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O Homem do Castelo Alto: uma série envolvente e distópica

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O Homem do Castelo Alto: série criada por Frank Spotnitz PERSONAGENS BEM CONSTRUÍDOS, NUMA JORNADA DESAFIADORA Você já pensou como o mundo seria tenebroso caso os nazistas e fascistas tivessem saído vencedores da Segunda Guerra Mundial? Philip K. Dick já perdeu noites de sono pensando nos infelizes desdobramentos dessa péssima ideia. Escritor talentoso, tornou-se um dos principais nomes da ficção cientifica, tendo escrito Blade Runner , Minority Report , O Vingador do Futuro , O Vidente e Os Agentes do Destino , entre tantos outros livros que resultaram em adaptações para o cinema. Quando publicou O Homem do Castelo Alto , em 1962, provocou a imaginação do público, descrevendo como as potências do Eixo poderiam ter derrotado os Aliados, conquistando definitivamente a Europa e ocupando os Estados Unidos.           No romance de Philip K. Dick, o infortúnio da humanidade começa quando Franklin D. Roosevelt é assassinado em 1933. Seus sucessores não conseguem tirar os Estados Unidos da G

Ficção Americana: a armadilha dos estereótipos

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Ficção Americana: dirigido por Cord Jefferson CINEMA ENVOLVENTE, ELEGANTE E INTELIGENTE Com o olhar difuso, mirando algum ponto focal dentro da minha mente, bebo outro gole de café. Gesto mecânico que denuncia: estou operando no modo divagação, enquanto tento preencher a tela em branco do computador. Desta vez, meu esforço é para compreender os fatores críticos que me trouxeram até aqui e determinaram a vida que levo. Que estabeleceram quem sou, o que tenho, o que posso, o que me resta... Gostava de pensar que a minha inteligência está no ponto zero. A partir dela, tudo o mais se deriva: meus desejos, meus humores, meus amores, minhas capacidades, meus talentos... Em razão disso, cultivar conhecimento e exercitar os neurônios sempre foram essenciais no meu modo de vida.           Com a idade, percebi que nem todos se medem pela mesma régua. Alguns elegem a fé como ponto zero, outros, escolhem a sensualidade. Há quem considere mais importante ter e exercer o poder, quem priorize o vigor

Campeões: um remake à altura do original espanhol

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Campeões: direção de Bobby Farrelly AUTÊNTICOS, DESCOLADOS E HILÁRIOS – Ora, isso vai ser politicamente incorreto! Ou não? Talvez caia na lacração! O que acha de apertar o play e conferir?           – Já topei! – Ludy não ligou para minha hesitação. Sentiu-se à vontade com a foto promocional de Campeões , filme de 2023 dirigido por Bobby Farrelly com o qual tropeçamos no serviço de streaming. Minha mulher se deixou levar pela curta sinopse e pela promessa de assistir a uma comédia leve e engraçada. Quanto a mim, impliquei com o nome do diretor, um dos irmãos Farrelly, responsáveis por comédias escrachadas de grande sucesso, mas contaminadas de besteirol, como Debi & Loide , Quem Vai Ficar com Mary? e Eu, Eu Mesmo & Irene . Se bem que seu irmão, Peter, já havia feito uma incursão bem-sucedida pelo universo dos filmes mais... sérios, ao dirigir o excelente Green Book: O Guia . Talvez Bobby tivesse gostado da ideia!           De fato, Campeões é uma boa surpresa e merece ser apr

O Estado das Coisas: um filme dentro de outro filme!

