , dirigido em 2021 por Tom McCarthy está longe de ser um filme de ação. Não segue a cartilha dos thrillers, nem se dedica a cultuar o tipo de personagem durão e infalível, que resolve as querelas com tiros e pancadaria. Trata-se de um drama humano, vivido por personagens bem construídos. Tem poder para envolver o espectador do começo ao fim e deixá-lo sem piscar.           A primeira observação a f

Minha opinião sobre... a liberação da maconha!

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É SÓ MAIS UM INSTRUMENTO DE CONTROLE SOCIAL Sou contra as drogas. Quando faço tal afirmação, sei que vai aparecer algum provocador e perguntar:           – As lícitas ou as ilícitas?           Esse tipo quer deixar implícita a noção de que álcool e tabaco também são drogas, mas a sociedade hipócrita as aceita porque “há todo um aparato capitalista que se beneficia da sua comercialização”. Com a perguntinha retórica, o sujeito também tenta colocar a maconha no mesmo patamar de periculosidade e abre um sorriso no canto da boca, acreditando ter encontrado o argumento definitivo pela descriminalização do seu uso recreativo.           Antes de enveredar pelas ruelas dessa discussão, gosto de deixar claro o porquê da minha recusa em consumir drogas – todas as drogas! Elas alteram meu estado de consciência, tiram de mim o controle da minha criatividade e matam a minha individualidade, na medida em provocam as mesmas reações neuroquímicas que borbulham no cérebro de qualquer outro que também a

Anatomia de uma Queda: um filme imperdível

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Anatomia de uma Queda: Direção de Justine Triet É TUDO QUESTÃO DE NARRATIVA! Trogloditas ao redor da fogueira, abrigados em alguma caverna providencial, já exercitavam as complicações da narrativa. Entre tentativas de influenciar decisões, apresentando diferentes versões dos fatos, já se mostravam exímios contadores de histórias. Continuamos a tradição e fomos além, aperfeiçoando os meios de comunicação e ampliando nossas capacidades expressivas. Hoje, nosso mundo se tornou uma complexa construção de... histórias! Não é exagero afirmar que, para muitos, abraçar uma narrativa tornou-se mais palpável do que abraçar os fatos. Essas são, normalmente, menos espinhosas do que aqueles!           Mas onde fica, afinal, o nascedouro das narrativas? De onde elas brotam por primeiro, inundando nosso entendimento da realidade? Em seu filme Anatomia de uma Queda , que dirigiu em 2023, a cineasta francesa Justine Triet traz uma resposta na ponta da língua: elas nascem entre os casais! É no convívio

O Homem do Castelo Alto: uma série envolvente e distópica

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O Homem do Castelo Alto: série criada por Frank Spotnitz PERSONAGENS BEM CONSTRUÍDOS, NUMA JORNADA DESAFIADORA Você já pensou como o mundo seria tenebroso caso os nazistas e fascistas tivessem saído vencedores da Segunda Guerra Mundial? Philip K. Dick já perdeu noites de sono pensando nos infelizes desdobramentos dessa péssima ideia. Escritor talentoso, tornou-se um dos principais nomes da ficção cientifica, tendo escrito Blade Runner , Minority Report , O Vingador do Futuro , O Vidente e Os Agentes do Destino , entre tantos outros livros que resultaram em adaptações para o cinema. Quando publicou O Homem do Castelo Alto , em 1962, provocou a imaginação do público, descrevendo como as potências do Eixo poderiam ter derrotado os Aliados, conquistando definitivamente a Europa e ocupando os Estados Unidos.           No romance de Philip K. Dick, o infortúnio da humanidade começa quando Franklin D. Roosevelt é assassinado em 1933. Seus sucessores não conseguem tirar os Estados Unidos da G

Ficção Americana: a armadilha dos estereótipos

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Ficção Americana: dirigido por Cord Jefferson CINEMA ENVOLVENTE, ELEGANTE E INTELIGENTE Com o olhar difuso, mirando algum ponto focal dentro da minha mente, bebo outro gole de café. Gesto mecânico que denuncia: estou operando no modo divagação, enquanto tento preencher a tela em branco do computador. Desta vez, meu esforço é para compreender os fatores críticos que me trouxeram até aqui e determinaram a vida que levo. Que estabeleceram quem sou, o que tenho, o que posso, o que me resta... Gostava de pensar que a minha inteligência está no ponto zero. A partir dela, tudo o mais se deriva: meus desejos, meus humores, meus amores, minhas capacidades, meus talentos... Em razão disso, cultivar conhecimento e exercitar os neurônios sempre foram essenciais no meu modo de vida.           Com a idade, percebi que nem todos se medem pela mesma régua. Alguns elegem a fé como ponto zero, outros, escolhem a sensualidade. Há quem considere mais importante ter e exercer o poder, quem priorize o vigor

