Yellowstone: uma série destinada ao sucesso

Cena da série Yellowstone
Yellowstone: série dirigida por Taylor Sheridan

RENOVADO, O WESTERN GANHA UMA NOVA CHANCE

Eis aqui uma série de TV envolvente, realizada como um faroeste moderno, que resgata os melhores atributos do gênero e nos apresenta a personagens inesquecíveis. Trata-se de Yellowstone, um título no qual você já deve ter tropeçado enquanto fuçava os serviços de streaming. O que me fez dar o play sem pestanejar foi a presença de um nome importante: o de... Taylor Sheridan! Talvez você esperasse que o nome citado fosse o de Kevin Costner, astro do primeiro time de Hollywood que encabeça o elenco, mas como cinéfilo interessado em esmiuçar a arte da escrita, fiquei empolgado ao ver o nome do diretor e roteirista imperar nos créditos.
        Se você ainda não associou o nome à figura, lembro que Taylor Sheridan é o autor de três roteiros de grande sucesso nas bilheterias: Sicario: Terra de Ninguém, A Qualquer Custo e Terra Selvagem. Seu estilo enxuto e objetivo, centrado em personagens que se revelam por meio de diálogos afiadíssimos, conquistou o público e abriu caminho para aquilo que a indústria do cinema já ousa rotular como a renovação do western. De ator circunscrito a papéis secundários, saltou para o cargo de roteirista disputado e depois para o de diretor com faro para os negócios.
        Yellowstone foi concebida por Taylor Sheridan para ser um longa-metragem, mas terminou viabilizada como série com a ajuda do produtor John Linson. Foi lançada em 2018 e já está em sua quinta temporada, com um total de 47 episódios. O sucesso de público tem sido retumbante e a série não pára de ganhar audiência, não só entre os admiradores do western, mas também entre aqueles que fazem questão de acompanhar uma boa história bem contada.
        O viés conservador fica claro desde o início. O que vamos acompanhar é a saga de uma família tradicional no estado de Montana, que fará de tudo – tudo mesmo! – para preservar as terras conquistadas por seus antepassados e que se tornaram objeto de cobiça de toda sorte de patifes: homens de negócio inescrupulosos da costa leste, espertinhos progressistas da costa oeste, ambientalistas a soldo de consórcios políticos, corporações poderosas com sede de poder. Todos jogarão sujo, com a máxima deslealdade. Em contrapartida, a família Dutton revidará cada golpe e buscará forças nos valores que defendem há 150 anos e que compartilham com toda a comunidade.
        Comandado por John Dutton (Kevin Costner), o rancho Yellowstone é o maior dos Estados Unidos – uma vastidão de terras que muitos gostariam de ver divididas. Vizinho de uma reserva indígena e de um parque nacional, o rancho sofre ataques de todos os tipos: os legais, daqueles que tentam usar a máquina do estado para promover desapropriações, e os ilegais, de gente que não se importa de invadir, envenenar a água, matar o gado... Jamie (Wes Bentley) o filho advogado, dá conta dos engravatados. Kayce (Luke Grimes), o filho veterano de guerra e Rip (Cole Hauser), o leal capataz, dão conta dos violentos e abusados. Mas é Beth (Kelly Reily), a filha vulcânica e predadora, quem desequilibra o jogo em favor dos Dutton, com sua sagacidade e suas habilidades no mundo dos negócios.
        Violência, artimanhas, tramoias e mais violência. Como cabe em um bom western, Yellowstone mostrará o confronto entre os leais e os covardes, entre os bravos e os patifes. E como também cabe em um bom western, a série não deixará de apresentar romances, encontros, despedidas, dramas familiares, dilemas morais... e muita música country! Veremos um mundo habitado por cowboys e por sujeitos urbanos, por gente moderna e famílias tradicionais, por ricos e pobres, por foras da lei e por interessados em fazer justiça. Filmada em locações em Montana e no Texas, a série também encantará pela exuberância das paisagens.
        O que chama a atenção em Yellowstone é o caráter autoral da sua narrativa. A história foi toda criada na mente de Taylor Sheridan e é ele quem assume a escrita de cada episódio. É claro que os produtores tentaram tomar o controle. Ainda quando era apenas um projeto em desenvolvimento na HBO, os executivos tentaram arregimentar um time de roteiristas, nos moldes do que a indústria pratica com sucesso há anos, em séries como Breaking Bad – lá, Vince Gilligan liderou uma orquestra de escritores afinados. Aqui, porém, Sheridan não arredou pé. Agarrou o controle criativo com unhas e dentes e preferiu encontrar um novo estúdio. Associou-se à Paramount e seguiu como dono da bola. Jogou tão bem que a série explodiu em sucesso. Tanto é que outras duas séries foram criadas a partir dessa: 1883 e 1923, ambas realizadas como prelúdio de Yellowstone, para narrar a saga dos antepassados da família Dutton.
        O cinéfilo atento prestará especial atenção às linhas de diálogo e ao encadeamento ágil das cenas, sempre com pontos de virada pertinentes e precisos. Essa é a marca registrada de Taylor Sheridan, que sabe como poucos expressar os sentimentos de personagens fortes e embrutecidos. É que ele conhece o assunto! Cresceu no Texas e vivenciou de perto o mundo dos cowboys. Apaixonado por cavalos, ele se sente em casa na hora de escrever os roteiros e também de atuar: criou uma ponta em Yellowstone, onde pode usar suas habilidades. É ele quem interpreta o negociador de cavalos Travis.
        Para concluir, quero lembrar que no caso de Yellowstone, a mistura entre realidade e ficção ficou um pouco mais embaralhada na medida em que suas cinco temporadas foram realizadas. Taylor Sheridan decidiu incluir um elemento realista na história: o rancho 6666, o maior do Texas, que em determinado momento passa a fazer negócios com o rancho Yellowstone, que é fictício. Isso trouxe maior dose de verossimilhança à série. Porém, a proprietária do rancho 6666, que viu com bons olhos a oportunidade de promover seus negócios por meio da série de TV, veio a falecer. Por obra do destino, uma proposta de aquisição caiu de bandeja nas mãos de Sheridan, que não perdeu a chance: comprou o rancho 6666! Ou seja, agora ele é o proprietário de um dos maiores ranchos dos Estados Unidos e tem  que se desdobrar para manter a integridade de uma propriedade imensa, que muitos adorariam ver dividida! Na vida, como na arte...

