Zona de Risco: tiros, drones e tecnologia da comunicação
Zona de Risco: direção de Willian Eubank
UM VISLUMBRE DA MODERNA GUERRA DE DRONES
Quem aprecia um bom filme de ação, já não cai mais nesse tipo de armadilha: colocam na capa, com destaque, o nome de um ator hollywoodiano consagrado no gênero – um com idade avançada – e capricham na foto. Depois de dar o play, você descobre que o tal astro faz apenas uma ponta insignificante, sem qualquer relevância para o conteúdo dramático do filme. Cabe ao restante do elenco, composto por novatos inexpressivos, a tarefa de prender a atenção do espectador. Geralmente não conseguem, porque o roteiro é mal costurado, as linhas de diálogo são óbvias e a trama vem ancorada apenas nas cenas de ação, repletas de clichês.– Puxa vida! Como é que um ator com tão boa reputação veio parar num filme B? – você se pergunta, sem vontade de ouvir a resposta.
Confesso que quando me deparei no serviço de streaming com o filme Zona de Risco, dirigido em 2024 por William Eubank, um arrepio de medo me percorreu a espinha: a foto de um Russell Crowe com sobrepeso me sugeriu a tal arapuca! Será possível que um astro com tantos e relevantes serviços prestados a Hollywood já esteja à beira da aposentadoria forçada? Trata-se de um ator de recursos, que detestaria ver numa ponta insignificante, apenas para atrair bilheteria.
Acontece que o diretor William Eubank já tem no currículo outros filmes de ação, como O Sinal: Frequência do Medo e Ameaça Profunda, que apesar de serem rasos em dramaturgia, alcançam média razoável no quesito entretenimento. Como estava ávido por um filme de ação, apertei o play e não me arrependi. Em Zona de Risco, Russell Crowe tem papel de destaque e divide a tela com Liam Hemsworth, esse sim o ator que enfrenta os tiros, as explosões, as lutas corporais e a violência catártica que esperamos ver transbordar num filme desse tipo. Antes de entrar nos detalhes, vamos examinar a sinopse:
Zona de Risco conta a história do capitão Eddie Grimm (Russell Crowe), um piloto de drone da força aérea americana que recebe a missão de apoiar uma equipe de quatro militares da Força Delta. Eles saltam no sul das Filipinas para tentar resgatar um espião da CIA feito prisioneiro por terroristas do grupo Abu Sayyaf. As coisas dão errado e apenas o sargento JJ Kinney (Liam Hemsworth) sobrevive. Agora, da sua cadeira na base aérea de Nellis, em Nevada, o piloto de drone terá que se desdobrar para ajudar o jovem sargento, que possui um certificado JTAC – Joint Tactical Air Controller, a fugir do local. Tudo vira uma questão de sobrevivência, mas eles contam com um invejável aparato tecnológico à disposição.
Não, o foco aqui não é apresentar com precisão os recursos militares empregados na guerra moderna, nem discutir os novos dilemas éticos que a tecnologia já enseja nos campos de batalha – esses temas foram discutidos com profundidade no filme Decisão de Risco, dirigido em 2016 por Gavin Hood. Zona de Risco assume abertamente a sua vocação para o entretenimento. O que vemos são bandidos inescrupulosos e abjetos, capazes de atrocidades indescritíveis, num esforço desmedido para exercitar o mal. De outro lado, os mocinhos que lutam nas trincheiras do bem estão destinados a vencer, apesar das forças contrárias serem gigantescas.
O que eleva um pouco a nota desse filme é que o diretor William Eubank, que assina o roteiro com David Frigerio, acrescentou dois bons elementos à trama. O primeiro é a verossimilhança com que descreve a tecnologia de comunicação envolvida na guerra de drones. Os realizadores pesquisaram bastante e tiveram acesso a informações fornecidas diretamente pela Força Aérea. Receberam treinamento de especialistas e operaram equipamentos reais. Também interagiram com oficiais que possuem certificação JTAC, acostumados a controlar e coordenar ataques aéreos do solo, para dirigir a ação de aeronaves em operações ofensivas no calor do campo de batalha. Conseguiram um nível de realismo que prende a atenção do espectador.
O segundo elemento é a interação entre os protagonistas, dois militares que não se conhecem, mas estabelecem um forte vínculo, costurado com senso de dever e companheirismo. Estão em cantos opostos do planeta, mas unidos por uma tecnologia de comunicação instantânea, que há alguns anos era inimaginável. O contraponto dramático fica por conta da impessoalidade que tende a contaminar a cadeia de comando, em operações onde os comandantes jamais interagem pessoalmente e se escondem atrás de protocolos cada vez mais automatizados.
Como disse lá no começo, não me arrependi de assistir ao filme Zona de Risco. Como todo filme de ação que se preze, entrega o que promete e traz algumas surpresas. O papel desempenhado por Russell Crowe está longe de ser expressivo em sua carreira, mas sua atuação eleva a qualidade do filme. O restante do elenco também tem bom desempenho. É um thriller de sobrevivência, com cenas de batalha bem realizadas e uma trama que consegue esbarrar nas novas práticas da guerra moderna. Para o cinéfilo ávido por momentos de "entretenimento bélico", fica a minha recomendação.
Resenha crítica do filme Zona de Risco
Título original: Land of BadAno de produção:2024
Direção: William Eubank
Roteiro: David Frigerio e William Eubank
Elenco: Liam Hemsworth, Russell Crowe, Luke Hemsworth, Ricky Whittle, Milo Ventimiglia, Chika Ikogwe, Daniel MacPherson, Robert Rabiah, Jack Finsterer, Lincoln Lewis, Gunner Wright e George Burgess
Os filmes de ação não são meus preferidos, mas com apenas 10 minutos esse filme prendeu minha atenção. Excelente filme, ritmo / direção e o elenco também me agradou e sua crônica vai na mosca, dica excelente
ResponderExcluirAh, muito obrigado. Também gosto dos filmes de ação, mas é muito difícil encontrar boas produções, que consigam ir além da mera ação desenfreada.
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