Campeões: um remake à altura do original espanhol

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Campeões: direção de Bobby Farrelly AUTÊNTICOS, DESCOLADOS E HILÁRIOS – Ora, isso vai ser politicamente incorreto! Ou não? Talvez caia na lacração! O que acha de apertar o play e conferir?           – Já topei! – Ludy não ligou para minha hesitação. Sentiu-se à vontade com a foto promocional de Campeões , filme de 2023 dirigido por Bobby Farrelly com o qual tropeçamos no serviço de streaming. Minha mulher se deixou levar pela curta sinopse e pela promessa de assistir a uma comédia leve e engraçada. Quanto a mim, impliquei com o nome do diretor, um dos irmãos Farrelly, responsáveis por comédias escrachadas de grande sucesso, mas contaminadas de besteirol, como Debi & Loide , Quem Vai Ficar com Mary? e Eu, Eu Mesmo & Irene . Se bem que seu irmão, Peter, já havia feito uma incursão bem-sucedida pelo universo dos filmes mais... sérios, ao dirigir o excelente Green Book: O Guia . Talvez Bobby tivesse gostado da ideia!           De fato, Campeões é uma boa surpresa e merece ser apr

O Estado das Coisas: um filme dentro de outro filme!

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O Estado das Coisas: filme de Wim Wenders PESSOAL, INTIMISTA E REPLETO DE REFERÊNCIAS AO PRÓPRIO CINEMA Dia desses, voltei no tempo. Fui parar em 1982, quando tinha 21 anos e frequentava os bancos da faculdade de comunicação – minha opção era pelo curso de publicidade e propaganda. Minha paixão secreta, no entanto, era o cinema. Então, por que raios não estava estudando cinema? Bem, poderia apresentar aqui um arrazoado completo de desculpas, uma mais convincente do que a outra, que você depois poderia jogar no lixo, sem cerimônia. O fato é que, enquanto me ocupava em ser publicitário, havia muita gente com mais coragem fazendo filmes. Gente por todos os cantos do planeta.           Hoje, com a internet, o planeta é um tiquinho. Naquela época, era colossal! O acesso aos filmes dependia de insistência e sorte. Era muito mais fácil ler sobre cinema e os cineastas do que assistir às suas obras. Vez ou outra, nos cineclubes ou nas casas de amigos mais aristocráticos, tropeçava em preciosida

Assalto ao Carro Blindado: eles passaram para o lado dos bandidos

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Assalto ao Carro Blindado: direção de Nimród Antal NÃO ME VENHAM COM DESCULPAS ESFARRADAS! Todo cinéfilo tem, na manga da camisa, um filme despretensioso, descomplicado e envolvente, que dará como cartada quando quiser encerrar de vez a busca no serviço de streaming, para finalmente poder relaxar diante da TV. Na verdade, tenho vários filmes assim, e um deles é Assalto ao Carro Blindado , dirigido em 2009 por Nimród Antal. O que há de especial nesse filme? Não muito, mas posso citar pelo menos três bons motivos para se render a ele: tem um elenco excelente, traz uma boa história bem contada e cutuca valores pessoais e familiares me precisam ser cultivados nesses nossos dias confusos.           O título do filme já diz tudo: trata-se do thriller policial que tem Matt Dillon, Jean Reno, Laurence Fishburne e Columbus Short à frente do elenco, onde os seguranças encarregados de transportar cifras astronômicas resolvem passar para o time dos gatunos e meter a mão na grana. Por que gosto des

Direto ao Conto - 5

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ESPAÇO-TEMPO O movimento era normal para uma quinta-feira. Pelo adiantado da hora – passando das três – só o que se ouvia eram as canções despudoramente românticas, bem ao gosto dos três casais que insistiam em balançar agarradinhos na minúscula pista de dança. Pelas mesas, os pares eram formados por clientes habituais e garotas de programa, dissolvidos na penumbra enevoada, banhada por uma frouxa luz avermelhada. Renato e Joanes dividiam a mesa mais discreta, num dos cantos com visão privilegiada para todo o interior do estabelecimento. Por certo não eram um casal. Estavam mais para uma dupla, não de cantores sertanejos, mas de comparsas.           – Você acredita em vida depois da morte? – disparou Joanes, mantendo o olhar fixo em algum ponto que apenas ele era capaz de enxergar.           – Sim, acredito. – Antes de continuar, Renato balançou as pedras de gelo no seu copo de uísque e sorveu o último gole. – A alma independe do corpo para continuar sendo o que é. Segue existindo, mes

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