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O Estado das Coisas: filme de Wim Wenders PESSOAL, INTIMISTA E REPLETO DE REFERÊNCIAS AO PRÓPRIO CINEMA Dia desses, voltei no tempo. Fui parar em 1982, quando tinha 21 anos e frequentava os bancos da faculdade de comunicação – minha opção era pelo curso de publicidade e propaganda. Minha paixão secreta, no entanto, era o cinema. Então, por que raios não estava estudando cinema? Bem, poderia apresentar aqui um arrazoado completo de desculpas, uma mais convincente do que a outra, que você depois poderia jogar no lixo, sem cerimônia. O fato é que, enquanto me ocupava em ser publicitário, havia muita gente com mais coragem fazendo filmes. Gente por todos os cantos do planeta.           Hoje, com a internet, o planeta é um tiquinho. Naquela época, era colossal! O acesso aos filmes dependia de insistência e sorte. Era muito mais fácil ler sobre cinema e os cineastas do que assistir às suas obras. Vez ou outra, nos cineclubes ou nas casas de amigos mais aristocráticos, tropeçava em preciosida

Assalto ao Carro Blindado: eles passaram para o lado dos bandidos

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Assalto ao Carro Blindado: direção de Nimród Antal NÃO ME VENHAM COM DESCULPAS ESFARRADAS! Todo cinéfilo tem, na manga da camisa, um filme despretensioso, descomplicado e envolvente, que dará como cartada quando quiser encerrar de vez a busca no serviço de streaming, para finalmente poder relaxar diante da TV. Na verdade, tenho vários filmes assim, e um deles é Assalto ao Carro Blindado , dirigido em 2009 por Nimród Antal. O que há de especial nesse filme? Não muito, mas posso citar pelo menos três bons motivos para se render a ele: tem um elenco excelente, traz uma boa história bem contada e cutuca valores pessoais e familiares me precisam ser cultivados nesses nossos dias confusos.           O título do filme já diz tudo: trata-se do thriller policial que tem Matt Dillon, Jean Reno, Laurence Fishburne e Columbus Short à frente do elenco, onde os seguranças encarregados de transportar cifras astronômicas resolvem passar para o time dos gatunos e meter a mão na grana. Por que gosto des

Direto ao Conto - 5

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ESPAÇO-TEMPO O movimento era normal para uma quinta-feira. Pelo adiantado da hora – passando das três – só o que se ouvia eram as canções despudoramente românticas, bem ao gosto dos três casais que insistiam em balançar agarradinhos na minúscula pista de dança. Pelas mesas, os pares eram formados por clientes habituais e garotas de programa, dissolvidos na penumbra enevoada, banhada por uma frouxa luz avermelhada. Renato e Joanes dividiam a mesa mais discreta, num dos cantos com visão privilegiada para todo o interior do estabelecimento. Por certo não eram um casal. Estavam mais para uma dupla, não de cantores sertanejos, mas de comparsas.           – Você acredita em vida depois da morte? – disparou Joanes, mantendo o olhar fixo em algum ponto que apenas ele era capaz de enxergar.           – Sim, acredito. – Antes de continuar, Renato balançou as pedras de gelo no seu copo de uísque e sorveu o último gole. – A alma independe do corpo para continuar sendo o que é. Segue existindo, mes

Ripley: minissérie com suspense em profundidade

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Ripley: minissérie dirigida por Steven Zaillian RETRATO EM PRETO-E-BRANCO DE UM PSICOPATA Afinal de contas, o que é um psicopata? Os especialistas em psicologia levantarão o dedo, bradando definições amparadas nos diagnósticos das várias doenças mentais que afetam o caráter e causam desvios de comportamento. Falarão em atitudes antissociais, rompantes impulsivos e reações violentas... Porém, ressaltarão que, dependendo do contexto, o diagnosticado pode não ser agressivo, nem representar perigo real para outras pessoas.           Já nós, os cinéfilos, reconhecemos de imediato um psicopata: ele costuma transitar pelas histórias mais escabrosas do cinema. É frio, desprovido de empatia e... maligno! Jamais sente remorso ou culpa. É calculista, cruel e quase sempre desempenha o papel do vilão. Um bom psicopata – bom num sentido fático, é claro – é um ingrediente especial em qualquer thriller policial ou de mistério. Vai elevar os níveis de suspense e nos causar arrepios de medo. Vai inclusi

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