Resenha crítica da série Yellowstone

Ano de produção: 2018
Direção: Taylor Sheridan
Roteiro: Taylor Sheridan
Elenco: Kevin Costner, Luke Grimes, Kelly Reilly, Wes Bentley, Cole Hauser, Kelsey Asbille, Brecken Merrill, Jefferson White, Danny Huston, Gil Birmingham, Forrie J. Smith, Denim Richards, Ian Bohen, Finn Little e Ryan Bingham

Comentários

  1. Sou do tipo que prefere ver a série a história se passa por episódio e não sequência, faz mais ou menos de um ano que eu reparei essa série, mas não quis, mas ao ler esse artigo resolvi assisti.

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    1. Essa série está angariando público desde 2018. Também só decidi assistir recentemente e virei cliente cativo. Vale a pena conferir.

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  2. É uma série muito boa.

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    1. Sim, é muito boa e ousada. Cutuca em assuntos polêmicos e se destaca pelo texto impecável.

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  3. Taylor sheridan provou que é um dos melhores roteiristas da atualidade. Misturou prazer com trabalho. Vale também mencionar outra obra dele : fez Stallone ser um ator de verdade no cativante Tulsa King, outra série de sucesso que se curte com muitas gargalhadas com doses de suspense, violência, humor, drama e reflexão sobre nossa atualidade. Sem o clima pesado de yellowstone. Dê uma conferida, é realmente um produto de TV muito bem acabado com uma trilha sonora soberba.

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    1. Ah, Alexander, obrigado pela dica. Vou conferir com certeza. Taylor Sheridan é um dos grandes roteiristas da atualidade e acompanho seu trabalho com atenção. Abraço!

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  4. Realmente é uma série espetacular, com diálogos enxutos e inteligentes. Adoro !

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    1. Fiquei mal acostumado com tantas linhas de diálogo afiadas. Chego a perder a paciência com filmes escritos com precariedade.

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