Star Trek: um rebbot criativo e empolgante
Star Trek: direção de J. J. Abrams
NÃO PRECISA SER FÃ INVETERADO PARA SE DELICIAR
Por que Star Trek, a série de TV criada em 1966 por Gene Roddenberry, funcionou tão bem no imaginário popular, a ponto de se tornar um latifúndio na cultura pop? Os star trekkers já devem ter se apoderado de um significativo percentual de todos os megabytes da internet, tamanha a vastidão de informações disponíveis sobre as séries, filmes, games, quadrinhos, livros, brinquedos e outras bugigangas derivadas da série original. Geração após geração, o número de fãs incondicionais só aumenta. Os anos passam e o sucesso de Star Trek segue em velocidade de dobra, rumo ao infinito e além – para usar aqui um tom de propositada heresia!Aposto que nem mesmo os marqueteiros detentores dos direitos da franquia conhecem a resposta para a pergunta lá do começo. Talvez colecionem um punhado de respostas, que ensejam dezenas de novas perguntas. Vejo esse estrondoso sucesso como um daqueles fenômenos indecifráveis, que devem ser apenas aceitos. Mas o leitor deve estar se perguntando: por que mencionar esse assunto na Crônica de Cinema, assim, sem mais nem menos? Bem, o motivo é que, numa noite dessas, depois de me irritar assistindo a um péssimo filme de ficção científica – prometia muito nos primeiros minutos, mas naufragou num mar de cenas mal escritas – decidi aproveitar meu tempo com um filme que tivesse um ótimo roteiro, comprovadamente bem costurado. Minha escolha foi óbvia: Star Trek, dirigido em 2009 por J. J. Abrams.
Eis aqui um filme empolgante! Trata-se daquilo que a indústria do cinema batizou de reboot, o reinício de uma história, que volta às origens dos seus personagens para promover uma renovação de linguagem e torná-la mais palatável ao público atual. E o melhor, os realizadores decidiram que o filme seria voltado para o público em geral, não familiarizado com o universo de Star Trek. É claro que cuidaram para não ferir suscetibilidades. Juraram fidelidade a todos os cânones abraçados pelos fãs.
Esse décimo primeiro filme consumiu um orçamento vultoso, mais do que o usual para os demais filmes da franquia. Também veio impulsionado por uma grande campanha de divulgação, para se tornar um dos mais rentáveis. O público adorou, a crítica elogiou e até a academia de cinema deu a mão à palmatória: finalmente outorgou um Óscar à franquia, o de Melhor Maquiagem.
A nova aventura da nave USS Enterprise começou quando o estúdio contratou os roteiristas Roberto Orci e Alex Kurtzman, fãs de longa data do universo Star Trek. Deu à dupla carta branca para reinventar toda a história, o que não significou correr riscos: o trabalho primoroso que os dois fizeram com J. J. Abrams no sucesso Missão Impossível III já indicava que encontrariam o caminho certo. O roteiro que escreveram segue orgânico, ágil e fluente, mas não foi criado com facilidade. Depois de mais de 40 anos de veneração, os fás já sabiam tudo sobre os personagens e não aceitariam deslizes. Além do mais, todas as novidades que inventassem precisariam estar em conformidade com o universo da franquia, pois teriam que ser incorporadas nas futuras produções.
Depois de enveredar por becos sem saída, os roteiristas chegaram a uma solução inteligente: criaram uma realidade alternativa, onde a jovem tripulação da Enterprise, em pleno voo inaugural, teria que combater um vilão vindo do futuro. O pulo do gato seria a presença de Leonard Nimoy, o ator que consagrou o personagem Spock desde os primeiros episódios da série original, que faz uma ponte com o novo elenco.
Roberto Orci e Alex Kurtzman criaram cenas memoráveis, para apresentar um por um dos personagens da série. Vemos como o capitão James T. Kirk (Chris Pine), que perdeu o pai quando o vilão Nero (Eric Bana) destruiu sua nave, conhece Nyota Uhura (Zoë Saldaña) e Leonard McCoy (Karl Urban) na academia militar e tem que competir com o genial Spock (Zachary Quinto). Comandados pelo capitão Pike (Bruce Greenwood), eles partem para uma missão de ajuda ao planeta Vulcano. A bordo também vão Hikaru Sulu (John Cho), Pavel Chekov (Anton Yelchin) e Montgomery Scott (Simon Pegg).
O diretor J. J. Abrams, que ficou conhecido como criador de séries memoráveis para a TV, como Lost, Alias e Undercovers, orquestrou Star Trek para ser um sucesso comercial ágil e empolgante. Seu time renovou todos os cenários, figurinos e traquitanas tecnológicas, Criou versões mais modernas, sem jamais se afastar da linguagem visual que consagrou a série original. A mistura de computação gráfica e cenas filmadas em sets bem elaborados criou um universo de encher os olhos. O design de som e a trilha sonora completaram a atmosfera envolvente que todos nós respirávamos nos anos 1960.
Não, jamais fui um fã incondicional de Star Trek, mas assisti a vários episódios desde quando era garoto – aqui era conhecida como Jornada nas Estrelas. Vi os primeiros longas no cinema e depois me afastei desse universo, na medida em que o interesse pelo cinema se tornou mais... vasto. Depois de todos esses anos, trago uma certa familiaridade com as histórias da nave estelar USS Enterprise, a ponto de me arriscar a responder aos que ainda não entendem como uma série de TV criada há quase 60 anos ainda funciona tão bem no imaginário popular: é porque está ancorada em personagens sólidos, que esbanjam coragem, honra, honestidade, amizade, companheirismo, ímpeto aventureiro, espírito competitivo e liderança. Ah, e é claro, tem aquela incrível máquina de teletransporte!
Resenha crítica do filme Star Trek
Ano de produção: 2009Direção: J. J. Abrams
Roteiro: Roberto Orci e Alex Kurtzman
Elenco: Chris Pine, Zachary Quinto, Leonard Nimoy, Karl Urban, Zoë Saldaña, Simon Pegg, John Cho, Anton Yelchin, Eric Bana e Bruce Greenwood
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